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Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde

Livro publicado pela EPSJV e Expressão Popular traz evidências científicas sobre a relação direta entre uso de agrotóxicos e problemas de saúde.
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 20/04/2015 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

Soja, milho, algodão e a cana-de-açúcar. Somente essas quatro culturas foram responsáveis por 80% dos agrotóxicos consumidos no Brasil em 2013. Maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2008, o Brasil sofre os impactos desse uso de diversas formas, desde os trabalhadores que lidam com os venenos diariamente, passando pelas populações do entorno das plantações e fábricas, até os consumidores finais que se alimentam dos produtos contaminados. Com o objetivo de alertar para esses problemas e mostrar quais as relações entre o uso de agrotóxicos e os problemas de saúde, foi lançado neste mês o ‘Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde’ , publicado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e a Editora Expressão Popular. “O dossiê busca alertar a sociedade e as autoridades sobre a necessidade de políticas públicas que possam proteger e promover a saúde humana e ambiental. A situação é grave, de grande vulnerabilidade e exposição a substâncias tóxicas. O livro reúne informações de centenas de livros e artigos científicos que revelam a correlação direta entre agrotóxicos e problemas de saúde e contaminação ambiental. Essas informações são confirmadas no livro por outras fontes de informação, como relatos e denúncias de agricultores através de cartas”, André Campos Búrigo, professor-pesquisador da EPSJV e um dos organizadores da publicação, que completa: “Por outro lado, além da denúncia, o livro traz o anúncio: a agroecologia é uma realidade em todo o Brasil, precisa ser fortalecida através de políticas públicas. Sem dúvidas esse é o caminho para a promoção de saúde no campo. E a Saúde Coletiva, o SUS, precisam fortalecer relações com o movimento agroecológico”.

A nova publicação traz as três primeiras partes do dossiê, lançadas em 2012, revisadas, além de um capítulo inédito, com uma atualização de acontecimentos marcantes, estudos e decisões políticas, com informações sobre os agrotóxicos, as lutas pela redução dessas substâncias e pela superação do modelo de agricultura químico-dependente do agronegócio, entre 2012 e outubro de 2014. O livro foi organizado por Fernando Carneiro, Lia Giraldo, Raquel Rigotto, Karen Friedrich e André Búrigo, tem ainda projeto gráfico de Bernardo Vaz e ilustrações de Camila Scramin Rigo.

No primeiro capítulo, ‘Segurança Alimentar e Nutricional e Saúde’, são abordados os riscos da ingestão de alimentos com agrotóxicos, o uso massivo de agrotóxicos para a produção de alimentos no Brasil e os desafios para a ciência e as alternativas ao uso dos venenos como a agroecologia. O capítulo propõe ainda dez ações urgentes para o enfrentamento da questão do agrotóxico como um problema de saúde pública como priorizar a implantação de uma Política Nacional de Agroecologia, estimular debates sobre o tema, banir no Brasil os agrotóxicos já proibidos em outros países, proibir a pulverização aérea de agrotóxicos e fortalecer as políticas de aquisição de alimentos produzidos sem agrotóxicos para a merenda escolar, entre outras ações.

No capítulo ‘Saúde, Ambiente e Sustentabilidade’, o livro trata das consequências do agronegócio para os povos do campo e das florestas, a insustentabilidade socioambiental do agronegócio brasileiro e relata alguns exemplos dos impactos do agrotóxico na saúde ambiental em diversas partes do Brasil. A segunda parte aborda ainda a omissão do Sistema Único de Saúde em relação às políticas de enfrentamento dos impactos dos agrotóxicos na saúde e as formas de luta contra os agrotóxicos, como a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, lançada em 2011, e o Fórum Nacional de Combate aos Efeitos dos Agrotóxicos na Saúde e no Meio Ambiente do Ministério Público.

O terceiro capítulo, ‘Conhecimento Científico e Popular: construindo a ecologia de saberes’, traz uma reflexão crítica sobre a saúde coletiva como campo da ciência moderna. Nesta parte, estão ainda 15 cartas de comunidades atingidas pelos agrotóxicos ou que estão construindo uma alternativa agroecológica relatando suas experiências, além de apontamentos de caminhos para a superação desse modelo. Essa terceira parte do Dossiê foi construída por pesquisadores da Abrasco em articulação com outros pesquisadores e, principalmente, militantes da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

No último e inédito capítulo, ‘A crise do paradigma do agronegócio e as lutas pela agroecologia’, o livro aborda questões como a desregulamentação dos agrotóxicos no Brasil, as lutas contra os agrotóxicos na sociedade civil e em instituições públicas, além de trazer com maior fôlego, entre as partes do livro, a trajetória da luta pela agroecologia, exemplos de suas diferentes expressões através de experiências agroecológicas em diversas localidades do Brasil, além de contextualizar e apresentar a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e outras algumas iniciativas de políticas públicas que fazem avançar essa estratégia de promoção de vida no campo.

O livro foi lançado no dia 28 de abril, no Rio de Janeiro, e terá outros lançamentos pelo Brasil em breve. A obra está disponível gratuitamente nos sites da EPSJV e da Abrasco e também pode ser comprada nos sites da EPSJV, da Abrasco Livros e da Expressão Popular.

Veja mais: www.abrasco.org.br/dossieagrotoxicos