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Inclusão digital e ensino remoto na Escola Politécnica

Em novembro, alunos do ensino médio e de outros cursos estão recebendo tablets para que possam assistir aulas em casa
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 18/11/2020 11h06 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) está concluindo a última fase da inclusão digital para oferecer acesso às atividades da educação politécnica remota e emergencial aos estudantes. Com o objetivo de viabilizar a continuidade das atividades, no contexto da pandemia de Covid-19, a Escola Politécnica recebeu, no dia 13 de novembro, os tablets que serão emprestados aos estudantes. O material foi adquirido por meio do Programa de Inclusão Digital da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC) da Fiocruz. A distribuição dos equipamentos para empréstimo será realizada ainda no mês de novembro, de acordo com o calendário de distruibuição dos kits de alimentos. As datas serão, em breve, divulgadas nas redes sociais da escola. A EPSJV está com aulas presenciais suspensas desde o dia 16 de março de 2020, conforme decisão das autoridades sanitárias e governamentais no país.

Nesta fase, serão atendidos todos os alunos do Curso Técnico de Nível Médio em Saúde (CTNMS) – habilitações em Análises Clínicas, Biotecnologia e Gerência em Saúde; da Educação de Jovens e Adultos (EJA), do Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde (CTACS) e dos cursos de Qualificação Profissional de Doula e Atualização Profissional em Gestão Participativa em Saúde. Os estudantes do Mestrado em Educação Profissional em Saúde serão atendidos conforme as regras do edital para alunos de pós-graduação.

Segundo a coordenadora geral do Ensino Técnico da EPSJV, Ingrid D’avilla, com a chegada dos tablets, adquiridos por meio de licitação pública, será possível viabilizar as atividades curriculares com uma estrutura mais adequada e coerente com a ideia de que para desenvolver as atividades nos domicílios os estudantes precisam de equipamentos e acesso á internet. "Só nesse contexto de inclusão digital podemos desenvolver atividades curriculares. Por princípio, tais atividades remotas possuem caráter emergencial e temporário. Além disso, há toda uma construção político pedagógica que pretende manter o princípio da politecnia como o eixo estruturante das atividades de ensino da EPSJV", afirma Ingrid.

O aporte tecnológico, de acordo com a coordenadora, pretende ser usado pela instituição tanto nas atividades remotas, quanto nas etapas de transição para atividades híbridas (presenciais e remotas) até que seja possível ter, novamente e mediante contexto epidemiológico admissível, atividades presenciais.

Educação de Jovens e Adultos

O professor-pesquisador da EPSJV, Marcus Pedroza, que coordena a Educação de Jovens e Adultos (EJA) junto com Jeanine Bogaerts, conta que, até agora, os alunos estavam recebendo apostilas, que eram a base do ensino remoto. “A ideia é que eles façam essas atividades e nós o ajudemos de forma on-line, por aplicativos de mensagens. Além disso, uma vez por semana, temos aula ao vivo com as turmas”, conta. Entretanto, Pedroza ressalta que sem o tablet e sem o chip de dados, nem todos conseguem participar das aulas. “Das turmas da EJA que possuem 30 alunos, somente um ou dois alunos conseguem participar dos encontros semanais ao vivo”, lamenta. “Os problemas da maior parte dos nossos estudantes com a internet não são apenas os dados, mas também o acesso ao equipamento, porque uma parte deles não possui um equipamento ou esse é muito ruim ou ainda tem que ser compartilhado com outros membros da casa”.

Para superar a baixa interação síncron, Pedroza conta que a solução foi enviar vídeos e áudios com orientações sobre como se guiar na apostila via aplicativo de mensagem. "Isso porque a assincronicidade foi o centro da atividade remota que pensamos, pois além das questões envolvendo acesso, existe a falta de ambiente e tempo para os alunos se dedicarem aos estudos estando em casa, uma vez que em casa eles estão ocupados com os afazerem domésticos ou do próprio trabalho", destaca.

O coordenador afirma que, com a chegada dos tablets, as aulas ao vivo deixarão de ser uma parte opcional e passarão a ser obrigatórias, ou seja, os alunos passam a ter que participar de todos os encontros. “Assim, a gente conseguirá fazer mais do que simplesmente explicar a apostila. Também poderemos colocar em nossa apostila links e entradas para vídeos, áudios e podcasts que antes não eram possíveis pela falta do pacote de dados”, destaca. Por fim, Pedroza ressalta outra grande vantagem que esses novos equipamentos trarão para o ensino remoto: “Eles proporcionarão a possibilidade de nos aproximarmos ainda mais dos alunos e, principalmente, daqueles que possuem dificuldade de fazer as atividades”.

CTACS

No caso do Curso Técnico de ACS, em que os alunos são trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), a professora-pesquisadora da EPSJV, Mariana Nogueira, que coordena o curso em conjunto com Camila Borges e Cristina Morel, explica que os gestores havia assinado a liberação dos ACS para o estudo presencial até o dia 30 de março de 2021. Com a pandemia e a suspensão das aulas presenciais, foi preciso elaborar um documento ratificando essa pactuação e solicitando aos gestores a continuidade dessa garantia de que os trabalhadores ACS, estudantes do curso, poderiam se dedicar às atividades síncronas e gravadas duas vezes na semana, nos turnos da manhã e da tarde.

Mariana conta que as aulas foram retomadas no dia 14 de setembro, porque, para as alunas, o curso técnico é um lugar de encontro, apoio e acolhimento, no qual compartilham suas dificuldades e experiências. “Além disso, nossa turma é composta por trabalhadoras ACS de quatro municípios (Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e Mesquita) e esse encontro entre as alunas proporciona trocas importantes sobre as realidades municipais acerca do enfrentamento da pandemia, assim como das dificuldades e precárias condições de muitos territórios em que os ACS vivem e trabalham”, sinaliza.

O currículo não foi modificado para o ensino remoto, mas os professores atualizaram o conteúdo, considerando a importância do SUS, da Atenção Primária à Saúde e, particularmente, do trabalho dos ACS no enfrentamento à Covid-19 nos territórios mais vulnerabilizados. “Também colocamos atividades suplementares que ocorrem em outro dia da semana. O desafio e a dificuldade que temos não é o arranjo organizacional do curso em si, mas de fazer um processo de ensino e aprendizagem de mulheres da classe trabalhadora, com histórico de desiguais e diversos letramentos, condições nada favoráveis de acesso a internet e equipamentos tecnológicos e com múltiplas jornadas de trabalho - remunerado e não remunerado, no caso dos afazeres e cuidados doméstico e com as famílias, que recaem para as mulheres”, observa a coordenadora.

Mariana destaca que o ensino remoto não é o mais adequado para essas trabalhadoras, mas vem sendo uma possibilidade de manter o contato com as alunas, oferecendo um lugar de acolhimento e conhecimento. “Precisamos destacar que isso só foi possível porque a Fiocruz assegurou a entrega de chips, que garantem a conectividade das alunas. Sem essas condições materiais fornecidas pela Escola, o ensino remoto seria impossível para essas mulheres trabalhadoras”, ressalta, acrescentando que, em outubro, a coordenação do curso aplicou um instrumento de avaliação aos alunos sobre as principais questões, desafios, dificuldades e soluções que tenham sido construídas neste momento de pandemia e ensino remoto. Os resultados serão discutidos nos próximos conselhos de classe.

Fases da Inclusão digital dos cursos técnicos de nível médio em saúde

Desde a suspensão das aulas, a direção da Escola e as coordenações de cursos, em contato direto com docentes, estudantes, pais e responsáveis, têm adotado medidas de manutenção de estratégias de ensino-aprendizagem e vínculo sócio-afetivos entre a escola e os estudantes. Para isso, diversas atividades e planejamentos foram divididos em fases que foram sendo executadas em paralelo.

Na primeira fase, de março a outubro de 2020, a EPSJV disponibilizou 14 ciclos de atividades suplementares aos estudantes do ensino médio, produziu lives, podcasts e projetos sobre o contexto da pandemia. Além disso, a Escola tem mantido seu compromisso com o direito à alimentação escolar e à segurança alimentar e nutricional dos estudantes com a distribuição mensal de kits de alimentação. E, por meio do Projeto Escola Saudável, firmou parceria com a Cruz Vermelha para ampliação do apoio psicossocial aos estudantes e seus familiares.

Preocupada com a possibilidade de reduzir os efeitos da falta de alimentação escolar no cotidiano dos alunos e de suas famílias, a EPSJV aumentou o valor das bolsas de demanda social, que passaram de R$ 150 para R$ 300 por mês, até o retorno das atividades presenciais. Essas bolsas são pagas, mensalmente, para 110 estudantes do Ensino Médio Integrado, cujos responsáveis solicitaram auxílio no momento da matrícula por possuírem comprovada caracterização de baixa renda familiar.

Nesse mesmo período, a EPSJV iniciou o debate sobre o retorno às atividades presenciais de ensino com a elaboração do plano de retorno às atividades de ensino de forma presencial na EPSJV e com a publicação do Manual sobre Biossegurança para Reabertura de Escolas no Contexto da Covid-19. Além disso, teve ampla participação nos planos de reabertura de escolas em vários estados e municípios e realizou um ciclo de oficinas sobre os desafios para a reabertura de escolas no contexto da pandemia.

Em junho de 2020, a Escola deu início à segunda fase da inclusão digital com o planejamento da Educação Politécnica Remota e Emergencial (EPRE) com a proposta de inclusão digital universal e a constituição de uma estrutura pedagógica própria (reuniões com turmas, pais e responsáveis e semana de planejamento docente). Nessa fase, houve o desenvolvimento de grades de horário, listas de presença on-line, modelagem do moodle (plataforma de aprendizagem virtual), troca de experiências sobre os espaços síncronos e definição da auto-organização como princípio político e pedagógico.

Em agosto, teve início a terceira fase a inclusão digital emergencial com o empréstimo de computadores da EPSJV para os alunos do 4° ano do ensino médio. No mês seguinte, na quarta fase, o alunos do 3° ano do ensino médio também passaram  a usar os computadores da instituição. Além disso, alunos do 3º e 4º ano receberam chips de acesso a dados móveis, adquiridos pela Fiocruz.

Por fim, no início de novembro de 2020, a EPSJV entrou na quinta fase com a entrega parcial de 80 tablets, mais os chips de acesso a dados móveis aos estudantes do 1º e 2º ano do ensino médio. Com a chegada de mais tablets, a partir do dia 23 de novembro, haverá o empréstimo desses equipamentos para todos os estudantes da EPSJV.