Serviços 
O conteúdo desse portal pode ser acessível em Libras usando o VLibras

25 anos da RETS

Comemoração foi marcada por quarta oficina do ciclo ‘Os desafios da formação de técnicos de saúde durante a pandemia’
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 07/12/2021 14h45 - Atualizado em 01/07/2022 09h40

Para comemorar os 25 anos de existência da Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde (RETS), a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) realizou, no dia 30 de novembro, a quarta oficina do ciclo ‘Os desafios da formação de técnicos de saúde durante a pandemia’. Dessa vez, o tema foi ‘O futuro das redes no mundo globalizado: desafios comuns e soluções compartilhadas’. Como parte do plano de trabalho como Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Educação de Técnicos de Saúde, a iniciativa é realizada em cooperação com RETS, a Rede Ibero-Americana de Educação de Técnicos em Saúde (RIETS) e a Rede de Escolas Técnicas de Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (RETS-CPLP). O evento conta também com apoio do Centro de Relações Internacionais (Cris/Fiocruz) e da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz.

“O fechamento de um ciclo deve sempre ser motivo de celebração. Em se tratando de cooperação entre instituições voltadas à formação de técnicos em saúde, esse momento mostra a força do intercâmbio e representa a defesa e o compromisso com o fortalecimento dos sistemas nacionais de saúde”, afirmou Carlos Batistella, coordenador de Cooperação Internacional da EPSJV. E acrescentou: “No entanto, mais do que comemorar um trabalho colaborativo ao longo de 25 anos, queremos olhar para o futuro, identificar os desafios dos novos contextos e as possibilidades de intervenção baseadas no trabalho em rede que se apresentam”.

Na visão de Batistella, a pandemia de Covid-19 representou um problema comum a todos os países, favorecendo o trabalho cooperativo e em rede na busca de soluções, por outro lado, escancarou as históricas desigualdades estruturais na capacidade de estabelecer respostas rápidas e efetivas para seu controle. “O objetivo desta quarta oficina, portanto, é colocar em discussão o futuro das redes no mundo pós-pandêmico e, especialmente, das redes de formação de técnicos em saúde. Queremos entender em que medida o avanço da virtualidade pode favorecer a ampliação das relações interinstitucionais no contexto da cooperação internacional, como vamos lidar com o fenômeno da flutuação de membros nas redes e como favorecer a emergência de novos protagonismos e uma perspectiva multipolar de contribuições à rede”, apontou.

Na mesa de abertura, estavam presentes: Paulo Marchiori Buss, ex-presidente da Fiocruz e atual coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz (Cris/Fiocruz); Manuel Clarote Lapão, diretor de Cooperação do Secretariado Executivo da CPLP; Pier Paolo Balladelli, diretor do Programa Subregional para América do Sul da Opas/OMS, e o embaixador Marcos Vinicius Pinta Gama, que está interinamente à frente da Secretaria Geral Ibero-Americana (Segib). O debate foi mediado por Sebastián Tobar (Cris/Fiocruz) e reuniu Anamaria Corbo, diretora da EPSJV, e Felix Rigoli, que atualmente atua como consultor do Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis) da Fiocruz Brasília.

Para Paulo Buss, os 25 anos asseguram o sucesso de todas as iniciativas e ganhos que a RETS trouxe aos sistemas de saúde de todos os países que a compõem. “Isso tudo garante a continuidade desse trabalho, sustentado em uma trajetória sólida, criativa e com resultados importantes. O futuro da rede já está traçado”, apontou. De acordo com ele, não há qualquer possibilidade de se ter um sistema de saúde sólido e que responda as necessidades em saúde sem uma equipe de profissionais técnicos: “Nessa pandemia, ficou ainda mais evidente a importância dos técnicos. Pelas nossas redes, a educação técnica de qualidade está em marcha. Somos testemunhas da firmeza com que essa rede democrática e participativa, que é a RETS, constrói os seus processos”.

Pier Balladelli ressaltou a importância de trabalhar em rede no contexto da pandemia da Covid-19. “A falta de evidência e dados durante a pandemia criou um vazio importante que depois foi traduzido no aumento da transmissão do vírus e em mortes. Portanto, poder trabalhar em rede e de forma instantânea, através de evidências que permitam-nos entender melhor os processos de doença e saúde, é indispensável”, destacou.

Balladelli apontou ainda que a pandemia desnudou a precariedade dos sistemas de saúde da América Latina e a pós-pandemia trouxe a obrigação de vacinar a população mundial, pelo menos três vezes, em menor tempo possível. “É importante insistir que a recuperação dos sistemas de saúde nacionais tem que começar agora e que a força de trabalho nessa recuperação é a chave. Além de um desequilibro numérico na distribuição de pessoal, também é importante indicar que existem vazios em relação a capacitação desses profissionais. Nesse contexto, os técnicos em saúde são a categoria mais importante, que permitiu que pudéssemos dar continuidade nos serviços em locais nos quais a população teria ficado sem apoio durante a pandemia”, contou. 

Por vídeo, Manuel Lapão lamentou não poder estar presente no evento e exaltou a importância do trabalho em rede para a CPLP: “A construção de redes e parcerias, no contexto da CPLP, cumpre um papel extremamente importante na construção de pontes para o processo de desenvolvimento de comunidades. A ligação que a CPLP estabelece com as entidades com as quais interage tem permitido assegurar um conjunto de parcerias estratégicas muito pertinentes para a organização, que permitem olhar de forma mais sustentável para os desafios comuns”.

Por fim, Marcos Gama falou sobre um pouco sobre como Segib entende o conceito de redes, além de comentar sobre o futuro das redes no mundo globalizado. “Entendemos o trabalho das redes como um mecanismo de articulação de diferentes atores em determinada região. Entendemos as redes como espaços de intercâmbio e que apostam no multilateralismo, colaboração, desenvolvimento sustentável e solidariedade através da participação e diálogo de todos os envolvidos”, destacou. 

Futuro das redes no mundo globalizado

Em sua fala, Felix Rigoli apontou que a formação das redes que envolvem a RETS (RETS-Unasul, RETS-CPLP e RIETS) começou, em nível internacional, com a rede do Mercosul, a RETS-Unasul, e foi se expandindo por toda a América do Sul, depois países da CPLP e da região Ibero-americana. “São redes concêntricas, desenvolvidas ao longo do tempo e apoiadas em estudos. A própria EPSJV desenhou, no início, um panorama do que estava acontecendo em termos de formação técnica. A RETS sempre deu um passo à frente”, comentou, acrescentando que a rede sempre criou, desenvolveu e compartilhou conhecimentos, informações, habilidades e capacidades até que fosse criada uma legitimidade coletiva da ideia de formação de técnicos em saúde.

Segundo Felix, existem dois grandes tipos de rede: “Uma rede de relacionamentos, nas quais as trocas se dão e partem de diferentes atores, não existe necessariamente uma hierarquia e nem um enfoque específico. E quanto mais relacionamentos elas tiverem, melhor. Isso a RETS sempre fez e muito bem”. 

O outro tipo de rede destacado por Felix foram as redes neurais. “Parece algo muito de ficção, mas, na verdade, são redes nas quais um conjunto de perguntas são passadas a um conjunto de células, que produzem respostas, e essas respostas são avaliadas para ver quais são boas e ruins, sendo filtradas e produzindo uma melhor resposta possível para essa rede”, definiu, explicando: “Tenho a impressão de que o futuro das redes deveria ser pensar justamente como um sistema, filtrar, melhorar e aprimorar a qualidade do conhecimento. Devemos caminhar no sentido de uma rede neural”.

Anamaria relembrou o surgimento da RETS. Segundo ela, a motivação para a criação da rede partiu de um estudo realizado, em 1996, em 16 países da América Latina, que relatou que a categoria de nível médio, na qual os técnicos estão inseridos, era extremamente heterogênea. “Você tem diversas formas de formar, diversos requisitos de ingresso, atribuições e processos de trabalho, o que torna a cooperação nessa área muito complexa”, afirmou, acrescentando: “E essa é uma categoria fundamental e que dá base e organiza os sistemas nacionais de saúde”.

A partir desse estudo, vários países, representantes de recursos humanos e a própria Opas organizaram uma reunião para discutir o que fazer frente a este problema na América Latina. “Foi nessa reunião, que aconteceu no México, com representantes do Brasil, Costa Rica, Colômbia, Cuba e do país sede, que a RETS foi criada, com uma ênfase grande na comunicação e na difusão das pesquisas", lembrou.

Até 2001, a secretaria executiva da rede ficou a cargo da Escola de Saúde Pública da Costa Rica, quando foi desativada. Anamaria contou que quando a EPSJV se tornou Centro Colaborador da OMS para a educação de técnicos em saúde, em 2004, chegou a demanda da Opas de reativar a secretaria executiva da rede. “Um ano depois, reassumimos a secretaria executiva da rede e, para mobilizar os parceiros, organizamos o Fórum Internacional de Educação de Técnicos, que aconteceu durante o 11º Congresso Mundial de Saúde Pública e 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva”, contou.

Hoje, a RETS reúne mais de 100 instituições, de 20 países, além de abrigar, como sub-redes, a Rede de Escolas Técnicas da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (RETS-CPLP) e a Rede Ibero-Americana de Educação de Técnicos em Saúde (RIETS).

Sobre os desafios atuais da rede, Anamaria apontou os impactos da pandemia na formação e atenção à saúde, o aumento das desigualdades educacionais devido ao prolongado fechamento das escolas, os efeitos da crise mundial sobre os determinantes sociais da saúde e o subfinanciamento do setor saúde, dentre outros. “A pandemia teve um impacto enorme no sentido de represar uma série de demandas dos sistemas de saúde. E na educação também, porque vimos que muitas escolas fecharam suas portas. Então, estamos falando de trabalhadores de nível médio sem estágio e sem prática profissional adequada. Estamos vivendo uma crise humanitária ambiental que tem reflexos para a qualidade de vida das pessoas e com certeza vai impactar na saúde”, constatou.

Sobre o Ciclo de oficinas

Desde o início de 2020, com a interrupção das atividades presenciais para evitar a disseminação do vírus, as instituições formadoras passaram a viver o dilema de reinventar o cotidiano escolar num curto prazo de tempo e em condições completamente adversas para continuar a realizar sua missão junto aos estudantes e à sociedade.

Pensando nisso, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), como Centro Colaborador da Opas/OMS para a Educação de Técnicos de Saúde, em cooperação com a Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde (RETS), a Rede Ibero-Americana de Educação de Técnicos em Saúde (RIETS) e a Rede de Escolas Técnicas de Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (RETS-CPLP), lançou o Ciclo de oficinas 'Desafios da formação de técnicos de saúde no contexto da pandemia’.

A primeira oficina, realizada no dia 6 de julho deste ano, abordou a questão das ‘Práticas profissionalizantes’; a segunda, realizada no dia 31 de agosto, colocou em foco o ‘Trabalho e formação docente’, a terceira oficina, realizada no dia 26 de outubro, trouxe para o debate os ‘Novos perfis e atribuições dos técnicos em saúde para o trabalho na Atenção Primária à Saúde’.

Assista na íntegra.