‘Educação interprofissional na formação e no trabalho dos técnicos em saúde’ foi o tema do 7º seminário virtual da Rede Internacional de Educação de Técnicos de Saúde (RETS), sediada na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Realizado no dia 4 de junho, o evento reuniu os pesquisadores Marina Peduzzi, da Universidade de São Paulo (USP), e José Rodrigues Freire Filho, consultor internacional em recursos humanos em saúde da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que participou via Skype. Segundo Marina, a educação interprofissional “acontece quando estudantes e profissionais de uma determinada área têm oportunidades de aprendizado conjunto e compartilhado com estudantes e profissionais de outras áreas, com o propósito de desenvolver competências colaborativas e habilidades que favoreçam o trabalho em equipe”.
A escolha do tema foi definida em novembro de 2018, durante a 4ª Reunião Geral da RETS. A promoção de discussões sobre a educação interprofissional e o trabalho dos técnicos na atenção primária à saúde é o terceiro objetivo do plano de ações regionalizadas para a América Latina (2019-2022), que integra o plano de trabalho da rede. Segundo Ingrid D’Avilla, professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, atualmente têm-se multiplicado as discussões acerca do papel da educação interprofissional na transformação e no avanço da educação e da qualificação dos profissionais da saúde, nos desafios de implementação dos currículos e nos modelos de gestão de equipes interprofissionais de saúde. “Considerando não somente a relevância da educação interprofissional em âmbito internacional, mas também a sua incipiente relação com o trabalho e a formação dos técnicos em saúde, propusemos a realização desse seminário. Foi uma primeira iniciativa de aproximação da RETS com o assunto, mas em breve divulgaremos novas atividades”, ressaltou.
Discussão antiga
O tema da educação interprofissional, de acordo com Marina Peduzzi, começou a ser tratado por pesquisadores de todo o mundo a partir dos anos 1970. No Brasil, entretanto, a discussão mais sistematizada é recente. “O processo de construção do SUS está pautado no trabalho inter e multiprofissional e na mudança da formação desses profissionais de saúde. Não dá para pensar a educação interprofissional sem pensar no trabalho interprofissional. E não é possível pensar no trabalho colaborativo e em equipe sem a educação interprofissional. Tudo isso está extremamente relacionado”, apontou.
Marina afirma que, de fato, há uma tendência crescente ao trabalho interprofissional pela complexidade do que se reconhece como necessidades de saúde, dos equipamentos envolvidos com a prestação de serviços e a organização do sistema de saúde. Por ser complexo, ela ressalta que o SUS tende a ser interprofissional. “Ele deveria ser interprofissional, mas ainda não é em sua maioria. Os modelos dominantes de serviço e formação ainda são uni e multiprofissionais”, ressaltou.
Para ela, os desafios dos técnicos na educação e no trabalho interprofissional são a existência de uma hierarquia e desigualdades entre as profissões, e a necessidade de se pensar uma formação que desenvolva competências para uma atuação conjunta com profissionais de outras áreas. “Embora todos os trabalhos sejam necessários, eles têm um valor social muito diferente. Temos que pensar em formas de superação dessas relações hierárquicas, compreendendo o processo de trabalho. Se não continuaremos reproduzindo profissionais que só sabem trabalhar com outros da mesma área”, atentou.
Educação interprofissional na Opas
José Rodrigues afirma que, em 2016, a Opas elegeu o tema da educação interprofissional como prioridade para apoiar seus os países das Américas nas políticas de recursos humanos em saúde. “É uma abordagem recente, bastante inovadora. Esse conceito foi retomado em uma primeira reunião técnica regional, realizada na cidade de Bogotá, na Colômbia. Na ocasião, 16 países discutiram benefícios e potencialidades que a educação interprofissional têm para a educação das profissões da área da saúde, elaborando o documento ‘Educação interprofissional na atenção à saúde’”, contou, completando que no ano seguinte a Opas publicou outro documento – ‘Estratégia de recursos humanos para o acesso universal à saúde e à cobertura universal de saúde’ –, que mostrava a importância da formação de equipes interprofissionais nas redes de atenção à saúde para a melhoria do cuidado.
No mesmo ano, a Opas apresentou as diretrizes para criação de uma Rede Regional de Educação Interprofissional das Américas (Reip), durante a 2ª Reunião Regional, realizada em Brasília com 27 países das Américas: “O evento foi importante porque intensificou a implementação da educação interprofissional nas políticas de recursos humanos em saúde nas Américas. A Reip foi formalizada nessa reunião, com a Secretaria Executiva ficando sob responsabilidade do Brasil, da Argentina e do Chile”, explicou Rodrigues.
Em 2018, aconteceu o terceiro encontro regional, em Buenos Aires, na Argentina. Na ocasião, 18 países das Américas, dentre eles Brasil, Uruguai, Cuba e Costa Rica, apresentaram seus planos de ação. Atualmente, a Opas está discutindo novas ações estratégicas, como a formação docente e a ampliação do tema na educação de técnicos em saúde e em outras áreas.
Na avaliação de Rodrigues, um dos maiores desafios é justamente pensar a educação interprofissional na formação e no trabalho dos técnicos em saúde, seja na formulação de políticas públicas, na regulamentação, nos currículos, nos cursos, nas metodologias ou nas tecnologias educacionais para esse nível de formação. “Isso pode ser inovador no cenário mundial, tendo em vista que a discussão ainda está muito centrada nos níveis de graduação e pós-graduação”, ressaltou.