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EPSJV/Fiocruz inicia curso de vigilância em saúde para o enfrentamento das arboviroses em Maricá

Formação faz parte de pesquisa feita pela Fiocruz para promover a inovação em educação e comunicação com o objetivo de prevenir a zika e outras doenças transmitidas por mosquitos
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 13/06/2019 12h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h43

Manguinhos, bairro na zona norte do Rio de Janeiro; Ceilândia, na região administrativa do Distrito Federal; Maricá e Paraty, municípios do Rio de Janeiro. O que esses locais têm em comum? São todos territórios com áreas de vulnerabilidade ambiental e econômica, considerando que as condições de habitação interferem na saúde dos moradores e favorecem a proliferação do Aedes aegypti – mosquito transmissor de diversas arboviroses, como a dengue, a zika e a chicungunha. Essas semelhanças foram centrais na escolha deles como os locais de atuação da 'Pesquisa científica e tecnológica para inovação em educação e comunicação para a prevenção da zika e doenças correlatas nos territórios' – coordenada pela presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nísia Trindade, e desenvolvida pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), em conjunto com outras unidades da Fundação – Museu da Vida, Fiocruz Brasília e Canal Saúde –, além do Observatório de Território Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina. 

Na busca pelo fortalecimento de políticas públicas de prevenção e combate a essas doenças, a EPSJV/Fiocruz deu, no dia 11 de junho, o pontapé para a quinta etapa da pesquisa, com o início do curso de desenvolvimento profissional em vigilância em saúde para o enfrentamento das arboviroses. Oferecida a 36 trabalhadores da saúde, da educação, da Ciência e Tecnologia e de outros setores de governo, além de representantes de entidades sociais, a formação visa formar lideranças setoriais, institucionais e comunitárias. Sua tarefa será  investigar os problemas de saúde e as vulnerabilidades sociais, sempre em estreita  articulação com os serviços de saúde e outros setores de governo, de modo a  estimular que a mobilização da população no enfrentamento das arboviroses nos territórios.

“A ideia é que o curso dê instrumental teórico e conceitual para formar pessoas que possam propor e conduzir soluções, trazendo os seus saberes, os seus recursos e as vozes dos territórios, para que se sintam sujeitos dos processos de intervenção e ajudem os serviços de saúde locais a implementarem uma vigilância em saúde de base popular. Ou seja: incorporar os sujeitos nos processos de trabalho da saúde”, destaca o professor-pesquisador da EPSJV/Fiocruz Maurício Monken, que divide a coordenação do curso com Edilene Pereira.

Com carga horária de 184 horas, que inclui aulas teóricas e trabalhos de campo em áreas de abrangência de unidades de saúde do município, o curso tem nove módulos temáticos. São eles: território e saúde; ecologia e a determinação social da saúde; SUS e o processo de trabalho da vigilância em saúde; vigilância e manejo integrado de arboviroses; saneamento ambiental e tecnologias sociais; cultura, comunicação e educação para o manejo integrado das arboviroses; vigilância em saúde de base popular: mobilização social para o enfrentamento das arboviroses; diagnóstico de condições de vida e situação de saúde e planejamento de ações; e laboratório de tecnologias comunicativas para divulgação científica.

Ao fim do curso, previsto para setembro deste ano, os estudantes irão montar exposições sobre as arboviroses no território. “Os alunos farão um diagnóstico do território para montar um planejamento estratégico, produzindo uma exposição, que será itinerante e servirá de instrumento para mobilização”, adiantou Monken. “Nosso objetivo final é desenvolver um modelo de educação ambiental em saúde, com foco nas arboviroses, no sentido de mobilizar a população e servir de referência para outros municípios”, acrescenta Edilene.

As próximas turmas irão acontecer ainda esse ano em Ceilândia e Manguinhos e, em 2020, em Paraty.

Pesquisa

Em novembro de 2015, o Ministério da Saúde declarou a situação de emergência nacional em saúde pública por zika e microcefalia no Brasil, quando foi notado um aumento incomum dos casos de microcefalia no Nordeste. A má formação foi, posteriormente, relacionada à infecção pelo vírus da zika. No mesmo ano, a Fiocruz montou um gabinete de crise para discutir a conjuntura e criou um termo de referência sobre as arboviroses, no sentido de pensar a mobilização social.

“Logo depois, a Escola Politécnica promoveu reuniões com o conjunto de trabalhadores para pensar em respostas e ações para o enfrentamento das arboviroses. Fizemos rodas de conversas com os alunos do ensino médio, do curso técnico de vigilância em saúde e do curso de qualificação profissional em vigilância em saúde ambiental, e com os trabalhadores”, aponta Edilene. “Em seguida, a Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz provocou as unidades  a apresentarem ideias para formulação de um projeto de pesquisa único da Fiocruz”, complementa Monken.

Foi então que o projeto intitulado ‘Pesquisa científica e tecnológica para inovação em educação e comunicação para a prevenção da zika e doenças correlatas nos territórios’, foi aprovado no edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que selecionou projetos que relacionassem a zika aos casos de microcefalia.

A pesquisa, que teve início em 2016, tem como objetivo mobilizar jovens, professores e pais de estudantes da rede pública, moradores, lideranças locais, organizações comunitárias e profissionais de saúde para o tema. A metodologia utilizada é a pesquisa-ação, voltada para o aprimoramento das práticas estudadas e resolução de problemas coletivos.

Ao todo, a pesquisa tem dez etapas. A primeira foi a construção do marco lógico da pesquisa, quando foram entrevistados profissionais da Fiocruz e do Ministério da Saúde para entender como foi conduzida a emergência sanitária. Na segunda etapa foi a vez de fazer o reconhecimento dos territórios.Na sequência,  o foco foi na formação de multiplicadores nas escolas e comunidades. Já a quarta etapa foi dedicada à realização do Fórum Ciência e Sociedade , que aconteceu durante o ano de 2018 em Maricá, Ceilândia e Manguinhos. Em 2019, o evento acontecerá em Paraty.

As próximas etapas da pesquisa serão a implementação e análise dos planos de ação nos territórios, a produção de exposições e materiais audiovisuais, a apresentação das metodologias de gestão e avaliação, trazidas pelo Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina e, por fim, a ampla divulgação dos resultados em publicações e eventos.