Há quem pense que a palavra “Politécnica” no nome da EPSJV refere-se às formações técnicas que a Escola oferece. E embora uma das definições para o termo seja justamente essa (poli é um prefixo de origem grega que significa várias, logo, politécnica seriam “várias técnicas”), aqui na Escola essa palavra foi escolhida por ser a base teórica a partir da qual tudo vem se construindo desde 19 de agosto de 1985: o da politecnia. Segundo esse conceito, o trabalho deve ser pensado como princípio educativo, isto é, entendendo que ele dá materialidade às contradições que estão postas na sociedade, deve possibilitar que o cidadão possa entender e agir sobre sua realidade, tornando-se, assim, objeto de discussão no âmbito da educação. Para isso, é necessário que se pense no aluno – e na formação para o trabalho – de forma integral, garantindo acesso às ciências humanas, à arte, à cultura e à formação técnica, mesmo para aqueles que não têm oportunidade de seguir seus estudos após o ensino médio. Nesse sentido, a politecnia orienta um projeto pedagógico que procura problematizar a chamada dualidade educacional, que sempre marcou a história das políticas educacionais no Brasil: uma formação para filhos da classe média e elite, e outra formação para os filhos da classe trabalhadora. “Trata-se exatamente de fornecer fundamentos científicos, técnicos, culturais, inclusive estéticos, se for o caso, que permitam a este aluno compreender os processos produtivos e entender as relações sociais”, explica o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gaudêncio Frigotto, que participou da criação da EPSJV. Frigotto conta que a Escola Politécnica se tornou pioneira neste sentido. “Ela é a primeira escola do Brasil [a adotar esse conceito], e, ainda hoje, uma referência nacional onde este debate foi experimentado, com todos os problemas e contradições, como qualquer instituição humana”, afirma.
A Escola Politécnica foi criada em um contexto de redemocratização do país. Após 21 anos de uma ditadura empresarial-militar, período em que o ensino técnico profissionalizante assumiu uma ótica instrumental e utilitarista, com o objetivo de atender às necessidades do mercado, havia uma efervescência no campo político, social e intelectual, com diversos projetos que buscavam reescrever as bases do país por uma lógica mais democrática. Esse movimento era percebido especialmente nos campos da saúde e da educação. O movimento da Reforma Sanitária, nascido na década de 1970, com o objetivo de superar um modelo excludente e segmentado de atenção à saúde no Brasil, e que teve a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como uma de suas principais conquistas, trazia como necessária uma reformulação do sistema de saúde do país. Também, ao enfatizar a saúde como um direito social, levantava a necessidade de um quadro qualificado de profissionais técnicos em diferentes áreas da saúde pública, trabalhadores que eram, à época, e permanecem até hoje uma parcela significativa da força de trabalho em saúde no Brasil.
Paralelamente, a década de 1980 foi marcada por um intenso debate pautado em uma pedagogia histórico-crítica. Essa pedagogia foi elaborada no fim da década de 1970 pelo professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Dermeval Saviani, um dos intelectuais que promoveu uma maior articulação teórica entre o conceito de politecnia e a educação brasileira. Saviani entende que a escola não é neutra e está inserida em uma disputa entre classes sociais; por isso, é importante que ela ensine a todos os alunos ciência, arte, filosofia e cultura, entendendo que é com esse arsenal que este estudante poderá entender e transformar a realidade. Para ele, a educação deve ser também contrária ao tecnicismo, ou seja, defender uma formação omnilateral do ser humano. E o que essa ominilateralidade quer dizer? Ela vem da ideia de desenvolver a pessoa em todas as suas dimensões: intelectual, física, cultural, técnica e social. Não apenas visando ao trabalho, mas para que possa compreender a vida de forma ampla. Em outras palavras, seria como pensar que, com uma única peça de um quebra-cabeça é impossível ter noção do que está sendo montado; mas é só com o todo que se vislumbra a imagem completa.
Essa luta contra o tecnicismo se refletia nas inúmeras Conferências Brasileiras de Educação (foram cinco na década de 1980), que traziam como objetivos romper com uma fragmentação entre o trabalho intelectual e manual, a partir de uma visão da politecnia. Entre as principais discussões estavam a educação como um direito e sua ênfase como caminho para a transformação social.
Foi em meio a este cenário fértil que a Escola Politécnica foi criada. Voltada à formação de trabalhadores de nível médio e elementar em saúde (categoria de profissionais com formação básica ou de nível fundamental, que atuavam na linha de frente do sistema de saúde), a Escola se distanciava de uma proposta de educação tecnicista. A professora-pesquisadora aposentada da EPSJV e atual professora da Uerj, Marise Ramos, reforça que, a partir da politecnia, o trabalho é entendido em seu sentido ontológico, ou seja, como a atividade que produz a própria existência humana e, consequentemente, todo o conhecimento e a cultura. “Então não se trata de colocar o estudante para trabalhar, mas de usar o trabalho como um princípio filosófico e pedagógico”, justifica.
A partir deste entendimento, a Poli, como é carinhosamente conhecida a Escola Politécnica (ou “o” Poli, como chamam aqueles que conhecem a instituição há mais tempo), determinou como seu objetivo principal fomentar a Educação Profissional em Saúde, concebendo a educação como um projeto de sociedade. Para a diretora da EPSJV, Anamaria Corbo, “é através de uma educação que confronta as distintas dimensões e contradições do mundo do trabalho e do cotidiano concreto dos indivíduos, que é possível a compreensão das diversas relações de opressão que precisam ser superadas em uma perspectiva de transformação da vida social. É neste sentido que, através de uma prática educativa emancipatória, se concebe um projeto de sociedade assumido coletivamente”, explica.
Loucura sábia
Foi em uma mesa de bar em Bonsucesso, no Rio de Janeiro, que a ideia de criação da Escola surgiu. Em entrevista ao Portal EPSJV, em agosto de 2005, o Professor Emérito da Fiocruz, Arlindo Fábio, que estava presente, contou que o então professor da Fiocruz Luiz Fernando Ferreira apresentou a ideia ao sanitarista Sergio Arouca, que à época presidia a Fiocruz. “Queria dar oportunidade a meninos que estavam em colégio conhecerem e aprenderem como funcionam um laboratório e a pesquisa científica’, recorda. Nesta mesma época, Saviani havia organizado um curso de doutorado em São Paulo em que se discutia a sociedade, a educação e a cultura desde uma perspectiva histórico-crítica, tendo como base autores como Karl Marx, Antonio Gramsci e Vladimir Lênin. Gaudêncio Frigotto, que havia feito o doutorado e trabalhava na pós-graduação do Instituto de Estudos Avançados em Educação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) relembra que alguns de seus orientandos eram da Fiocruz e, à certa altura, o indagaram: “A Fiocruz é uma potência com doutorado, pesquisa, fábrica. Só o que nós não temos lá é uma escola de nível médio. E me perguntaram se eu topava ajudar”, conta.
Assim foi criado o Politécnico da Saúde Joaquim Venâncio, homenageando em seu nome um dos trabalhadores técnicos da instituição que mais contribuiu com a ciência a partir de seus conhecimentos e de seu trabalho como assistente do sanitarista Adolpho Lutz no Instituto Oswaldo Cruz no início do século 20. Marise Ramos relembra que Arouca havia retornado da Nicarágua, onde conheceu experiências chamadas “politécnicos da saúde”, escolas inspiradas em modelos soviéticos de “escolas de trabalho”, que tinham como intuito integrar ensino e prática sob uma lógica socialista. Ou seja, o modelo adotado pela Escola foi influenciado por outros que integravam educação, trabalho e emancipação, mas adaptados ao contexto brasileiro. Anos depois, em 2003, no 18º aniversário da EPSJV, Arouca falaria sobre ideia de criar uma escola de ensino médio técnico na Fundação. “O Politécnico é fruto da criatividade, do jogo de prazer e da loucura… uma loucura sábia”, disse.
O filósofo italiano Antonio Gramsci, que aprofundou os estudos de Marx sobre politecnia no início do século 20, falava de uma escola unitária , em que houvesse um equilíbrio entre os campos das ciências da natureza, das ciências sociais e humanas, das artes, da literatura. Para que se pudesse viver em sociedade, não apenas respondendo às demandas do mercado de trabalho. A partir dessa teorização, Gaudêncio Frigotto aponta que o diferencial da EPSJV foi propor a formação omnilateral, integrando trabalho manual e intelectual, ciência e cultura, em vez de limitar-se a treinar mão de obra. “Este jovem que trabalha depois na área da saúde, se ele não entender um pouco de psicologia humana, da história humana, da cultura humana, faltará a ele, digamos, uma base. Por isso que se chama educação básica, é a que dá base”, pontua.
Vale destacar que, de início, o “Politécnico da Saúde”, nomenclatura que só mudaria em 1989, quando a instituição se tornaria “Escola Politécnica”, não tinha um currículo muito similar ao que se verifica hoje. Suas atividades começaram em duas frentes: uma voltada a cursos específicos no âmbito da unidade, como o de Manutenção de Equipamentos Básicos de Laboratório e o de Agente de Saúde em Alcoolismo; outra em parceria com instituições nacionais e internacionais, tais como o Curso de Formação de Agentes de Saúde Pública, junto com a Secretaria Estadual de Saúde e Higiene (SESH/RJ) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Curso de Registros Médicos e Estatística de Saúde com a Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde (SNPES/MS/OPAS), somadas ainda às ações voltadas para as demandas internas da própria Fiocruz.
Se neste momento a politecnia era mais um horizonte a se alcançar, dois anos após a criação da Escola, um evento começaria a assentar teoricamente as bases deste caminho a ser percorrido. Em 1987 foi realizado o Seminário “Choque Teórico”. Fundamental na construção do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da Escola, o encontro articulou teoria e prática de acordo com uma ótica politécnica. Frigotto observa que o Choque Teórico era exatamente para se ter a compreensão das bases conceituais teóricas que iriam orientar a instituição. “Então, um dos temas ali foi a questão da politecnia. E, evidentemente, os conceitos eram muito desconhecidos. Eram conceitos de um debate, digamos, da Academia”, conta. No PPP consta que “este afirmou a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio como um espaço de criação, questionamentos, crítica e produção intelectual e material, comprometido com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e com o desenvolvimento científico e tecnológico em Saúde, tendo o trabalho como princípio educativo”.
Passos atrás
Nos anos 1990, o avanço do neoliberalismo trouxe impactos diretos para a educação profissional, tornando a politecnia um caminho ainda mais desafiador. Em 1996, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394), na qual a educação profissional foi reduzida a poucos artigos, e ainda, como uma modalidade separada dos outros níveis de ensino. Marise Ramos explica que, dessa forma, a histórica fragmentação da educação brasileira e a dualidade entre formação geral e formação técnica foram mais uma vez reforçadas, ao invés de, justamente, promover uma integração politécnica.
Na sequência, o Decreto 2.208/1997, que regulamentou a educação profissional prevista na LDB, aprofundou ainda mais a separação entre o ensino médio e o ensino técnico – impedindo a educação integrada ao ensino médio que a Escola executava, desde 1988, quando tiveram início os Cursos Técnicos de 2º Grau. Porém, a partir do decreto, as instituições só poderiam ofertar o ensino técnico concomitante (quando se cursa os dois ao mesmo tempo, mas sem uma integração entre os currículos) ou subsequente ao ensino médio, o que ia de encontro ao que era defendido pela instituição. Esse contexto colocou a EPSJV diante de um dilema: marcada por tensões internas, a Escola implementou a reforma, representando um distanciamento de seu projeto original de politecnia. “Até o fim dos anos 1980, a educação era entendida, do ponto de vista das revoluções burguesas, como a instituição de conhecimento e de educação, para que as pessoas pudessem conviver na diversidade da sociedade. A partir dos anos 1990, a referência não é mais a sociedade, é o mercado”, explica Gaudêncio Frigotto.
Apesar dos ventos contrários, a EPSJV seguiu se fortalecendo como referência nacional em educação profissional em saúde, ampliando também sua inserção em pesquisa, extensão e produção crítica. Um marco fundamental na educação foi a revogação do Decreto 2.208/1997, substituído pelo Decreto 5.154/2004. Marise Ramos, que a época era diretora de Ensino Médio no Ministério da Educação (MEC), ressalta que a revogação recolocou a integração curricular no centro das diretrizes nacionais. Ramos avalia ainda que era “a forma historicamente possível de concretizar a politecnia no Brasil”. “O decreto foi um divisor de águas no debate educacional no Brasil porque nos recolocou na década de 1980. O que foi chamado pelos conservadores de década perdida foi, para nós, a década mais rica, porque foi a década da formulação, da esperança”, relembra. E complementa: “Eu escrevi umas quatro, cinco, talvez seis versões do decreto, porque foi um debate muito intenso, principalmente com o segmento privatista. Eram muitos anos já de reforma”.
Ainda que em 2004 a Escola tenha retomado o ensino integrado, central para a concepção politécnica, na década de 2000 a formação profissional no Brasil seguiu orientada, sobretudo, pelas exigências do mercado. Iniciativas como o Pronatec, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, do governo federal, que têm como objetivo ampliar o acesso à educação profissional e tecnológica para jovens e adultos e a expansão dos cursos oferecidos pelo Sistema S (Senai, Senac, Sesc, Senat, entre outros) trouxeram aspectos de uma educação profissional mais voltada a suprir necessidades pontuais do setor produtivo, com cursos rápidos e formações, muitas vezes, desarticuladas do ensino básico. O foco, assim, se voltava mais ao atendimento de demandas econômicas do que à construção de processos formativos amplos e emancipatórios – bem distante da politecnia pretendida pela EPSJV.
Neste interim, em 2005, foi publicado o Projeto Político-Pedagógico da Escola Politécnica, construído ao longo dos seus primeiros 20 anos. O documento, que reforça seu compromisso com uma formação crítica e emancipatória, baseada na integração entre ensino, pesquisa e extensão, além de defender a politecnia e o trabalho como princípio educativo, tem sido um eixo orientador para fazer frente às diversas crises e políticas de austeridade que já impactavam a educação e a saúde. Ele também tem apontado rumos para que a EPSJV pudesse enfrentar outros desafios, como a Emenda Constitucional 95/2016, conhecida como “teto de gastos”, que afeta diretamente o financiamento da educação e da saúde, e para a Reforma do Ensino Médio em 2017, que flexibilizou o currículo escolar, criando itinerários formativos e enfraquecendo determinadas disciplinas. Dessa forma, indo contra tudo aquilo que vem sendo defendido pela Escola Politécnica.
A Poli hoje
A EPSJV é hoje uma unidade técnico-científica da Fiocruz que conta com 334 profissionais e cerca de 700 alunos. Ela reafirma diariamente seu papel estratégico na formação de trabalhadores para o SUS, fortalecendo alianças com movimentos sociais e sindicais, além de sustentar a politecnia como balizadora de suas ações, ainda que em meio às disputas políticas e educacionais.
Hoje, a atuação da Escola se caracteriza por organizar e colocar em prática iniciativas formativas voltadas para campos estratégicos da saúde pública e da ciência e tecnologia em saúde; a formulação de propostas relacionadas a políticas, normas, currículos, cursos e metodologias, além da criação de recursos educacionais inovadores; ao mesmo tempo em que se dedica à produção de conhecimento e à sua difusão, especialmente nas interfaces entre trabalho, educação e saúde. Dessa forma, realiza formações na Atenção e na Vigilância em Saúde; em técnicas laboratoriais; manutenção de equipamentos; informações e registros de saúde; formação inicial e continuada; pós-graduação; além de uma educação profissional em nível técnico em saúde integrada ao ensino médio. Formações variadas que, apesar de disputas conceituais e institucionais, permanecem alinhadas a um projeto de educação emancipatória.
Para a vice-diretora de Ensino e Informação da EPSJV, Márcia Valéria Morosini, a principal particularidade no âmbito da formação técnica no ensino médio da Escola é essa articulação entre os currículos. “É uma integração que busca uma formação integral da classe trabalhadora que vai atuar no campo da saúde. E entendendo a Escola Politécnica para muito além do ensino médio integrado, em todos os âmbitos em que se faz educação na Escola, essa mesma perspectiva precisa nos mover, nos orientar”, afirma. Marise Ramos também ressalta que a presença de componentes integradores nesta etapa da educação básica reforça a politecnia presente na instituição. É o caso do IEP, Introdução à Educação Politécnica, um componente curricular estruturado a partir de quatro eixos teóricos: trabalho, política, ciência e saúde (e que perpassa a vida do aluno de ensino médio na Escola Politécnica), e o PTCC, Projeto Trabalho, Ciência e Cultura, um Trabalho de Conclusão de Curso que articula ciência, cultura e trabalho em uma perspectiva crítica.
O aluno de ensino médio e presidente do Grêmio Estudantil da EPSJV, André de Paiva, conta como é essa vivência. “Formar um cidadão não é ele ficar estagnado e ficar só replicando aquilo que o seu professor ou a sua professora passa de sala de aula, sendo só um ouvinte. A forma integral faz com que ele seja participante ativo de cada aula e que conecte aquilo que ele está vivendo no mundo de hoje com aquela matéria. Essa forma de educação vai para muito além das salas de aula e atravessa o cotidiano de vários estudantes dessa instituição”, reflete o aluno.
Apesar do reconhecimento, a professora da Uerj, Marise Ramos, defende que a politecnia não deve se restringir ao ensino médio. “Tanto antes do ensino médio, quanto nos cursos depois, que não são da formação básica, ou mesmo no ensino superior, esta unidade entre os fundamentos científico-tecnológicos e as suas dimensões sócio-históricas, que caracterizam uma formação integral na perspectiva da politecnia, pode estar presente”, diz Ramos, ponderando, no entanto, que é no ensino médio que “as ciências adquirem a sua correlação com o mundo produtivo de forma mais clara”. Apesar disso, ela traça caminhos variados. “Eu costumo dizer que em processos formativos em que o trabalho já é uma prática, é importante buscar um certo afastamento do pragmatismo ‘do fazer’ e olhá-lo em perspectiva crítica, distanciando-se relativamente. Enquanto em processos em que o trabalho não está presente ainda de uma forma diretamente prática, deve-se proporcionar uma aproximação nesse sentido, fazendo uma convergência para chegar ‘no mesmo lugar’, no mesmo eixo”, esclarece.
A diretora da EPSJV concorda: “Talvez seja esse o grande desafio que temos na Escola: a garantia da integração, no currículo, dos conhecimentos gerais e dos específicos em cada modalidade de curso, de modo a garantir a nossa intencionalidade educativa”, afirma Corbo.
Já para o professor-pesquisador aposentado da EPSJV, Marcio Rolo, a parceria com os movimentos sociais, em especial o MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, é a dimensão mais importante e potente da atuação da Escola Politécnica. “Numa determinada altura, os movimentos sociais, o MST especialmente, começaram a bater na porta da Fiocruz e de outras universidades, dizendo: ‘somos parte desse Estado, a gente contribui com o nosso trabalho, paga impostos etc. O que vocês têm para a gente?’. A primeira resposta foi: nada. Mas aí, com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), várias universidades e instituições se abriram para responder a esse desafio e criaram cursos”, relembra. “Do meu ponto de vista, isso é o mais importante: as parcerias com os movimentos sociais. Ampliou o campo de atuação das instituições como um todo, não só da Fiocruz”, complementa Rolo.
Pesquisa como princípio educativo
Hoje, a Escola Politécnica oferece além da formação técnica integrada ao ensino médio nas habilitações de Análises Clínicas e Biotecnologia, cursos de aperfeiçoamento, atualização profissional, especialização, qualificação, e ainda, um mestrado profissional. Para Morosini, a EPSJV mantém-se como referência nacional neste aspecto, não só pela sua experiência acumulada, mas porque sempre pensou a formação a partir de uma perspectiva crítica. “Ela vem tentando desconstruir as estratégias que promovem a perpetuação de uma dualidade, que, entre outras coisas, entende que os trabalhadores que vão se formar técnicos não precisam entender de história, geografia, política, filosofia, porque a eles não está reservado o espaço de dirigente”, explica a vice-diretora da EPSJV.
E se, para que uma educação seja politécnica, segundo Dermeval Saviani, ela deve articular variadas dimensões do conhecimento, a pesquisa também deve ser entendida como princípio educativo. Para a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Angélica Fonseca, isso significa “estar se filiando, em primeiro lugar, à ideia de que conhecimento não é transmissão. É uma construção crítica onde o sujeito tem que estar ativo. E ainda, afirmar esse lugar de elaborar perguntas e construir processos de coleta de informação, de análise, de associação de referências teóricas e conceituais”, defende.
Também neste sentido, a Escola propõe que seus docentes sejam professores-pesquisadores. Morosini detalha a importância desta escolha: “A gente precisa estar o tempo inteiro experimentando, se incomodando com aquilo que a gente já faz, vendo os efeitos e os resultados daquilo para a realidade, para a formação. Isso é o processo de investigar e ensinar ao mesmo tempo. E é um pouco um convite que a gente faz para os próprios estudantes”. Além disso, a EPSJV busca condições para que o docente desenvolva investigações articuladas ao ensino, como ocorreu com o Programa de Fomento ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Educação Profissional em Saúde, um projeto interno da Escola Politécnica que impulsionou 18 projetos internos nos eixos “Iniciação científica e formação para o trabalho”; “Educação Profissional em Saúde: egressos, processos formativos, práticas de ensino-aprendizagem”; e “Trabalho, educação e saúde: questões para a formação e inserção profissional”.
Unindo a educação e a pesquisa, a coordenadora da Pós-Graduação em Educação Profissional em Saúde da EPSJV, Ialê Falleiros, entende o mestrado na Escola como fundamental para consolidar a politecnia. “A gente quer tensionar esse campo justamente para que ele seja mediado, onde as pessoas tenham uma formação que possa levá-las aos nossos quatro objetivos interligados: o papel de ensinar a pensar, a estudar, a dirigir e a controlar quem dirige”, afirma, rememorando os ensinamentos de Gramsci.
Essa experiência no mestrado, inclusive, tem se expandido nos últimos anos. Em 2023, por exemplo, teve início uma turma especial em Cacoal (RO). Já em 2025, abriram inscrições para uma nova turma para países africanos de língua portuguesa, voltada a Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. “É, novamente, um aprendizado. A proposta ajudar a estruturar a Escola Nacional de Saúde Pública de Moçambique, então a gente vai formar quadros para essa Escola: dirigentes, organizadores, que vão também ser docentes, mas vão estruturar o currículo dessa instituição e definir as linhas de trabalho”, conta Falleiros.
Cenário difuso
Pensar em um conceito de Marx, criado no século 19; depois adaptado por Gramsci, no início do 20; e mais tarde aprofundado por professores críticos como Dermeval Saviani, Gaudêncio Frigotto e Marise Ramos, nos anos 1980, requer ajustes e debates para dar conta das especificidades temporais e sociais. Para que a politecnia não se torne desvinculada dos princípios e compromissos assumidos no dia a dia, Márcia Valéria Morosini aponta a necessidade de não descolar o trabalho da realidade em que ele se desenvolve. “Também constantemente se interrogar: ‘O que é isso que eu estou lecionando? O que é isso que eu estou aprendendo? Como é que isso se relaciona com a realidade que está colocada diante de mim hoje?’ E nunca perder a atenção sobre essas possibilidades”, acrescenta.
Gaudêncio Frigotto sustenta que as políticas de austeridade e o avanço do setor privado ameaçam a autonomia pedagógica, mas não apenas. “Eu ousaria dizer que esta agenda moral da Escola sem Partido, que foi uma loucura, dos pais e alunos vigiarem os professores, denunciarem se falassem de racismo, de gênero etc., isso talvez precise ser estudado como uma forma de silenciamento docente”, alerta, destacando ainda que “as táticas fascistas são da ameaça, do medo, do ódio”.
Já o professor-pesquisador aposentado da Escola Marcio Rolo defende que a politecnia deve estar sempre atenta a um currículo transversal e exemplifica caminhos para isso. “Eu acho que [o SUS] deveria ser um projeto, um complexo de estudos a ser eleito, a ser desenvolvido sistematicamente ao longo de três anos. Com um estudo mais aprofundado da teoria do valor, do que é capital, da dinâmica, enfim, da economia política”. Neste aspecto, Rolo ressalta que é necessário “detectar quais são os pontos de obstrução para realizar esse projeto e abordá-los por meio do que a ciência constitui para essa compreensão”.
Ainda sobre os desafios atuais, Angélica Fonseca destaca a pressão cada vez mais intensa por respostas rápidas, alinhadas a interesses imediatos do mercado e do próprio SUS, o que contrasta com o tempo longo que a pesquisa exige para reflexão, teorização e construção crítica. Soma-se a isso o cenário de cortes orçamentários e a crescente dependência de emendas parlamentares, que comprometem a sustentabilidade da produção científica em instituições públicas. Outro ponto que a vice-diretora aborda é a disputa entre a ciência positivista e hegemônica, que durante muito tempo se colocou como a única forma legítima de conhecimento, e outras formas de saber. “O que eu acho mais interessante hoje é a compreensão de que para entender determinados problemas postos na nossa sociedade, você vai ter que dialogar com muito mais gente, compor conhecimento de muito mais fontes do que apenas de origem acadêmico-científicos”, comenta. “O que não quer dizer que eles não devam prescindir de um rigor. Mas tentar construir conhecimento sobre um determinado problema a partir de uma única disciplina já está bem ultrapassado”, completa Fonseca.
O professor-pesquisador Claudio Gomes, também da EPSJV, levanta a discussão sobre como a redução de um horizonte político, com uma frustração a partir de ideais de grandes transformações sociais e revolucionárias que não ocorreram, gera um impacto naquilo que docentes consideram politecnia. “É como se fosse um conceito muito estagnado. Quase um ‘chavão’, que poucas pessoas conseguem dar corpo”, reflete. Ele enfatiza como a sociedade atual voltada à produtividade acaba afetando este lugar de contestação. “Todos nós estamos aturdidos com 300 expectativas de performance. É uma coisa muito característica do nosso tempo. Precisamos dar conta, com muita excelência, de muitas coisas. Isso nos conduz a um ‘ensimesmamento’, uma individualização muito grande. E nos dificulta pensar nos projetos coletivos com maior seriedade, maior tempo, maior consistência”, reforça.
Outro aspecto que por vezes aparece nas discussões é a necessidade de superação do capitalismo para que se possa concretizar a politecnia propriamente. Márcio Rolo lembra que, apesar da realização plena da politecnia estar ligada a este processo ‘histórico-político-econômico’, isso não deve ser visto como obstáculo: “Essa conversa que a gente está tendo aqui é um exemplo. Quando um jornal, uma revista se dispõe a escrever sobre politecnia, ela já está se realizando”, afirma.
Frigotto concorda: “É importante não idealizar a realidade. Nós temos que partir de onde estamos. Primeiro, esses jovens têm que estar preparados para responder às lutas dentro desta sociedade que nós vivemos agora, que é uma sociedade brasileira capitalista das mais desiguais do mundo. Além disso, querer ações que mudem essa realidade”, reflete. O professor da Uerj acrescenta: “É uma formação que não idealiza, mas que tem uma perspectiva, um entendimento que, de fato, sem a superação das classes, nós sempre vamos ter dominação de um sobre o outro”.
Atravessamentos sociais
Se a politecnia é um conceito vivo e que necessita estar em contato com o mundo que o cerca para acontecer, não é possível pensar nela sem trazer outro conceito para a arena: o da interseccionalidade. A pesquisadora e professora assistente na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Carla Akotirene, em seu livro homônimo, explica que este é um modo de compreender como diferentes opressões se articulam estruturalmente na sociedade. Ou seja, como gênero, sexo, classe social, raça, entre outros marcadores sociais, se manifestam no cotidiano, reforçando desigualdades e violências, sobretudo contra mulheres negras.
Não é à toa que esse é um debate em constante presença na Escola Politécnica, que é majoritariamente feminina e negra. Segundo o perfil socioeconômico dos estudantes do Curso Técnico de Nível Médio em Saúde da Escola, 75% dos ingressantes em 2025 se autodeclararam pardos (46,7%) e pretos (28,3%). O número de alunos do gênero feminino soma mais que o dobro do gênero masculino, respectivamente 71,7% e 28,3%. Além desses dados, o relatório indica que a renda domiciliar da maior parte dos alunos varia entre R$ 706,01 e R$2.824 (valores referentes a meio e dois salários mínimos, no início de 2025).
Por isso, a vice-diretora de ensino da EPSJV pondera que a escola não pode pensar a formação apenas a partir de um eixo único. “Eu defendo que não podemos abrir mão da classe social, que é estruturante da organização societária, mas existe uma sobredeterminação que passa por gênero, por raça, cor. A perspectiva interseccional nos ajuda a ter um melhor olhar sobre a realidade e sobre as relações”, afirma Morosini.
Complementando as ações da Escola neste sentido, ela menciona a criação de um “Selo Educação Politécnica Antirracista”, no biênio 2023/2024. “A gente está se revelando compromissado com a desconstrução dessa perspectiva racista. É um processo e um desafio constante, porque fomos formados nessa perspectiva. Isso está entranhado em nós e é algo que a gente precisa combater o tempo inteiro”, salienta. Outro exemplo é o projeto Sankofa, que trabalha a pauta antirracista de forma mais estrutural e menos pontual no currículo da Escola, como exemplo de que forma a pesquisa pode dialogar diretamente com pautas sociais emergentes.
Embora autores e textos teóricos clássicos não tenham abordado tais temas, Marise Ramos argumenta que essas dimensões são constitutivas da classe trabalhadora brasileira, que foi forjada no processo de escravização. “A classe trabalhadora brasileira tem cor, tem raça, tem uma condição, ou características de gênero muito particulares, que passam pela questão da não valorização do trabalho feminino, da tripla jornada de trabalho que as mulheres têm, dos seus lugares subalternos. Então, se tudo isso constitui a classe trabalhadora brasileira, essas questões precisam estar presentes”, afirma Ramos. A coordenadora da Pós-Graduação, Ialê Falleiros, acrescenta outro elemento ao debate: a inclusão. “A educação inclusiva também vem sendo bastante estudada e debatida com os estudantes. São formas de a gente levar essas discussões tão relevantes adiante”, diz.
Utopia em construção
Diversos documentos institucionais da Escola Politécnica trazem a ideia de que seu projeto formativo crítico e emancipatório, permanece em uma construção coletiva. Desde 2024, a Escola tem realizado reuniões com o conjunto de trabalhadores para repensar seu Projeto Político-Pedagógico por meio de um processo democrático e participativo. Uma necessidade advinda de novas experiências vivenciadas pela EPSJV, somadas às mudanças no contexto político e social ao longo das últimas duas décadas desde a publicação do 1º PPP.
“O PPP pode e deve ser o lugar de debate da Escola sobre si própria”, reforça Claudio Gomes. Entretanto, o professor-pesquisador da EPSJV reforça que sua atualização não pode ser apenas uma revisão de papel e deve levar em consideração as mudanças que atravessam os estudantes e também os trabalhadores da instituição. “A pessoa que não sabe nada de politecnia, ainda assim, tem muito a dizer sobre o que entende como expectativa de formação no mundo em que vive. Há hoje pessoas que têm uma experiência religiosa que não tínhamos antigamente. Entre os alunos é a mesma coisa. Quem é esse menino que vive com celular? Isso tudo vai marcar essa diferença”, questiona, fazendo um alerta: “Esses horizontes todos que foram reconfigurados em 40 anos, tanto da juventude quanto dos trabalhadores da Escola, precisam ser levados em conta para essa recuperação de um projeto politécnico. Ou não. Pode-se chegar a isso. E a possibilidade de não se fazer mais isso precisa ser considerada”.
Marise Ramos observa as concepções conflitantes dentro do corpo docente, mas vê isso como algo inerente a qualquer organização coletiva, defendendo que os dissensos devem ser fontes de aprendizado. “Gramsci chama de construção de uma vontade coletiva, que nem é consenso, nem é o ganho da maioria, mas é uma construção que incorpora dissensos. Eu acho que isso deveria poder ser um princípio basilar da construção de um projeto, de uma instituição que é, como eu disse, educacional, científica, e é uma instituição política também”, afirma.
Já Angélica Fonseca reforça a importância de manter no novo PPP a integração entre ciência, trabalho e pesquisa como eixo estruturante da formação. Ela complementa que, além de atualizar diretrizes, o novo Projeto deve assumir que o futuro se disputa no presente. “A gente tem que ter linhas de ação para o presente e poder, através dessas linhas, apontar para um futuro não só para a instituição, mas para as questões que atravessam o nosso Projeto Político-Pedagógico”, ressalta.
Considerar um tempo para a reflexão coletiva é a proposta do professor da Uerj Gaudêncio Frigotto. “Não dá para ter um projeto político-pedagógico que ofereça uma educação por inteiro, que leve em consideração todas as dimensões do ser humano e que seja uma educação politécnica, sem ter um tempo programado para pensar coletivamente. Acho que este é um calcanhar de Aquiles” reflete o professor sobre a rapidez da vida moderna, complementando que, apesar disso, a realidade não muda “a cada 30 segundos”, como costumam dizer. “Você não muda, eu não mudo, o meu sotaque não muda. Tenho 78 anos e ainda estou falando ‘gauchês’. Isso é da vida”, reflete.
Tendo em vista que os contextos histórico, político e social mudaram desde a formulação inicial, Frigotto também reforça esta necessidade de revisão do documento. No entanto, observa: “Essa discussão não pode descaracterizar o que é uma escola que ensina e que educa. Esse é o debate que o neoliberalismo nos colocou, que a escola não educa, só ensina o prescrito”. Por isso, para ele, o PPP deve ser um instrumento político de resistência, capaz de enfrentar a mercantilização da educação e reafirmar sua formação crítica. “Se a Escola Politécnica aplicar na letra a contrarreforma do ensino médio, praticamente mata a ideia de uma escola politécnica”, ressalta.
Olhar para o futuro
São quatro décadas defendendo tudo aquilo que envolve a politecnia – ainda que em cenários adversos. O momento é de celebração, mas também de projetar os próximos passos. Para Angélica Fonseca, a expectativa é que a Escola siga capaz de “elencar situações importantes em torno das quais a gente defina questões de pesquisa, ao mesmo tempo em que amplie os nossos diálogos teóricos e a diversidade de sujeitos com os quais nós produzimos pesquisa”. Já Marcia Valéria Morosini chama atenção para a importância de fortalecer os vínculos com movimentos sociais e sindicais, preservando a Escola como espaço de resistência. “Temos o compromisso de estar ladeados com a classe trabalhadora nos processos que entendemos que precisam ser qualificados visando a transformação social. Então a gente não substitui os movimentos sociais, mas a gente se associa a eles no nosso papel institucional”, diz.
Esse processo se expressa também em escolhas concretas da Escola, como o processo seletivo de entrada para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, realizado por sorteio público, como chama a atenção o aluno André de Paiva. “A partir do momento em que a Escola adota como sorteio público o meio de entrada, ela oportuniza diversos jovens a estarem nela, a acessarem uma educação de qualidade, uma educação antirracista, anticapacitista, que vai formá-lo de maneira integral e de maneira crítica, dando esse acesso ao estudante, que por vezes, sendo uma prova, ele poderia não estar dentro dessa instituição”.
Anamaria Corbo espera que cada vez mais a EPSJV seja capaz de conectar a compreensão do movimento do real em suas contradições com as exigências do trabalho educativo, garantindo as condições para uma formação emancipadora, segundo os desafios próprios de cada momento histórico. “A Escola Politécnica sempre buscou fortalecer o trabalho coletivo e a constituição de coletividades, na perspectiva de organizar esforços comuns para a criação de novas possibilidades de construção social” diz a diretora da EPSJV.
Já Marcio Rolo fala de como se manter firme nos cenários que ainda serão encontrados. “Virão momentos muito difíceis de enfrentamento de classe, em função da questão geopolítica. E, independente de resultados imediatos, eu penso que é preciso sustentar uma posição ética diante do mundo”, enfatiza. Enquanto Marise Ramos retorna ao passado para também vislumbrar o futuro. “Se ‘utopia em construção’ era o slogan do início da Escola, que ela continue sendo construída, porque no dia em que a gente achar que já construiu, aí o imobilismo acontece”, reflete.
Ao projetar seus próximos anos, a Escola Politécnica reafirma um compromisso que atravessa sua história: unir ciência e trabalho em uma proposta educativa crítica, plural e transformadora. Segundo Gaudêncio Frigotto, trata-se de seguir apostando em uma formação emancipatória, que una ciência, trabalho e compromisso social. Para isso, ele cita um trecho do “O credo do cortador de pedra”, de Jacob Riis: “Quando nada pode parecer ajudar, eu vou e olho o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes, sem que nem uma só rachadura apareça. No entanto, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela a que conseguiu, mas todas as outras que vieram antes”. Frigotto complementa: “Esse é um pouco o espírito de tudo isso”, conclui.