Como construir conhecimento através do audiovisual? Essa foi a questão levantada pelo “1º Seminário de Audiovisual e Educação: metodologias na construção de conhecimento”, realizado no dia 7 de agosto, na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). O encontro buscou articular o conhecimento científico com as práticas pedagógicas já realizadas por professores e pesquisadores. O Seminário antecedeu a 8ª Mostra Audiovisual Estudantil Joaquim Venâncio, realizada nos dias 8 e 9 de agosto, também na EPSJV. “Estamos na nossa 8ª Mostra, que reúne os trabalhos dos alunos do Ensino Médio da Escola. Então, pensamos em reunir os professores em um seminário, mostrando o trabalho que eles realizam”, explicou Gregório Galvão, professor-pesquisador da EPSJV e um dos organizadores do seminário e da mostra.

Na parte da manhã, a programação do seminário contou com a bióloga Natália Oliveira na mesa ‘Audiovisual, Educação e Ciência’. Com referências ao seriado norte-americano CSI (Crime Scene Investigation) e ao vogue, um estilo de dança urbana, Natália transformou a sua tese sobre biossensores no videoclipe Pop, Dip and Spin: The legendary biosensor for forensic sciences. O vídeo, gravado no laboratório da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em pontos turísticos de Recife (PE), traz a tese da bióloga sobre o uso de biossensores para identificar fluidos corporais em cenas de crimes, mesmo que o autor tenha tentado apagar os rastros com materiais de limpeza.

Com o vídeo, Natália foi uma das vencedoras do Prêmio Dance Your PhD 2017, promovido pela revista Science, que desafia pesquisadores a explicarem os resultados de seus trabalhos por meio da dança nas categorias Biologia, Ciências Sociais, Física e Química. Ela contou que, ao se inscrever no prêmio, precisou pensar em como seria divulgar ciência em uma linguagem acessível para a sociedade em geral. “Muitas vezes, o que a gente fala é importante para a comunidade, mas por usarmos uma linguagem técnica, muita gente não entende a importância da pesquisa. É preciso traduzir a pesquisa para a sociedade apoiar a ciência em tempos de cortes e crise”, ressaltou Natália, que também destacou a importância de fazer a pesquisa ultrapassar os muros brasileiros: “A questão de ser mulher, nordestina, de universidade pública e mostrar a todos que a gente também faz ciência de qualidade valoriza o nosso trabalho”.

No debate, professores do território de Manguinhos, no Rio de Janeiro, onde está localizada a Escola Politécnica, e também profissionais de outras cidades discutiram sobre a popularização da ciência e como usar o audiovisual em sala de aula.

Trabalhos

Na parte da tarde do seminário, houve a apresentação de 26 trabalhos de professores de sete estados do país – Rio de Janeiro, Sergipe, Rio Grande do Sul, Bahia, Santa Catarina, Pará e Maranhão. Os trabalhos abordaram temas como produção de novos formatos audiovisuais, movimentos em rede, aprendizagem colaborativa, videoaprendizagem e produção audiovisual na favela, entre outros.

A Mostra

Nos dias 8 e 9 de agosto, aconteceu a 8ª Mostra Audiovisual Estudantil Joaquim Venâncio, na EPSJV. Neste ano, 70 vídeos foram inscritos e 28 selecionados para a exibição, incluindo produções dos estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e também de Portugal e Argentina. O evento foi dividido em duas partes: pela manhã, exibição dos filmes e, na parte da tarde, a exibição dos documentários “Legitima defesa”, de Susanna Lira e Sara Stopazzolli, e “Arábia”, de João Dumans e Affonso Uchoa, seguidos de debates.

Baseado em fatos reais, “Legítima defesa” conta a história de três mulheres que, após um histórico de violência doméstica, contrariam as estatísticas e tomam uma atitude extrema: matam o homem que amavam para poderem sobreviver. Já “Arábia” mostra a história de um jovem que encontra por acaso o diário de um operário metalúrgico que sofreu um acidente e, por meio dessas memórias, embarca numa jornada pelas condições de vida de trabalhadores marginalizados.

Para Michelle Dias, aluna do 3º ano do Ensino Médio da habilitação de Gerência em Saúde, a Mostra é importante porque faz com que os jovens tenham contato com a realidade de outras escolas. “Eu nem sabia que outras escolas tinham aula de audiovisual. É muito legal essa troca de experiências com outros alunos”, afirmou, acrescentando que é muito prazeroso aprender através do audiovisual: “Sempre gostei de vídeos. Depois de assistirmos o documentário ’Legitima defesa’, por exemplo, a gente fez um debate sobre feminicídio e violência doméstica”.

Criada em 2011, a Mostra já exibiu mais de 100 vídeos selecionados, de diversas partes do Brasil e de países como Itália, Espanha, Portugal e Argentina.