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BVS-EPS reúne bibliotecários das ETSUS

Em sua quarta edição, encontro da Biblioteca Virtual em Saúde Educação Profissional em Saúde (BVS-EPS) analisa o trabalho e a educação no atual contexto brasileiro e reúne as escolas técnicas do SUS em torno de suas experiências de pesquisa na instituição
Julia Neves - Secretaria de Comunicação da RET-SUS - EPSJV/Fiocruz | 25/05/2017 15h08 - Atualizado em 01/07/2022 09h45
Foto: Maycon Gomes (EPSJV/Fiocruz)

Trabalho e educação no contexto brasileiro atual deu título à quarta edição do Encontro da Biblioteca Virtual em Saúde Educação Profissional em Saúde (BVS-EPS), realizada em sua sede — na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), no Rio de Janeiro —, nos dias 17 e 18 de maio. Sob os propósitos de discutir a matriz de responsabilidade dos comitês Consultivo e Executivo da BVS-EPS e ouvir as Escolas Técnicas do SUS (ETSUS) sobre suas experiências de pesquisa, o encontro reuniu bibliotecários e representantes de 31 das 41 escolas técnicas que integram a Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS).

A primeira mesa de debate, com foco no tema central, contou com a presença dos professores Gaudêncio Frigotto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), José Rodrigues, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e da vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV, Marcela Pronko. Segundo observação de Frigotto, há uma apropriação pelo setor privado do conhecimento e da ciência e, consequentemente, a redução da necessidade de inclusão no trabalho. “Quando analisamos a relação entre trabalho e educação, no contexto específico da sociedade, percebemos quem tem acesso ao estudo. No Brasil, por exemplo, não há ensino médio com qualidade para o trabalho complexo, que incorpore conhecimento”, reconheceu o professor, destacando, por outro lado, o ensino médio da EPSJV como uma experiência exitosa. “É um ensino que prepara o jovem para que ele leia um texto e o interprete, provocando o aluno a identificar outros pontos de vista”, elogiou. Para Frigotto, o ensino ofertado pela EPSJV implica uma dupla cidadania, ou seja, o domínio da ciência e do conhecimento. “Este é o conceito de politecnia, pois permite transferir o conhecimento de um campo a outro rapidamente”, acrescentou.

Frigotto fez crítica, ainda, às proposições apresentadas pelo governo de Michel Temer, com destaque para a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, aprovada pelo Senado Federal em fevereiro deste ano, congelando os gastos públicos por 20 anos, as reformas Trabalhista e da Previdência e a do Ensino Médio. “Essas reformas são criminosas. É golpe mortal contra a classe trabalhadora. Regredimos e perderemos qualquer direito”, examinou.

Coube a José Rodrigues lembrar pessoas e instituições históricas pela contribuição que deram com a distribuição do conhecimento. Ele mostrou algumas fotos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de seus criadores e entusiastas, bem como de certas contradições, como uma foto de uma criança tomando banho no rio poluído ao lado do “templo da ciência”, como ele se referiu à Fiocruz. Com trechos de textos de filósofos e relembrando diferentes acontecimentos no campo da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento e Saúde, Rodrigues questionou: “Para quem nós trabalhamos? O que estamos fazendo aqui hoje?”. Ele observou que a sociedade precisa aprender com a história da produção e da distribuição do conhecimento.  Em relação à BVS, Rodrigues reconheceu que a distribuição do conhecimento não é neutra. Segundo ele, na Era da Informática, há possibilidades de organização do saber que não existiam no passado. “Na biblioteca virtual existe uma imensa possibilidade de organização que a biblioteca física não nos permite. Mas também pode acontecer o contrário e esconder tudo o que interessa. Mas interessa a quem? Essa é a pergunta fundamental”, finalizou.

Dívida pública

Mediadora do debate, Marcela Pronko falou sobre os constrangimentos que se apresentam para a nova gestão publica, destacando o repasse dos recursos da riqueza que os trabalhadores produzem para uma fração pequena da sociedade, que é o capital financeiro. “Isso vem sugando a nossa capacidade de trabalho e a própria sobrevivência, pois esgota a possibilidade de se ter saúde e educação públicas de qualidade”, considerou, evidenciando dados da Auditoria Cidadã da Dívida Pública. “Segundo análise para 2017, que previa um total de R$ 3,399 trilhões de reais como parte do orçamento público brasileiro, metade dos recursos que produzimos com o trabalho e vão para o fundo público, por meio do pagamento de impostos diretos e indiretos e taxas, servirá para pagar juros e amortizações da dívida brasileira”, criticou. Segundo ela, isso já acontece há mais de 15 anos.

A análise de Marcela foi corroborada por Frigotto. Para ele, a dívida pública é a maior corrupção observada. “Isso reverbera em diversos setores, como na biblioteca que não chega o livro ou no aluno que não tem o livro, porque o pai está desempregado”, exemplificou o professor, que acredita que é hora de a sociedade se unir e se mover em busca de mudança: “Os movimentos sociais chegaram à conclusão que a única saída é lutar, e a sociedade também está se movendo nesse sentido. A teoria é importante, mas agora é hora de decisão, em defesa do ensino médio de qualidade e do direito à saúde pública”, realçou.

Acesso à informação

A segunda mesa de debate, sob o título O papel dos recursos educacionais abertos no acesso à informação científica em saúde, por sua vez, reuniu Luciana Danielli, coordenadora das Bibliotecas Virtuais do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), e Valéria Machado Costa, da Seção de Comunicação do Icict/Fiocruz.
No contexto geral do surgimento da BVS-EPS, Luciana destacou a demanda constante das bibliotecas para formação permanente de bibliotecários e usuários das bibliotecas e a necessidade de promover a operação cooperativa e descentralizada da rede de fontes de informação científica e técnica em EPS, visando facilitar o uso das informações atualizadas e relevantes reunidas na BVS, por meio do acesso das bibliotecas das ETSUS. “Os recursos educacionais abertos, parte do trabalho da BVS-EPS, servem para facilitar a alimentação e o uso da informação da produção das escolas técnicas aos usuários de uma maneira geral. Por ser virtual, a BVS atende ao usuário 24 horas, sete dias na semana, sem interrupção de horário”, sublinhou Luciana.

Segundo ela, a BVS-EPS tem como propósito ser uma biblioteca temática e um espaço independente da sua localização geográfica. “Além disso, a instituição promove o acesso à informação registrada, organizada e armazenada em formato eletrônico no campo da educação profissional em saúde entre trabalhadores, discentes, docentes, gestores dos sistemas de saúde e de educação e pesquisadores em educação e saúde”, acrescentou.
Luciana e Valéria apresentaram, ainda, os resultados da pesquisa realizada pelos trabalhadores que integram a BVS-EPS em relação ao uso que as ETSUS fazem dos recursos educacionais abertos. Segundo elas, 85% das escolas têm site e, desse total, 20% não têm espaço para biblioteca. “Das 34 escolas que têm site, somente cinco têm algum tipo de material didático. Das cinco, somente a EPSJV conta com recursos educacionais abertos”, revelaram as especialistas. Como proposta, Valéria sugeriu que as ETSUS adotassem um mesmo modelo de biblioteca em seus sites, facilitando a busca. “Seria interessante ter um mesmo layout, um modelo de páginas que pudesse ser utilizado por todas as escolas. A biblioteca ficaria sempre no mesmo lugar”, orientou.

Por Júlia Neves, repórter da Secretaria de Comunicação da RET-SUS

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