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Exibição do filme ‘Saneamento Básico’ levanta debate sobre diversos temas na Escola Politécnica

Cine-clube encerrou a programação da Semana de Ciência e Tecnologia organizada pela escola.
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 29/10/2009 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


O papel do Estado na vida da população, a educação e o comportamento da sociedade diante das ações promovidas pelos governos foram alguns dos temas debatidos no cine-clube promovido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) com a exibição do filme ‘Saneamento Básico’, de Jorge Furtado. O evento aconteceu no dia 23 de outubro e fez parte da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia organizada pela EPSJV.



‘Saneamento Básico’ mostra a história de uma comunidade do interior do Rio Grande do Sul que se une para pleitear ao governo municipal a construção de uma fossa na localidade. Ao descobrirem que a prefeitura não tem verba para a obra, mas tem para a produção de um vídeo, decidem fazer um filme educativo sobre o assunto. O objetivo é usar o dinheiro do vídeo para a obra da fossa, mas ao longo da história, os objetivos de perdem e a construção da fossa acaba não sendo concluída. Já o filme produzido faz um grande sucesso na cidade e traz mudanças para a vida de seus participantes.



Após a exibição do filme, o público, formado principalmente por alunos da EPSJV, participou de um debate com os pesquisadores Alexandre Pessoa, do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos/Fiocruz; e Marcela Pronko, da EPSJV, além do aluno do curso técnico de Gerência em Saúde integrado ao ensino médio da Escola, Ramon Chaves.



Para Marcela, o filme mostra três questões principais que merecem ser debatidas: a ausência do Estado, a falta de questionamento da população e o benefício individual dos indivíduos em detrimento do benefício coletivo. “Há uma reconfiguração do Estado, que passa para as pessoas a responsabilidade pelo gerenciamento da própria vida. A comunidade detectou um problema e se virou com a verba que a prefeitura tinha. Mas o Estado não desapareceu, está guiando a vida das pessoas. Outra questão importante é que no filme ninguém questiona por que as coisas são como são. Por que tem R$ 10 mil para fazer um filme, mas não para fazer a obra da fossa? Ninguém no filme reivindica seus direitos e isso é grave porque o saneamento é um direito. E, no final, todos se dão bem individualmente, mas o bem de todos, que é a construção da fossa, não aconteceu. O filme mostra a realidade de uma sociedade que premia o esforço individual”, explicou. Para Ramon, o filme também mostra como as coisas perdem seu sentido real no decorrer de um processo. “Ao longo da história, a fossa deixou de ser importante e o filme passou a ser mais importante. E, no final, o filme foi feito, mas a fossa não”, registrou.



Durante o debate, o público levantou questões como o papel dos políticos (como o prefeito retratado no filme), que pensam apenas em se promover e deixam de lado o benefício da população. Outra questão foi o papel da educação na vida das pessoas, que as levam a tomar atitudes como produzir um filme educativo não convencional, como o feito em ‘Saneamento Básico’. “A educação é um processo cognitivo, as pessoas aprendem na vida, nas relações sociais, na solidariedade. A escola não educa sozinha”, disse Alexandre. “A educação não passa só pela escola, passa também pelo que a pessoa vive no seu dia-a-dia, o que vê na TV, na mídia. A escola é apenas uma parte da educação”, completou Marcela.



O controle social exercido pela população e o papel do Estado também foram debatidos. Para o público e os debatedores, a falta de saneamento retratada no filme não indica a ausência do poder público. “Ser ausente não deixa de ser uma política do Estado. Não ter saneamento é uma prova de que o Estado existe. Não existe hiato na política. Se há degradação, é porque existe uma política pública nefasta. Não é ausência do Estado, é a existência de uma política pública que não priorizou coisas como o saneamento, por exemplo”, ressaltou Alexandre. Ainda sobre o papel do Estado, Ramon levantou outra questão: “O filme mostra também como é a burocracia no Brasil, que faz com que um governo tenha verba para a produção de um filme, mas não para a construção de uma fossa”.



Dengue



Também como parte da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, alunos da Educação de Jovens e Adultos da Rede CCAP, em Manguinhos, tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a dengue e o mosquito transmissor da doença (Aedes Aegypti) durante uma atividade realizada no dia 16 de outubro pela EPSJV.



Com o tema ‘Educação e Ciência: da Revolta da Vacina ao Programa de Controle da Dengue em Manguinhos (PCDM) – paralelos sobre mobilização popular’, a atividade foi aberta com a exibição dos filmes ‘O Mundo Macro e Micro do Mosquito Aedes Aegypti: para combatê-lo é preciso conhecê-lo’ e ‘Aedes Aegypti e Aedes Albopictus: Uma ameaça nos trópicos’. As duas produções são de autoria de Genilton Vieira, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e que também foi um dos debatedores do evento, ao lado de Daniele Cerri, pesquisadora do IOC, e Marcela Sanches, do Museu da Vida – Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e professora da rede estadual do Rio de Janeiro.



Marcela contou um pouco da história da Revolta da Vacina (episódio ocorrido em 1904, no Rio de Janeiro, quando a população se revoltou contra uma lei federal que obrigava a vacinar-se contra a varíola). A historiadora também falou sobre as dificuldades enfrentadas pelos agentes sanitários, conhecidos como mata-mosquitos, no início do século para combater as doenças transmitidas pelos insetos. Genilton contou como é feita a produção dos filmes e que ‘O Mundo Macro e Micro do Mosquito Aedes Aegypti: para combatê-lo é preciso conhecê-lo’ tem sido utilizado por muitas escolas, inclusive em outros países, como material educativo para crianças que aprendem sobre como prevenir a dengue.



Daniele lembrou como é importante a participação da população no combate a doenças como a dengue, que dependem não só de ações de governo, mas também do esforço coletivo da população para eliminar os focos do mosquito causador da doença. Leonídio Madureira, coordenador de Projetos Sociais da Fiocruz, falou sobre o surgimento do PCDM, contando que o programa surgiu no Fórum de Movimentos Sociais de Manguinhos, a partir das discussões levantadas pela população de que a educação poderia contribuir para o combate a dengue na comunidade.