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Escola Politécnica conclui turma do Curso Piloto de Formação para as Cozinhas Solidárias

Ação integra o Programa Cozinhas Solidárias, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), e aconteceu simultaneamente em mais dois estados do país
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 05/12/2025 10h52 - Atualizado em 05/12/2025 10h58
Foto: Larissa Guedes

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) encerrou, no dia 26 de novembro, o Curso Piloto de Formação para as Cozinhas Solidárias - Turma Rio de Janeiro. A formação faz parte de uma iniciativa nacional voltada para a qualificação das equipes que atuam em Cozinhas Solidárias, responsáveis por oferecer alimentação gratuita e de qualidade à população em situação de vulnerabilidade. A ação integra o Programa Cozinhas Solidárias, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), e busca fortalecer a segurança alimentar e nutricional em todo o país. Nesse contexto, a Fiocruz, por meio da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), passou a integrar a organização das ações formativas do Programa.

Para construir a proposta pedagógica, o MDS realizou um mapeamento de instituições e movimentos sociais que já desenvolviam experiências formativas nessa área. Entre os destaques estão a Escola Politécnica; a Escola Paulo Freire, em São Paulo; e a Fiocruz Pernambuco. A partir desse levantamento, a Escola Nacional Paulo Freire elaborou uma proposta curricular inicial, que foi discutida coletivamente por um grupo formado para esse fim, resultando na atual proposta de formação.

O curso piloto foi estruturado em seis encontros e contou com três turmas simultâneas: uma na EPSJV, no Rio de Janeiro (RJ); outra na Fiocruz Pernambuco, em Recife (PE); e a terceira na Escola Nacional Paulo Freire, em São Paulo (SP). Todas seguiram o mesmo cronograma e plano de curso. Além de sediar uma das turmas, a Escola Politécnica ficou responsável pela certificação de todas as turmas.

Cerimônia de formatura

Na mesa de encerramento, estiveram presentes: Rafael Toitio, representante do Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e integrante da coordenação nacional do curso; David Martins, representante da Escola Nacional Paulo Freire; Danubia Gardênia, representante da VPAAPS; Flávio Paixão, coordenador-geral do Ensino Técnico da EPSJV; Paulo César Ribeiro, professor-pesquisador da EPSJV; e Lásaro Stephanelli e Taísa Machado, também professores-pesquisadores da Escola Politécnica e coordenadores do curso no Rio de Janeiro.

Flávio destacou que o encerramento do curso representa mais do que uma conclusão: reafirma um compromisso. Segundo ele, a EPSJV quer estar ao lado de quem, todos os dias, enfrenta a fome com organização, afeto e luta por direitos nas cozinhas solidárias. “Meu reconhecimento e agradecimento a cada um que passou por essa formação, que leva consigo não só técnicas e boas práticas, mas também o nosso axé, enquanto vitalidade para as lutas", afirmou, ressaltando que essa formação também carrega uma visão de soberania alimentar, agroecologia e economia solidária como pilares de um outro projeto de sociedade.

O coordenador lembrou que a escola reconhece o esforço dos participantes, que conciliam o trabalho cotidiano nas cozinhas — muitas vezes em territórios marcados pela vulnerabilidade — com estudo e reflexão coletiva. Para ele, estar alinhado com as cozinhas solidárias é parte da missão da EPSJV de defesa do direito humano à alimentação adequada como questão de saúde, cidadania e democracia. Flávio também enfatizou que o curso integra uma rede maior, envolvendo movimentos sociais, coletivos populares e políticas públicas necessárias, mostrando que a resposta à fome passa pela organização comunitária e pela educação crítica. “O encerramento de hoje jamais constitui um ponto final; é um convite para fortalecer ainda mais os vínculos entre a nossa escola e os territórios, para que as cozinhas sigam sendo passos de cuidado, formação e resistência”, concluiu.

Para Rafael, fortalecer as cozinhas solidárias é fortalecer as comunidades brasileiras. Ele destacou que essas iniciativas representam uma tecnologia social capaz de transformar vidas enquanto combatem à fome. “Fortalecer as cozinhas solidárias é fortalecer a tecnologia social que transforma a vida do povo ao mesmo tempo que mata a fome”, afirmou. Segundo Rafael, a formação oferecida pelo curso é essencial para dar condições técnicas, coletivas e políticas aos participantes. Ele ressaltou que, na etapa final de avaliação, foi gratificante ouvir relatos sobre como os grupos estão se articulando melhor, descobrindo outras cozinhas, equipamentos e estratégias para se organizar como força política.

O representante do MDS também chamou atenção para a dimensão da consciência: “Muitas pessoas entenderam que, ao preparar uma refeição, estavam participando de uma estratégia maior de combate à insegurança alimentar. Essa é uma ação que envolve vários atores, mas as cozinhas solidárias têm um papel único: chegar aonde o Estado não chega, saber onde está a população de rua, quem está passando fome, quem perdeu emprego”, explicou.

David destacou a importância do curso como experiência piloto para fortalecer as cozinhas solidárias e promover formação técnica voltada à segurança alimentar. “Eu estou tendo o privilégio de acompanhar esse trabalho, que é muito satisfatório. Vir aqui, estar em São Paulo, em Recife, acompanhando essa experiência piloto é algo muito importante”, afirmou. Segundo ele, a iniciativa simboliza “o que o Brasil tem de melhor e de maior potencialidade”, reunindo esforços de instituições estratégicas e movimentos populares.

David lembrou que as cozinhas nasceram sem apoio governamental, no contexto da pandemia da covid-19: “Enfrentamos um governo que não se importava com quantas pessoas morressem de fome ou de doenças. Então, construíram na raça esse trabalho das cozinhas”. Para ele, garantir o direito à alimentação e combater a fome são tarefas coletivas. “São feitos por pessoas lutadoras, que enfrentam dificuldades e constroem espaços de alimentação. São histórias de resistência”, afirmou. Para ele, a solidariedade popular é a força motriz dessas iniciativas: “Não foi o dinheiro que fez isso começar, e não é o dinheiro que sustenta a garantia do direito à alimentação. É a convicção do povo.”

Em sua fala, Danúbia destacou que o processo metodológico do curso foi construído com muito cuidado e saberes: “Isso é o que faz esse curso acontecer. Quando vocês trazem seus conhecimentos, tudo fica mais potente”. Para Danúbia, a cozinha não é só comida, mas envolve fome, segurança alimentar, cuidado, convivência e educação popular. “A cozinha é muito mais. Na perspectiva educativa, estamos falando de uma educação emancipadora, antirracista, feminista, de luta de classe”. Por fim, agradeceu às parceiras e ressaltou a comida como metodologia: “Não é trivial pensar a comida assim. Ela é cuidado, revolução e processo. Como comemos, com quem comemos, quem faz nossa comida, tudo isso importa”. Para ela, esse trabalho é político e seguirá nos próximos anos: “Vamos construindo essas bonitezas nos territórios”.

Paulo ressaltou que as experiências trazidas pelos participantes são fundamentais para consolidar esse processo: “Sem vocês, esse curso piloto não faria sentido”. Para ele, erros e acertos fazem parte da construção coletiva e tornam a luta permanente. Segundo Paulo, a convivência nos encontros foi única e bem-sucedida. “Vocês se entregaram à proposta. Com a experiência de vocês, pensamos o futuro”, comemorou. Ele explicou que o trabalho será sistematizado para garantir continuidade: “Vamos analisar relatórios, ver o que funcionou e propor melhorias”.

Paulo também contextualizou a origem da iniciativa: “Foi o movimento social, após a pandemia, que veio à Fiocruz buscar apoio para implementar uma proposta que já existia”. Ele enfatizou que instituições públicas precisam ser pressionadas pelos movimentos. “A tendência do Estado é atender à minoria que detém poder. É a organização da classe que move o Estado em outra direção”, afirmou.

Em seguida, Taísa agradeceu a oportunidade de coordenar o curso que, para ela, foi marcante: “Aprendi muito com vocês, a partir da realidade de cada território. Cada momento trouxe marcas para minha vida profissional”. Segundo Taísa, as trocas foram fundamentais. “Se não tivéssemos esse momento de troca, com saberes diversos, não teríamos alcançado tanta sintonia”, lembrou, destacando que o curso permitiu compreender realidades locais, como potencialidades, desertos alimentares, e pensar propostas a partir das falas dos participantes.

Segundo Lásaro, cada encontro impulsionou a equipe a melhorar. “A cada módulo, imaginávamos como seria, e então vocês chegaram e transformaram nossos dias. Vocês trazem contextos que nos desafiam a fazer sempre melhor”, disse. Para ele, a Escola Politécnica foi quem mais ganhou nesse processo e fez um pedido: “Levem esse conhecimento para os territórios, para as pessoas próximas, para transformar a realidade”. Ele reforçou a importância de multiplicar o aprendizado: “Que isso chegue à sua rua, à sua comunidade. Vamos juntos nessa construção”.

Em uma segunda mesa, estiveram: Vitor Lourenço, coordenador do Fórum de Cozinhas Solidárias do Rio de Janeiro; e Ana Trota, assistente social e estudante do curso.

Para Vitor, o projeto político das cozinhas solidárias vai além da distribuição de alimentos. “Nosso projeto político é de vida. Nós defendemos a vida”, afirmou. Ele ressaltou que essas iniciativas são instrumentos cotidianos de defesa da vida, não apenas para enfrentar a fome. “Combater a fome é o nosso mote principal, mas eu acho que existem também outras coisas dentro das cozinhas que fazem esse processo de defesa da vida”, explicou. Segundo Vitor, as cozinhas solidárias promovem formação profissional, educação popular e outros processos que fortalecem os territórios. “São espaços que garantem comida e que garantem a política pública existir”, disse. Ele lembrou que o Programa Cozinhas Solidárias só se tornou realidade graças ao trabalho dessas cozinhas. “Não ia existir o programa se não fossem as cozinhas solidárias”, enfatizou.

Ana avaliou positivamente a experiência no curso piloto, ressaltando o material e a forma como o conteúdo foi apresentado. “Foram bem elaborados e apresentados de forma clara, nos ajudando a nos aprofundar mais ainda. O curso nos proporcionou um aprendizado valioso e esclarecedor, tanto profissionalmente quanto pessoalmente”, destacou. Ana também enfatizou a importância das trocas de experiências entre os participantes, que enriqueceram o processo. “Foram trocas de experiências maravilhosas que tornaram aprendizado e a linguagem do curso piloto mais rica”, disse.

Por fim, incentivou todos a levarem consigo os conhecimentos adquiridos: “Cada um de vocês que participou aqui, que vocês levem, como eu estou levando, as experiências que compartilhamos para que assim possamos crescer em diversas áreas”.