Em 2012, o Ministério da Saúde instituía o Plano de Expansão da Radioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS). Com o objetivo de articular projetos de ampliação e qualificação de hospitais habilitados em oncologia às demandas regionais de assistência oncológica e tecnológica do SUS, a iniciativa previa a implantação de 80 aceleradores lineares em diversas cidades do Brasil – 16 já estão em funcionamento. Os aceleradores lineares são equipamentos de alta tecnologia utilizados por técnicos em radiologia especialistas em radioterapia e desenvolvidos para emitir a radiação utilizada em diversos tratamentos para combater o câncer na radioterapia. A expectativa do Ministério é que esse número possibilite o tratamento de alguns milhares de pessoas a mais por ano. Como parte dessa política, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) coordenou, entre 2017 e 2018, o Curso de Especialização Técnica de Nível Médio em Radioterapia com Ênfase em Aceleradores Lineares, em parceria com a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS) e o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A iniciativa, que chegou ao fim em fevereiro de 2019, formou 133 trabalhadores do SUS vinculados aos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) e Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon). “Especializamos profissionais de 43 hospitais em 19 estados e no Distrito Federal. Hoje, ainda temos 103 profissionais interessados cadastrados na fila de espera do projeto. Os hospitais ainda ligam perguntando sobre o curso, porque o Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia exige a especialização na área”, destaca Alexandre Moreno, coordenador do curso e professor-pesquisador da EPSJV/Fiocruz.
Com o fim da vigência do projeto, Moreno afirma que a perspectiva é que agora a Escola Politécnica faça um estudo com os egressos do curso. “Algo como um levantamento dos impactos da formação no trabalho”, define.
A formação
Reunindo profissionais de todo o país, a formação foi realizada nas Escolas Técnicas do SUS (ETSUS) – Centro Formador de Pessoal para Saúde de São Paulo, em São Paulo (SP); Escola de Formação Técnica em Saúde Prof. Jorge Novis , em Salvador (BA); Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues, em Fortaleza (CE); e Centro Formador de RH Caetano Munhoz da Rocha, em Curitiba (PR). “Nós preparamos os técnicos tanto para a aquisição das imagens radiológicas para planejamento quanto para a aplicação das radiações ionizantes no usuário. Essa radiação se dá por meio de aceleradores lineares, que são equipamentos utilizados no tratamento do câncer”, ressalta Moreno.
A especialização foi organizada em três eixos – Ciência, Saúde e Trabalho –, totalizando 900 horas de formação. Todos os eixos incluíram a parte teórica, estágio supervisionado ou prática profissional e atividades online. As aulas teóricas aconteciam durante duas semanas consecutivas, em três períodos, em uma das ETSUS parceiras, seguidas do estágio ou prática profissional e das atividades online. Os estágios foram realizados nos hospitais públicos Aristides Maltez (BA), Erasto Gaertner (PR), Santa Marcelina (SP), Instituto do Cancer do Ceará (ICC) e Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP). Sérgio Ricardo de Oliveira, vice-diretor de pesquisa da EPSJV/Fiocruz e um dos professores do curso, destaca a importância da parceria entre as instituições para a formação de profissionais para o SUS e a expansão da Radioterapia no país. “A radioterapia é fundamental para o diagnóstico e o tratamento dos pacientes com câncer”, destaca.
O corpo docente do curso foi composto por profissionais da EPSJV/Fiocruz, especialistas na área de Radioterapia, bem como médicos, físicos e educadores que foram formados no Curso de Capacitação para a Formação de Multiplicadores de Técnicos Especializados em Radioterapia, realizada no Inca, também como parte do projeto, entre o final de 2016 e o início de 2017.
Dados do câncer no Brasil
Em 2018, o Inca divulgou o último levantamento disponível com os números do câncer no Brasil. Segundo o estudo, o país teve cerca de 600 mil novos casos, aproximadamente 282.450 em mulheres e 300.140 em homens. O tipo de câncer mais incidente em ambos os sexos foi o de pele não melanoma, que é um tipo de tumor menos letal, com 165.580 novos casos. Em seguida, os dez tipos de câncer mais incidentes no país foram, de acordo com o relatório, próstata, mama feminina, cólon e reto, pulmão, estômago, colo do útero, cavidade oral, sistema nervoso central, leucemias e esôfago. “O curso é uma experiência importante para o SUS, porque qualifica e amplia ainda mais o número de atendimento nessa área, o que tem sido cada vez mais necessário”, conclui Moreno.