Análise
por: Paulo Henrique Andrade - Professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)
Insatisfação e especulação imobiliária
Os protestos em relação à Copa do Mundo apontam a insatisfação de brasileiros com a organização da Copa do Mundo que vai do comitê organizador local, -comandada por Joana Havelange, filha de Ricardo Teixeira, ex Presidente da CBF e Neta de João Havelange, Presidente de Honra da FIFA, passando pelos gastos do governo federal e dos estados sedes, superfaturamento de obras, a isenção de impostos dadas a FIFA, desapropriação de moradias, especulação imobiliária, aumento dos preços no comércio, aumento de preços nos serviços.
A grande mídia tenta desqualificar os protestos, criminalizando os manifestantes, e consegue mascarar suas pautas de reivindicação. Neste sentido procura apontar as vantagens e desvantagens, esperança e frustração dos brasileiros que vivem e trabalham perto dos estádios.
Sobre a Copa do Mundo no Brasil, há quem reforce as "oportunidades" que surgem para quem vive ou trabalha perto dos estádios: aumento do valor do imóvel, seja para venda ou para aluguel no período dos jogos e criação de empregos. Neste sentido precisamos falar sobre a natureza do pagamento pela localização no capitalismo. A localização é vendida como mercadoria.
A proximidade ao estádio é usada pela especulação imobiliária para aumento do valor da terra. Isto tem significado o aumento do aluguel em mais de 100%, além do aumento do valor no comércio e nos serviços no entorno. Isso, portanto, tem empurrado moradores para áreas mais distantes, seja em ocupações ou em moradias com preços mais acessíveis. Próximo a alguns estádios também, há condomínios populares, onde proprietários veem possibilidade de aumento do orçamento doméstico, alugando seus imóveis no período dos jogos.
Neste sentido, a Copa aparece como indutora de mobilidades territoriais forçadas que potencializam o processo de segregação sócio-espacial.
Em relação à criação de empregos é necessário ressaltar que a maioria dos que foram gerados não exige qualificações especiais, não oferecem benefícios trabalhistas e dificilmente permanecerão após a Copa.
Nesta dicotomia forjada entre esperança e frustração, a esperança é transitória para os proprietários dos condomínios populares localizados próximos aos estádios e para os trabalhadores que forem inseridos pelas frentes de trabalho criadas pelo Mundial.
No entorno dos estádios da Copa, oportunidades e frustrações
A duas semanas da Copa do Mundo, os brasileiros que vivem ou trabalham perto dos estádios se dividem entre aqueles que enxergam o Mundial como um poço de oportunidades e os que já se frustraram com a disputa.
O entorno do Maracanã, no Rio de Janeiro, é prova disso. A poucos metros dele, fica a favela Metrô-Mangueira, comunidade entulhada de sujeira. Enquanto passeia em meio ao lixo, o motorista Luciano Teixeira, de 41 anos, fala de sua frustração com o Mundial:
- A gente se sente humilhado, morando a 300 metros do Maracanã sem poder ver o jogo e ainda nesta situação. Querem deixar bonito os arredores do Maracanã, mas aqui, nada. A Copa está aí, e nós estamos aqui, às baratas.