Serviços 
O conteúdo desse portal pode ser acessível em Libras usando o VLibras

EPSJV inicia curso de Formação Docente em Educação Popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica

Objetivo é formar educadores populares para o desenvolvimento de ações de valorização, reconhecimento e integração dos saberes populares sobre o uso de plantas medicinais no cuidado à saúde
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 22/04/2021 09h54 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) iniciou nesta semana o curso Formação Docente em Educação Popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica. A formação é realizada com a colaboração do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) e da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Com o objetivo de formar 20 educadores populares para o desenvolvimento de ações que envolvam a valorização, o reconhecimento e a integração dos saberes populares de cultivo, coleta, preparo e uso de plantas medicinais no cuidado à saúde, a formação será realizada de forma remota. A formação é dirigida, principalmente, aos Agentes Comunitários de Saúde, Agentes de Vigilância em Saúde ou de Controle de Endemias, lideranças comunitárias e representantes de movimentos sociais; mas pode ser estendida a outros profissionais da Atenção Básica.

Segundo as coordenadoras do curso, Grasiele Nespoli e Camila Borges, os momentos assíncronos serão destinados ao estudo do conteúdo do livro “Educação popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica à Saúde”, já disponível no Portal EPSJV, e à experimentação do jogo educativo Semeando o Cuidado, que está em fase de finalização. “O livro e o jogo foram desenvolvidos como recursos pedagógicos abertos, públicos, de livre acesso para todos que queiram se apropriar, promover e propor estratégias de integração dos saberes populares de uso de plantas no cuidado”, explica Grasiele.

Já as aulas ao vivo, momentos síncronos, serão para o diálogo e reflexão sobre os temas abordados no curso -  relação entre educação popular, cultura e plantas medicinais; as racionalidades médicas e as práticas de cuidado; os desafios da fitoterapia no âmbito da atenção básica e do direito universal à saúde; a importância dos saberes tradicionais para a ciência das plantas medicinais; estratégias de investigação e sistematização dos saberes e práticas populares; modos de preparo e uso das plantas medicinais; importância da agroecologia para a saúde pública; técnicas de construção de hortas; e cuidados com as plantas medicinais.

De acordo com Grasiele, a proposta visa a formação pedagógica de trabalhadores, educadores, lideranças comunitárias e de movimentos sociais, com base nas ideias oriundas da educação popular, principalmente do pensamento de Paulo Freire. “Nesse sentido, o curso busca fomentar estratégias como a investigação do uso de plantas nos territórios, entrevistas com os guardiões dos saberes sobre as plantas, organização de herbários das plantas cultivadas e coletadas nos territórios, modos de preparo e uso de plantas no cuidado, e construção de hortas comunitárias com participação popular", ressalta. 

A tradição de uso de plantas medicinais, na avaliação de Camila, além de ser fonte para a construção do conhecimento científico, é uma forma de preservação do importante patrimônio cultural e natural do país. “Por isso, no curso, a valorização dos saberes tradicionais para o cuidado não se restringe ao uso individual das plantas, ao contrário, tem como horizonte o fortalecimento da participação popular e a produção de novas relações comunitárias no contexto dos territórios de vida e trabalho”, aponta. Grasiele acrescenta: “A produção do cuidado, na perspectiva da educação popular, envolve o enfrentamento da ordem social neoliberal que mercantiliza a vida e gera modos de exploração, opressão e dominação dos trabalhadores”.

Educação Popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica à Saúde

Organizada pela EPSJV, a publicação foi criada como material educativo para o curso Educação popular e plantas medicinais na atenção básica à saúde. O livro dialoga também com o material utilizado no curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde, o EdpopSUS, e aprofunda o reconhecimento dos saberes populares, com ênfase no cultivo e no uso de plantas medicinais e fitoterápicos nos processos de cuidado.

A publicação foi organizada em duas partes. Na primeira, ‘Educação popular, atenção básica e plantas medicinais: o valor da cultura e da ciência’, há uma reflexão sobre a importância da educação popular como práxis comprometida com o reconhecimento e a valorização dos saberes e culturas populares. Essa parte busca reconhecer as diferentes concepções e práticas de cuidado e apresenta uma discussão sobre o que, no campo da saúde, chama-se de sistemas e racionalidades médicas, para indicar como as práticas de cuidado se diferenciam em seus fundamentos teóricos e práticos. Nessa parte, ainda está disponível uma reflexão sobre a importância da fitoterapia como prática integrativa e complementar na atenção básica à saúde, considerando o desafio do direito universal à saúde. E uma problematização sobre a dimensão complementar e integrativa de diferentes práticas de cuidado em relação à medicina científica, bem como o reconhecimento dos guardiões e mestres dos saberes populares, das plantas medicinais e de seus modos de cultivo, preparo e uso. A identificação e a sistematização dos saberes sobre as plantas por território, o diálogo com os guardiões dos saberes populares e a compreensão dos modos de uso das plantas e de preparo de remédios caseiros no cuidado à saúde também serão compartilhados na parte 1. 

Já a segunda parte, ‘Cultivar plantas e semear cuidado: a horta como projeto popular’, tem como fio condutor a construção de hortas comunitárias, caseiras e familiares, a partir das plantas que podem ser cultivadas e identificadas nos territórios. O texto parte da experiência concreta de construção das hortas, permeada por rodas de conversa nas quais serão abordados temas como sistemas agroecológicos, compostagem e irrigação, formas de cultivo, modos de preparo e de uso, e finalidade das plantas para o cuidado à saúde. Ao final dessa parte, será possível compreender a importância do processo de sistematização dos saberes sobre as plantas medicinais dos territórios e da própria experiência educativa.