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Formação para trabalhadores do campo

EPSJV conclui a segunda turma do Curso de Especialização em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 01/07/2015 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) concluiu no dia 26 de junho a segunda turma do Curso de Especialização em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais, que formou 36 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de 14 estados do Brasil. O curso de Especialização foi realizado pela EPSJV em parceria com o MST e a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), com financiamento do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A especialização, em nível de pós-graduação, teve como objetivo dar continuidade ao processo de formação dos educadores que atuam na Educação do Campo em áreas de Reforma Agrária, desenvolvendo a capacidade de compreensão da realidade, principalmente em relação aos problemas da educação. Também era parte dos objetivos do curso produzir conhecimento sobre as políticas públicas e as experiências em curso ou já realizadas de parcerias entre movimentos sociais do campo e as instituições de ensino, além de discutir e aprofundar os conhecimentos em torno da relação entre trabalho e educação.

O curso teve início em 2013 e foi realizado em cinco etapas formativas (tempo-escola) intercaladas pelo tempo-comunidade. Todas as etapas tiveram duração de 15 a 20 dias, em agosto de 2013, maio e novembro de 2014, março e junho de 2015. No currículo do curso foram desenvolvidas as seguintes disciplinas: Trabalho e Educação; Estado e Políticas Públicas de Educação; Cultura e Educação; Desenvolvimento e Educação; História da Educação Brasileira; Lutas Sociais e Educação; Teoria do Conhecimento e Educação; Metodologia da Pesquisa; Seminários de Pesquisa e Monografia. No total, a especialização teve uma carga horária de 504 horas-aula.

A equipe de coordenação do curso é formada por profissionais da EPSJV, integrantes do MST e conta ainda com a colaboração de professores de diversas instituições de ensino, que participaram também do processo de elaboração do curso, como Gaudêncio Frigotto (Uerj), Roberto Leher (UFRJ) e Virgínia Fontes (EPSJV e UFF). O corpo docente do curso é formado por professores de diversas instituições (UFRJ, Uerj, UFF, Unirio e UFRRJ), muitos dos quais mantêm uma longa parceria com a EPSJV por trabalhar na mesma perspectiva crítica. Entre os professores da especialização estão alguns dos mais reconhecidos pesquisadores e intelectuais brasileiros, como Demerval Saviani, Gaudêncio Frigotto, Roseli Caldart, Roberto Leher, Nilton Duarte, José Rodrigues, José Paulo Netto e Mauro Iasi. “Tivemos aulas de dia inteiro que renderiam um excelente material de estudo”, observa Marco Antônio, que compôs a coordenação do curso junto com a coordenadora geral, Anakeila Stauffer, e um colegiado composto por professores da EPSJV e do MST.

Organização

Na dinâmica do curso, os educandos são organizados em núcleos de base e agrupados em equipes de trabalho, responsáveis por um conjunto de tarefas como estadia, secretaria, ciranda infantil, comunicação e finanças. Eles também escolhem um nome para a turma, que neste caso foi Turma Tekoha-Guarani. “Eles têm toda uma organização coletiva própria do trabalho durante o curso que é muito forte. Toda a mística apresentada por eles é trabalhada por comissões, por exemplo. Eles têm ainda alguém que fica responsável por documentar o curso para fazer a memória”, conta Marco Antônio, acrescentando que uma das atividades realizadas pelos alunos durante o curso foi um painel que ficou em exposição na EPSJV.

Como parte da programação do curso, todos os dias pela manhã, os educando faziam duas horas de leituras dos textos que seriam usados nas aulas. Em todas as etapas, eles apresentaram seminários, cujo material deverá ser transformado em uma publicação.

Monografias

Para concluir o curso, todos os alunos apresentaram uma monografia, vinculada a uma das quatro linhas de pesquisa da especialização – Trabalho e Educação; Estado, políticas públicas de educação e luta de classes; Ciência, cultura e hegemonia: a produção do conhecimento e a questão da consciência; e Movimentos sociais, questão agrária e as experiências da luta pela educação. Cada linha tem uma equipe de professores, que são os orientadores dos alunos a ela vinculados. “A monografia tem uma parte coletiva, em que os alunos trabalham agrupados de acordo com as linhas de pesquisa na qual estão inseridos, e outra parte individual, quando cada aluno produz o seu trabalho, com a ajuda de seu orientador”, explica Marco Antônio.

Antes da apresentação do trabalho final, que é feita na última etapa do curso, todos os alunos passam pela qualificação dos trabalhos. “O conteúdo dos trabalhos é sempre muito bom, pois eles levantam questões ligadas à experiência de vida deles. Nesse grupo, por exemplo, tínhamos muitos alunos ligados à área de educação e cultura do movimento, por isso, modificamos uma das linhas para abarcar melhor os temas escolhidos por eles”, diz Marco Antônio, acrescentando que a monografia também faz parte da militância, por isso, o MST cobra dos alunos a produção dos trabalhos finais. “A nossa percepção é que eles não inventam assunto. As monografias têm questões ligadas à experiência concreta deles em seus processos de trabalho e de luta. Nessa turma, por exemplo, tivemos um trabalho sobre a questão do cacau no sul da Bahia porque o educando é acampado lá; outro que é acampado no Mato Grosso do Sul falou sobre a questão indígena, que é muito forte naquele estado”.