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Educação Popular na Tenda Paulo Freire

Professores-pesquisadores da EPSJV/Fiocruz discutem as reflexões e desafios do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde (EdPopSUS)
Portal EPSJV - EPSJV/Fiocruz | 27/07/2018 16h01 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

A experiência do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde  (EdPopSUS) foi compartilhada em uma das rodas de conversa da Tenda Paulo Freire, no dia 27 de julho, durante o 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão), na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O curso, que está em sua segunda edição, é uma parceria entre a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJ/Fiocruz) e o Ministério da Saúde, voltado para trabalhadores da Atenção Básica, lideranças comunitárias e integrantes de movimentos sociais. A roda de conversa, que trouxe as reflexões e desafios do EdPopSUS, contou com os professores-pesquisadores da EPSJV/Fiocruz, Vera Joana Bornstein, Ronaldo Travassos e Grasiele Nespoli, que fazem parte da coordenação nacional do curso.

Segundo Vera, o EdpopSUS teve início em 2013, logo após a implementação da Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), e se torna uma das principais estratégias de implantação dessa política. “A primeira edição teve um curso pequeno de 53 horas, sob a coordenação da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), em parceria com a Escola Politécnica”, destacou. Já sob a coordenação da EPSJV/Fiocruz, a segunda edição, que começou a ser planejada em 2015, teve a carga horária ampliada para 160 horas e 17 encontros presenciais. De acordo com Vera, 70% dos educandos do curso, atualmente, são Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Vigilância em Saúde (AVS), mas também profissionais de outros ramos e lideranças comunitárias. “Atualmente o EdPopSUS é oferecido em 15 estados – Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais –, com execução descentralizada”, apontou.

A estrutura do curso conta com seis eixos: Gestão participativa e a experiência como fio condutor do processo educativo; a Educação popular no processo de trabalho em saúde; Direito à saúde e a promoção da equidade; Território, lugar de história e memória; Participação social e participação popular no processo de democratização do Estado e O território, o processo saúde-doença e as práticas de cuidado. Em relação ao material didático, Vera ressaltou dois livros específicos: o Guia do Curso e os Textos de Apoio. “O Guia oferece um caminho para educadores e educandos, organiza os encontros e propõe atividades. Porém na formação docente, frisamos que os docentes não precisam segui-lo como um roteiro fixo. Os textos de apoio foram elaborados, como o próprio nome diz, para apoiar as atividades. Eles apresentam conteúdos consideramos fundamentais para a educação popular em saúde, relacionados aos Eixos”, explicou Vera.

Um dos maiores desafios, segundo Grasiele, foi pensar em como fazer um currículo nacional de um curso de educação popular, no qual se utilizam os princípios de Paulo Freire e que se parte da experiência dos sujeitos participantes/educadores/educandos para pensar na produção do saber e construção de novas práticas. “Pensamos em como fazer um arranjo curricular sem que fosse uma ‘amarra’, sem engessar o processo educativo. Por isso fizemos um currículo por eixos temáticos, que não são apresentados em aulas, mas sim em encontros”, afirmou.

Para Grasiele, a riqueza da educação popular se dá no exercício de autonomia e da participação democrática. “Novos arranjos foram criados nos estados como, por exemplo, reuniões em praças públicas e visitas aos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e aos quilombos. Toda essa relação de contato com os movimentos sociais e com diferentes culturas foi muito positiva. A gente vê a quebra de preconceitos, a quebra de uma ideia de verdade única que a educação popular promove”, ressaltou Grasiele, que afirmou que a potência da experiência do curso é transformar a forma de fazer a educação.

Grasiele lembrou da mostra estadual de encerramento do curso no Rio de Janeiro, realizada no dia 18 de julho, na EPSJV/Fiocruz, com a participação de cerca de 400 pessoas de 22 municípios.  “Na mostra, os educandos sistematizam o processo da aprendizagem e as vivências do curso e compartilham tudo isso”, disse.

Por fim, Grasiele apontou que o EdPopSUS é um grande projeto de resistência política. “A gente está na luta pela reforma sanitária e pela garantia dos direitos e no combate aos retrocessos das políticas que atingem a Atenção Básica, além de estarmos contra o Programa de Formação Técnica para Agentes de Saúde (Profags), do Ministério da Saúde, que prevê o curso de formação técnica em enfermagem para ACS e agentes de combate a endemias (ACE)”, salientou.

“Como foi o impacto do EdPopSUS nos estados e nos serviços de saúde? O que aconteceu com os trabalhadores depois do curso?”, questionou Travassos, abrindo o debate. Vera Dantas, do Ceará, contou a experiência de Fortaleza: “No Ceará, o processo do curso foi enriquecedor ao revelar a possibilidade de ACS e ACE trabalharem juntos, por perceberem que um complementava a ação do outro. A turma de Fortaleza, que reúne pessoas de diferentes regiões e categorias, por exemplo, decidiu circular nas regionais fazendo vivências de ciclo de cultura e momentos de cuidado”.

No debate, educandos e educadores exploraram aspectos variados do curso. Houve comentários sobre a criminalização dos movimentos sociais e como incluí-los de forma mais potente na educação popular, sobre consciência política e sobre como instrumentalizar práticas políticas e empoderar indivíduos.