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EPSJV forma turma de especialistas em mamografia

Único curso público do tipo no país, a formação contemplou 22 trabalhadores, preconizando três pilares: humanização, cuidado e técnica
Viviane Tavares - EPSJV/Fiocruz | 06/12/2019 10h44 - Atualizado em 01/07/2022 09h43

Humanização, cuidado do outro e de si e técnica. Esses foram os três pilares citados unanimemente por professores e estudantes que simbolizaram a turma de Especialização Técnica de Nível Médio em Mamografia. O curso oferecido pela Escola Politécnica Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz) é o único ofertado de forma totalmente gratuita no país. A formatura aconteceu na última quarta-feira (04/12), no auditório Joaquim Alberto Cardoso de Melo, na sede da Escola, com a presença dos 22 formandos e seus familiares professores e do presidente do Conselho Regional de Técnicos em Radiologia do Rio de Janeiro (CRTR4).

“Em momentos de crise ética e moral como a que estamos vivendo devemos influir no discurso e na prática  para a transformação e garantia do Sistema Único de Saúde brasileiro. Permitir que o usuário do SUS, pobre ou rico, expresse seu pensamento, no entendimento de que ele tem direito. O SUS é um direito. E devemos garantir isso seja no aspecto legal, profissional e humanitário”, discursou a professora-pesquisadora Glaucia Pires, coordenadora do curso, durante a abertura do evento.

O público-alvo da formação eram profissionais técnicos e tecnólogos em Radiologia e físicos que atuam na rede pública de saúde. O objetivo do curso foi promover uma atualização em serviços de diagnóstico por imagem. A diretora da EPSJV Anakeila Stauffer relembrou em sua saudação que os  estudantes assumiram desde sempre o papel de multiplicadores de conhecimento e realizaram na Escola  uma campanha de conscientização sobre o câncer de mama durante o mês de outubro. “Vocês se tornaram agentes importantes para salvar a vida das mulheres e começaram aqui dentro. Para além disso, compreenderam a importância de defender o SUS e a educação pública de qualidade”, refletiu.

Sobre o curso e edição 2019

A especialização começou a ser ofertada em 2012, sob coordenação dos professores Alexandre Moreno e Sérgio Ricardo. De lá para cá, foram três turmas formadas e cerca de 70 estudantes especializados. A última edição do curso, realizada de junho a novembro, abordou temas como políticas públicas, saúde da mulher, ética, anatomia e fisiologia da mama, saúde do trabalhador e sistemas e gerenciamento para a qualidade.

Este ano, os estudantes puderam, ainda, realizar estágios supervisionados em instituições públicas como o Hospital do Corpo de Bombeiros e Hospital Federal dos Servidores do Estado. 

O supervisor de estágio e servidor do Hospital dos Servidores Vinicius José Barroso Ribeiro avaliou essa participação: “O perfil dos profissionais é de alta qualificação técnica para a área, mas o lado humanizado se soma à atuação – e é justamente isso que preconizamos para a realização deste tipo de exame”.  Vinícius afirmou ainda que o Hospital tem necessidade em contratar os estagiários. No entanto, por questões burocráticas e políticas, avalia ele, a ideia não pode ser concretizada. “Temos mamógrafos funcionando a pleno vapor e poucos profissionais para manuseá-los. Se tivéssemos a equipe completa, poderíamos ampliar o atendimento de apenas três dias para todos os dias da semana”, apontou. Mas isso significaria a contratação de, pelo menos, três profissionais, calcula o supervisor.

Para Glaucia Pires, esta edição do curso  conquistou uma meta importante: a evasão zero. “Essa já é uma vitória, pois muitos tinham de conciliar trabalho e estudo intenso. A possibilidade de aproveitamento também é muito grande. Essa turma é a terceira em que formamos especialistas em mamografia, somos o único curso de especialização no Rio de Janeiro. Os trabalhadores daqui já saem com uma educação diferenciada tanto no conteúdo, quanto na sensibilidade e compreensão de seu papel na saúde pública”, resume.

Perfil profissional

De acordo com a conselheira regional e professora do curso Cátia Benevides, o especialista técnico em mamografia é o profissional que tem mais responsabilidade na área de radiodiagnóstico. “O exame que ele realiza deve ser de excelência, pois assim dará ao médico condições de tratar o câncer de mama na origem”, reflete. E completou: “É o profissional que, em sua atuação, engloba diversas áreas como a ética, a técnica e a humana, sempre ligadas ao cuidado”.

Os profissionais são regidos pela lei 7.394, de 1985, e também pelo decreto 92.790, de 1986 e pela portaria 3.189, publicada pelo Ministério da Saúde em 2009. Tratam-se dos mesmos instrumentos legislativos que regulam a profissão dos técnicos em radiologia. A remuneração é equivalente a dois salários mínimos, e há um acréscimo de 40% aos vencimentos por conta de risco de vida e insalubridade. O combate à terceirização e o cumprimento do piso salarial são algumas das principais lutas desses trabalhadores.

A atividade é fiscalizada pelos conselhos regionais, que avaliam a formação e a habilitação dos profissionais. “Onde tem o profissional que executa as técnicas de radiologia o conselho vai atuar. A formatura desses novos técnicos é uma conquista importante para a formação de um quadro de trabalhadores extremamente qualificados.”, informa Marcello Costa, presidente do CRTR4.

Para Luciana Medeiros, estudante da especialização e trabalhadora do Hospital Federal de Ipanema,  as unidades de saúde têm carência de pessoas especializadas. “Estamos com falta de profissionais que saibam realizar o exame de forma correta e que tenham sensibilidade para um momento tão delicado, que envolve questões diversas do corpo e da mente”, reflete. E acrescenta: “No entanto, para tais particularidades, precisamos melhorar as condições de trabalho tanto de valorização profissional, quanto no apoio estrutural para a realização dos exames” .

Luciana é um dos casos de estudantes que já trabalhavam e quis se aprofundar e atualizar sua formação. “Sou formada desde 2002 e trabalhava em Raios-X, quando fui para o setor de pacientes com diagnóstico de câncer. Antes dessa formação, sentia dificuldades. Mas agora posso falar que sei fazer mamografia. Aprendi tudo o que tem que ser feito, as complementações, o que o paciente precisa”, descreve.

Câncer de mama no Brasil

De acordo com o levantamento 'A situação do câncer de mama no Brasil: Síntese de dados dos sistemas de informação' do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) publicado em outubro deste ano, as estimativas de incidência para o ano de 2019 são de 59,7 mil casos novos, o que representa 29,5% dos cânceres em mulheres. Em 2016, ano com último dado disponível, ocorreram 16.069 mortes de mulheres por conta da doença. O câncer de mama é o que mais acomete as mulheres no território nacional.

Os estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil tiveram taxas brutas de mortalidade por câncer de mama superiores à taxa nacional em 2016, chegando a atingir valores maiores que 20 óbitos por 100 mil mulheres no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Já, o Maranhão e os estados da região Norte, exceto Rondônia e Tocantins, tiveram as menores taxas brutas de mortalidade por câncer de mama no país

O estudo apontou ainda que as diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer de mama  preconizam a oferta de mamografia para mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Dados do Sistema de Informação Ambulatorial do SUS (SIA/SUS) indicam que, em 2018, a produção de mamografias no sistema público atingiu mais de 4,6 milhão. A oferta de mamografias de rastreamento para a faixa etária de 50 a 69 anos aumentou em 19% no SUS entre 2012 e 2017.

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