Raquel Torres
(Matéria publicada na Revista Poli nº 12 )
Quando Marco Aurélio Torres entrou na escola, no início da década de 1960, tinha cerca de 11 anos. Ele nasceu surdo e, ainda criança, foi diagnosticado como ‘mongolóide’ – o termo, comum até os anos 1980, era usado para designar pessoas com deficiência intelectual. p; “O médico aconselhou que o Marco fosse encaminhado para uma escola especial”, conta sua mãe, Maria das Dores. Na escola, que recebia alunos com todo o tipo de deficiência, o menino não chegou a aprender a língua de sinais: a instituição era voltada para a oralizacão e Marco estudava leitura labial, fazia exercícios de fonoaudiologia para começar a falar e chegou a aprender a escrever algumas palavras. Por conta de problemas pessoais, teve que deixar aquela escola. Num tempo em que havia poucos locais especializados e alunos com deficiência não eram aceitos pelas escolas regulares, Marco passou a maior parte da infância e juventude fora da escola – acabou não aprendendo a ‘falar’ nenhuma língua e hoje se comunica por meio de um gestuário próprio.
Essa é até hoje a realidade da maior parte dos surdos no Brasil, segundo Tanya Felipe, linguista e assessora educacional da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). De acordo com ela, há mais de 760 mil surdos em idade escolar no Brasil, dos quais apenas cerca de 56 mil estão nas escolas – e só 2 mil chegam a concluir o ensino médio. E não se trata apenas de um problema dos surdos: o último Censo, realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o país tem cerca de 25 milhões de pessoas com deficiências físicas, sensoriais ou intelectuais – quase