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Há tanta vida lá fora

Congresso de saúde mental aborda temas como criminalização de drogas, medicalização e suicídio em quatro dias de programação intensa.
Viviane Tavares - EPSJV/Fiocruz | 11/09/2014 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

Durante a abertura do 4º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, que aconteceu de 4 a 7 de setembro, em Manaus (AM), o presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), Paulo Amarante, falou sobre a importância dessa área para a saúde brasileira e sobre a organização do evento. "Não aceitamos financiamento de laboratórios. Isso faz com que possamos fazer um congresso com liberdade, embora com dificuldades", informou.

Já tratando sobre as temáticas do Congresso, Paulo ainda lembrou-se do fenômeno crescente das comunidades terapêuticas, que se descolaram do projeto inicial. "Não podemos conviver com manicômios. Temos que tomar muito cuidado com novas instituições como as que estamos vendo hoje. Vale lembrar que os hospitais psiquiátricos nasceram assim", recordou e acrescentou: "Hoje, o trabalho está organizado em uma lógica individualista, excludente e produtivista. Temos que romper com isso. Junto a esse rompimento, pensar na questão da cultura e saúde mental".

O Ministro da Saúde, Arthur Chioro, enfatizou o Programa Mais Médicos e do quanto é importante a expansão também da saúde mental. "Estamos vivendo um momento particular de ampliação em todo país. São distâncias geográficas imensas, que precisam despertar nossa criatividade. Não adianta achar que vai dar tudo certo se não levarmos em conta a diversidade, olhar as singularidades" falou o ministro e completou: "Um grande desafio hoje é a questão da logística e da fixação de profissionais. Além disso, é preciso romper com o padrão de consumo de medicamentos que a cada dia aumenta", indicou.

Chioro relembrou a importância do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e indicou que atualmente há mais de 2.000 unidades no país. "A gente vive um período de interiorização. Temos agora CAPs do Oiapoque ao Chuí. Mas, precisamos avançar para que eles sejam 24 horas, além de sair do ambulatorial para o cuidado. Eu posso entender a dificuldade, mas um CAPs não pode fechar às 17 horas na sexta-feira e só reabrir às 8 horas na segunda-feira. A necessidade do cuidado não tem hora marcada", avaliou e apontou: "A saúde tem uma dívida histórica com as pessoas que tem sofrimento psíquico e com os dependentes de uso abusivo de medicamentos. Já é hora de amarramos com cada esfera de governo o que pretendemos para a saúde porque ano que vem teremos a Conferência Nacional de Saúde, e fazermos um pacto por uma sociedade sem manicômios".

A mesa de abertura contou ainda com a presença de representantes da Saúde Mental do estado do Amazonas e do município de Manaus.

A imagem da saúde mental

Na Conferência de Abertura Angelus Novus, proferida por Paulo Amarante, ele apresentou a história da reforma psiquiátrica por imagens, seja em fotografias ou cartazes publicitários. Entre as imagens apresentadas estavam a de um cartaz publicitário com um enfermeiro vestido de boxeador e a frase: "Derruba qualquer doido com um soco só". Outra imagem era uma fotografia com a marca de um corpo na parede de um hospital psiquiátrico, marca essa obtida pela putrefação de um corpo em uma cela na qual fora esquecido durante dias. De acordo com Paulo, o pesquisador Luiz Cerqueira fez um levantamento que constatou que antes da reforma psiquiátrica havia cerca de 100 mil leitos de pessoas com algum transtorno mental. "Não podemos fazer da saúde um negócio, no qual pagamos por produtividade e levamos em consideração os gastos. Desta forma, não conseguiremos libertar essas pessoas", destacou Paulo.