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Candidatos à prefeitura do Rio discutem propostas na EPSJV

Debate contou com cinco candidatos que responderam a perguntas dos alunos sobre temas como saúde e educação.
Raquel Torres - EPSJV/Fiocruz | 24/09/2008 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


Um debate entre os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro encerrou o seminário de gestão ‘Política e Juventude: desafios e propostas para uma cidade mais saudável’, organizado pelo curso de Educação Profissional de Gestão em Serviços de Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) entre os dias 22 e 24 de setembro.



Na platéia, estavam alunos de todas as habilitações do ensino médio integrado da Escola, além de professores e trabalhadores em geral. Com o microfone, ficaram os candidatos a prefeito Alessando Molon, do Partido dos Trabalhadores (PT), Eduardo Serra, do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Chico Alencar, do Partido Socialismo e Liberdade (PSol). Além deles, estavam presentes dois candidatos a vice-prefeitos: Ricardo Maranhão, da chapa de Jandira Feghali, candidata do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e Carlos Alberto Muniz, vice de Eduardo Paes, candidato da coligação Unidos Pelo Rio – formada pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Partido Progressista (PP), Partido Social Liberal (PSL) e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Os demais candidatos, embora convidados, não compareceram ao debate.



Durante o debate, os cinco candidatos responderam a perguntas feitas pelos alunos da Escola e expuseram suas propostas em relação a áreas como  saúde, saneamento, cultura, educação e transporte. A primeira parte do evento foi voltada para a saúde; na segunda parte, foram discutidos temas gerais e, no terceiro bloco, todos os candidatos tiveram que se posicionar em relação à mesma questão: a segurança pública.



Saúde no Rio



Ricardo Maranhão descreveu a saúde no Rio de Janeiro como ‘caótica’, com problemas na marcação de consultas, grandes filas nos postos de saúde e o retorno de doenças que já haviam sido extintas, como a dengue. Ele comentou algumas das propostas de Jandira para o setor: “Entendemos que é fundamental haver uma comunicação entre os hospitais e postos de saúde para que essa situação comece a se ordenar. Propomos uma Central de Regulação, em que essas instâncias se integrem. Pretendemos também fortalecer a Estratégia Saúde da Família. E um grande projeto é a introduzir a saúde nas escolas, em parceria com a Secretaria de Educação. Com isso, vamos trabalhar a prevenção, levando ao ensino fundamental temas como a gravidez precoce e as doenças transmissíveis. Além disso, vamos ter médicos nas escolas identificando problemas em 720 mil crianças e jovens. Por fim, vamos criar o Cartão Carioca de Saúde, usando a tecnologia a nosso favor: cada paciente vai ter todo o seu histórico médico no cartão, o que facilita o tratamento mesmo quando não se vai sempre ao mesmo posto ou hospital”, disse. Ele também afirmou que o governo de Jandira pretender ampliar o número de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e ainda abrir ou reabrir maternidades. 



Quanto às alianças com a iniciativa privada, Maranhão afirmou que o SUS é uma conquista fundamental da Constituição de 1988 e que se deve seguir o que está escrito. “A Constituição diz que o gestor do SUS é o prefeito municipal. E, como prefeita, Jandira deve fazer a conexão entre os hospitais federais, estaduais, municipais e privados”. Ele disse também que a iniciativa privada tem um papel importante hoje, mas é movida pelo lucro: “As redes particulares não vão atender a população de baixa renda. Por isso, é fundamental que a saúde seja um dever do poder público”, afirmou.



Carlos Alberto Muniz foi questionado sobre a forma de assistência que seria privilegiada no governo de Eduardo Paes: preventiva ou curativa? E garantiu que a gestão será pautada na saúde, e não na doença. “Temos a saúde em mente. Acreditamos que a ação preventiva é a principal função dos postos de saúde e é isso que Eduardo Paes irá priorizar. A dengue, por exemplo, precisa ser enfrentada sobretudo com a prevenção. E, é claro, devemos estar preparados para quando a doença aparecer.”, afirmou, dizendo que a proposta é passar a cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF) no Rio de 7% para, pelo menos, 40%. Muniz também defendeu a importância das UPAs na ação emergencial, porque “desafogam os hospitais”.



Já para Alessandro Molon, as UPAs não devem ser priorizadas, sob o argumento de que o essencial é se preocupar com a atenção básica e com ações preventivas. “Na verdade, a melhor maneira de esvaziar os hospitais não é construir novas unidades de emergência, mas evitar que as pessoas tenham emergências a resolver. Queremos mais 500 equipes de saúde da família e vamos atender 45% da população, começando pelas regiões de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, declarou. De acordo com ele, sua gestão vai realizar a contratação de médicos qualificados e bem remunerados e instalar o terceiro turno nos postos de saúde.



Chico Alencar afirmou que saúde e educação serão prioridades em seu governo. Ele concorda que a assistência deve ser focada na prevenção e também questionou a expansão das UPAs: “A verdade é que a UPA virou moeda de ‘cantada eleitoral’. Ela resolve problemas imediatos, mas costumo dizer que a UPA está para a saúde como as lonas culturais estão para a cultura: não são ruins, mas não são parte de uma política sustentável”, criticou. Questionado sobre a construção de novos centros de saúde, Chico disse que o município já conta com 175 estabelecimentos de saúde, como postos, clínicas e centros municipais. “Já temos o aparato, mas temos que fazer funcionar. Por isso, defendemos o posto de saúde com três turnos, as rondas hospitalares para garantirem a segurança e uma cobertura da ESF de 30% a 40%”, afirmou o candidato.



Eduardo Serra falou sobre as alianças entre Estado e iniciativa privada. E foi direto: “O PCB é contra o grande capital. Acreditamos que o nosso destino tenha que ser decidido por um Estado que represente a sociedade. Mas temos consciência de que nem tudo deve ser estatizado. O que oferecemos aos micro, pequenos e grandes empresários é um projeto de desenvolvimento organizado e, em troca, queremos todos os devidos impostos e o respeito às leis trabalhistas”, afirmou.



Ele lembrou que o esvaziamento do papel do Estado nos serviços sociais não é visível só na saúde: “Hoje, a cada seis estabelecimentos de saúde, apenas um é público. O quadro se repete nos transportes, já que poucas empresas controlam todas as linhas de ônibus e têm enorme força política. Até a segurança é, em muitos locais, privada”, observou. Para ele, é fundamental que o Estado cuide da saúde. “Saúde não pode ser mercadoria, e as empresas privadas lidam com mercadorias, vendendo curas: nunca vão promover atenção básica ou prevenção”, disse.



Segunda parte: educação, lazer, transporte e saneamento básico



Ao falar sobre desenvolvimento urbano e saneamento básico, Chico Alencar lembrou os problemas que o Rio enfrentou no último verão, com a dengue. “O que se presenciou foi uma epidemia por omissão do poder público. Como deputado, sei que nem metade do orçamento destinado à prevenção de epidemias foi empenhado e utilizado. Na maior parte das vezes, os gestores sequer retiraram esse dinheiro. O hospital do Caju, que era referência em doenças tropicais, foi abandonado e fechado, o que é inadmissível”, criticou. De acordo com ele, é preciso ter uma campanha permanente de prevenção à dengue, já que há ameaças de uma nova epidemia no ano que vem, e essa campanha deve estar integrada a saneamento básico e políticas habitacionais. Ele também afirmou que o desenvolvimento urbano deve ser feito ouvindo-se a população local para se entenderem as necessidades.



Carlos Alberto Muniz foi questionado sobre as propostas de Eduardo Paes para o esporte e o lazer. Ele disse que há projetos, mas afirmou que esse não era o foco do debate e preferiu trazer à tona, mais uma vez, a questão das UPAs, discordando dos demais candidatos em relação a esse tema: “Dizer que a ESF resolve o problema da lotação dos hospitais é irresponsável. E, ao contrário do que foi dito, as UPAs não são caras: um atendimento em UPA custa cerca de metade do preço normal. Além disso, a equipe da UPA é tecnicamente melhor que a das emergências de hospitais. Por que transformar uma ação política em anti-marketing?”, indagou.



Eduardo Serra falou sobre educação, e os alunos desejavam saber se havia planos de oferecer horário integral nas escolas. Serra disse que a educação não serve apenas para formar para o mercado, mas também para formar cidadãos. “Hoje, temos muitos trabalhadores com pouca qualificação profissional e poucos bem qualificados, que ocupam cargos considerados mais ‘nobres’. Isso tem que ser mudado. Além do mais, onde fica a formação crítica, para que os jovens possam, de fato, transformar a sociedade? Precisamos de um sistema que ofereça treinamento intelectual e que leve ao exercício da cidadania. Infelizmente, não é o que predomina aqui”, opinou, afirmando que, por essas razões, é a favor da educação em horário integral, com espaço para atividades culturais na escola. “Temos que ter em mente que esse não é um projeto de curto prazo, mas, em quatro anos, é possível fazer alguma coisa. Se a educação for prioridade no orçamento do município, podemos mudar”, observou. O candidato ainda disse que luta por uma educação pública gratuita, universal e de alta qualidade.



A Molon, coube explicar seus planos para melhorar o transporte urbano. “Precisamos enfrentar as empresas de ônibus, colocar mais linhas onde elas são escassas e retirar os veículos das regiões em que eles são abundantes e ainda assumir um compromisso de licitar todas as linhas de vans, como o PT já fez em Belo Horizonte. As vans não podem ser vistas como um meio de transporte alternativo, mas como meio complementar”. O candidato também afirmou que pretende investir em Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), os metrôs em superfície, além de implementar o bilhete único e o passe livre para estudantes, mesmo quando não estiverem fazendo o caminho casa-escola-casa. De acordo com Molon, essas medidas ajudam a resolver o problema habitacional, já que “muitas pessoas passam a morar em favelas por causa do preço dos transportes e do tempo que gastam no trajeto ao trabalho ou escola”.



O problema da segurança



Na última parte do debate, todos os candidatos foram questionados sobre seu posicionamento em relação às milícias e ao uso do 'caveirão' nas favelas do Rio. Os cinco candidatos se mostraram preocupados com a segurança pública e concordaram que o uso do caveirão deve ser repensado. “O problema não é o uso de um carro blindado para proteger os profissionais de segurança, mas o seu uso para omitir a identidade dos policiais que cometem crimes nessas comunidades. Sou contra esse nome e contra o símbolo – é um absurdo que uma caveira seja usada como símbolo de segurança, quando induz à violência”, disse Molon.



Eduardo Serra acrescentou que as milícias são “uma ‘pseudo-defesa’ baseada em opressão dirigida e fascista”. Para ele, elas só podem ser combatidas com a presença do Estado e com a mudança de alguns conceitos. “Não podemos trabalhar com o conceito dos policiais militares, que são treinados para atirar a qualquer momento e vêem em todo morador de comunidade carente um potencial bandido. É preciso formar o conceito de uma polícia mais inteligente e investigativa, que de fato consiga proteger a população, e não ameaçá-la”, afirmou.



Participação dos alunos



Os alunos da EPSJV, que lotaram o debate, deixaram o auditório comentando as propostas apresentadas e discutindo suas escolhas para as eleições. Aline Costa, aluna do 3º ano do curso de Informações e Registros em Saúde, ainda não escolheu seu candidato e acredita que o debate vai ajudá-la. “Ainda estou em dúvida, mas o que eles disseram hoje já encaminhou minha decisão. Pela propaganda eleitoral, veiculada nos meios de comunicação, é difícil discutir as propostas”, diz. Para Marina Garcia, aluna do 3º ano do curso de Análises Clínicas, a eleição também ainda não está definida. “Por isso achei muito importante essa iniciativa, ainda mais durante o Seminário de Gestão, já que vamos escolher os futuros gestores do Rio”, opina.