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Educação popular em saúde ambiental

EPSJV e MAB iniciam formação de agentes populares em saúde em Cachoeiras de Macacu
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 04/06/2019 14h01 - Atualizado em 01/07/2022 09h44

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) deu mais um passo em direção ao fortalecimento de políticas públicas no Vale do Guapiaçu, localizado no município de Cachoeiras de Macacu, região metropolitana do Rio de Janeiro. Teve início no dia 1º de junho o curso de Educação Popular em Saúde Ambiental em Comunidades: Pedagogia das Águas em Movimento, promovido pela EPSJV/Fiocruz em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e a prefeitura de Cachoeiras de Macacu. O objetivo do curso é fortalecer a participação popular e práticas coletivas de manejo das águas que visem à promoção de territórios saudáveis e sustentáveis para as comunidades da região. Agricultores familiares e atores sociais locais serão formados em agentes populares em saúde ambiental. No mesmo território, a EPSJV/Fiocruz está promovendo desde abril o curso de Educação Popular, Direito e Participação Social: Bordando a Saúde das Mulheres Atingidas por Barragens. A formação visa discutir a luta por direitos e, em especial, o direito à saúde em áreas atingidas por barragens, com trabalhadores rurais e da saúde, entre eles agentes comunitários de saúde e técnicos de enfermagem, além de lideranças locais.

Para o professor-pesquisador da EPSJV/Fiocruz, Alexandre Pessoa, que coordena o curso, processos formativos na perspectiva da promoção da saúde são fundamentais na região que, há anos, vive com a expectativa negativa de um projeto de construção de barragem que, se autorizada, alagaria aproximadamente 20 km² da localidade e desapropriaria cerca de três mil pessoas. “Mesmo o projeto não tendo sido executado, graças a muita resistência da população, do poder público local e das instituições de pesquisa, o Vale sofre com a desmobilização econômica, com o medo dos moradores de perderem suas casas, seus laços familiares, a vivência com a comunidade, ou seja, todo um processo de desterritorialização”, atenta o pesquisador.

Formação

Um encontro preparatório para a formação aconteceu no dia 18 de maio, quando educandos e educadores se reuniram em uma roda de conversa, em que, foram apresentados a proposta e a metodologia do curso.

Com carga horária total de 132 horas, o curso é dividido em quatro eixos estruturantes – ‘as águas em disputa’ que trará, por exemplo, a história da luta pela terra no vale do Guapiaçu e o contexto atual; ‘as águas que ensinam’, quando serão apresentados os princípios da educação popular e as práticas e técnicas de mobilização de base; ‘os caminhos das águas e da saúde ambiental’, no qual serão problematizadas questões para o enfrentamento dos problemas de saúde oriundos do manejo das águas; e ‘as águas de produção’, quando os educandos identificarão conflitos entre a conservação de água e os modos de produção, além de apontarem soluções para a conservação e o consumo de água. “O próprio conteúdo do currículo é estruturado pelas dimensões distintas das águas. Por isso o curso fala sobre as águas em movimento, que são as águas da vida, águas promotoras de saúde, enquanto as águas de represas são as águas que desterritorializam várias gerações”, explica Alexandre.

Como parte do processo pedagógico, os educandos – cerca de 45 – realizarão nas escolas do território ações de debates e intervenções sobre o manejo das águas domiciliares e comunitárias, sendo eles os multiplicadores dos saberes e envolvendo cerca de 150 pessoas. Ao fim do curso, previsto para novembro deste ano, será realizado um Seminário Nacional, quando serão apresentadas as experiências político-pedagógicas e uma sistematização de todo o processo formativo como forma de avaliação e de recomendações, tendo as águas e o saneamento rural como conteúdos centrais. “Esse desenho fortalece e amplia o debate da saúde e da educação no campo”, sublinha o coordenador, que já adianta um dos desdobramentos do curso: “Será construído um material pedagógico territorializado sobre o manejo das águas e as ameaças à saúde ambiental e humana. Esse material dará subsídios para processos de formação em outras regiões do país”.