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Quais são as opções para o próximo governo cumprir a meta de zerar a fila do SUS?

Uma das promessas de campanha do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para a área da saúde é zerar a fila do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo foi exposto diversas vezes ao longo do processo eleitoral.

Durante a transição, o governo eleito vem dando sinais de como pode atuar para cumprir a tarefa. No planejamento estão mutirões de atendimento e a recuperação de programas.

Além disso, no início do mês, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que existe a possibilidade de parcerias com a rede privada de atendimento.

A preocupação com a fila de espera do SUS se justifica. O déficit de procedimentos (cirurgias) supera um milhão, aponta nota técnica  - documento feito por especialistas com a análise completa de todo o contexto, incluindo  histórico e o aspecto legal - elaborada por pesquisadores do MonitoraCovid-19 e do Projeto de Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde (Proadess), iniciativas vinculadas ao Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz).

Desde que a pandemia começou o número de atendimentos clínicos, procedimentos cirúrgicos, exames e diagnósticos atrasados aumentou consideravelmente. Hoje, eles representam risco alto de agravamento de casos e aumento de mortes evitáveis.

De acordo com a pesquisa da Fiocruz, o período entre março, abril e maio de 2020 – início da pandemia - apresentou alto número de procedimentos não realizados.

Houve recuperação desse cenário nos primeiros meses de 2022, mas o passivo de atendimentos ainda é muito alto.

Segundo pesquisador da Fiocruz Diego Xavier, um dos responsáveis pela nota técnica, mudar o cenário exige investimento.

“Nós temos condições sim de reduzir esse passivo que ficou acumulado por conta da pandemia. Temos que buscar alternativas. Isso passa, principalmente, pelo planejamento e pelo e pelo orçamento. O SUS vai precisar de maior financiamento, vai precisar de mais dinheiro para conseguir dar conta desse passivo.”

Mutirões

Além de estar nos planos do novo governo, zerar a demanda represada no SUS é uma medida considerada essencial por organizações do setor. Desde o ano passado o Conselho Nacional de Secretários de Saúde já apontava a necessidade de diminuir o total de procedimentos atrasados pela pandemia.

O esquema de mutirões, mencionado na campanha e ao longo da transição, é uma experiência já em prática em alguns estados. Diego Xavier defende o diálogo com governos estaduais e municipais.

O pesquisador ressalta que o trabalho em rede reafirma a integralidade do SUS. Para responder às demandas, é preciso considerar a regionalização e a hierarquia do sistema.

“O SUS é muito capilarizado, então precisamos ter uma conversa bastante próxima com os governos estaduais, com prefeitos, secretários de saúde, para buscarmos alternativas para resolver esse problema. Essa descentralização do SUS também é um dos gargalos importantes. Precisamos pensar em rede, reestruturar a nossa rede de atenção. É uma coisa que não fizemos durante a pandemia.”

O tamanho da fila

Xavier afirma que é preciso reunir mais dados sobre a demanda reprimida para entender que soluções podem ser aplicadas e se é possível zerar o atraso de procedimentos.

O pesquisador explica que o sistema ainda não alcança todos os pacientes que ficaram doentes na pandemia, não buscaram atendimento e ainda estão nessa situação.

“Temos que entender que é muito difícil quando falamos em fila, porque esse cálculo não é simples. Conseguimos fazer alguns levantamentos e entender o que o SUS deixou de fazer, em função do que ele fazia antes da pandemia, mas esse cálculo não é simples. Isso é um ponto técnico importante.”

Segundo ele, é possível estimar uma demanda potencial, o volume de procedimentos que, em tese, terão que ser realizados, porque não foram anteriormente. Com base no que era feito antes da emergência sanitária, fica explícito que muito ficou para trás.

“Supondo que consigamos retomar os níveis de procedimentos que tínhamos anteriormente à pandemia e ainda dar conta do que não fizemos, estaremos falando sim em diminuir uma fila, mas no fundo, voltar a um estágio de antes da pandemia. Para realmente diminuir uma fila precisamos de informações mais detalhadas e sistemas mais integrados, para entender o que estamos chamando de fila.”

Edição: Rodrigo Durão Coelho

Por: Juliana Passos e Nara Lacerda, do Brasil de Fato

Categoria(s):

Repórter SUS