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Formação de agentes comunitários indígenas de saúde tem início no Amazonas

Iniciativa, que vai formar 250 trabalhadores, integra a formação técnica à  elevação do grau de escolaridade.
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 05/02/2009 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


Agentes indígenas de saúde têm aula sobre território no AmazonasUma proposta pioneira que contextualiza a realidade indígena com a formação técnica na área de saúde, integrada à ampliação da escolaridade dos Agentes Comunitários Indígenas de Saúde (ACIS). Essa é a proposta do Curso Técnico de Agente Comunitário Indígena de Saúde: Ensino Médio Indígena Integrado à Educação Profissional Técncia de Nível Médio, elaborado e promovido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) e o Instituto de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (IPqLMD)/Fiocruz Amazônia. A iniciativa é voltada para os ACIS que trabalham na região do município de São Gabriel da Cachoeira (AM). “É um curso inovador, que busca o perfil mais adequado para o agente indígena, mais voltado para o de um agente comunitário. O conteúdo não tem enfoque apenas na doença, mas também na prevenção e na promoção da saúde”, diz Ana Lúcia Pontes, professora-pesquisadora do Laboratório de Educação Profissional em Atenção à Saúde (Laborat), da EPSJV.



As primeiras aulas aconteceram entre 7 e 23 de janeiro, com uma turma de 45 alunos, na Comunidade de Vila Nova do Rio Xié. Na ocasião, foram trabalhados os eixos Cultura e Território. O primeiro abordou os temas Processos Produtivos, História do Alto Rio Negro e Mitos e Processos Saúde-Doença; e no segundo os temas foram Mapa como Ferramenta de Trabalho do ACIS, Território, Condições de Vida e Situação de Saúde, Território e a População e Território e Meio Ambiente.

“Durante as aulas adequamos as estratégias pedagógicas à realidade local para trabalhar os conceitos e sistematizar os conhecimentos que os índios já possuem”, ressalta Ana Lúcia.





Valorização da sabedoria indígena





A valorização e a sistematização desses conhecimentos é uma das principais características do curso. Em uma das atividades, os índios produziram mapas da região para identificar as características de cada localidade. “Eles identificaram onde existe rádio, energia, entre outras coisas. Com esse mapeamento, terão oportunidade de traçar melhores estratégias de trabalho”, explica Paulo Peiter, professor-pesquisador do Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde (Lavsa) da EPSJV, que trabalhou com os alunos o eixo Território.



As aulas também procuraram resgatar as tradições dos índios, reconhecendo seus saberes sobre a saúde. Atualmente, os ACIS trabalham como apoio à equipe de saúde e, com o curso, o objetivo é que tenham uma postura mais pró-ativa para aplicar seus conhecimentos. “Trabalhamos com uma concepção mais ampliada de saúde, envolvendo vários aspectos da vida da população local“, destaca Paulo Peiter.



A realização do curso conta ainda com a parceria da Secretaria Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira e da Secretaria Estadual de Educação do Amazonas, que são responsáveis pelos cursos de Ensino Fundamental e Médio, com o objetivo de elevar o grau de escolaridade dos ACIS.





Segunda etapa





A turma iniciada em janeiro deve ter continuidade em outubro deste ano e a previsão é que no primeiro semestre de 2009 sejam iniciadas também novas turmas. Quando todo o trabalho estiver concluído, estarão formados 250 ACIS, que já trabalham atualmente como agentes de saúde na Terra Indígena Alto Rio Negro, onde vivem cerca de cinco mil índios e que abrange três municípios do Amazonas – São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos.



A realização do curso partiu de uma demanda das comunidades indígenas, juntamente com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Rio Negro e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). “Os índios sentiam a necessidade da valorização e da formação profissional, por isso, se mostraram muito comprometidos e participativos durante as aulas”, conta Ana Lúcia.



A previsão é que o curso tenha a duração de três anos, com 3.240 horas de aulas, incluindo a elevação da escolaridade e as aulas teóricas e de prática profissional, que abrangem os eixos Cultura, Território, Cuidado, Política e Informação, Comunicação e Planejamento em Saúde.



Durante um ano, entre 2007 e 2008, a equipe formada por Ana Lúcia Pontes, Paulo Peiter e Anakeila Stauffer, da EPSJV, fez diversas visitas à região para conhecer a realidade local e elaborar o curso de acordo com as especificidades da população indígena. As primeiras aulas, em janeiro, contaram ainda com a participação da coordenadora geral do curso, a pesquisadora Luiza Garnelo, que trabalha na região desde 1987, a pedagoga Elciclei Faria dos Santos e os professores-pesquisadores Isaque Souza e Sully Sampaio, da Fiocruz Amazonas.