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Justiça Hídrica e Energética nas Favelas

Relatório, produzido pelo Painel Unificador das Favelas e pela Rede Favela Sustentável, com apoio da Escola Politécnica, traz dados inéditos sobre água e luz nas favelas
Redação - EPSJV/Fiocruz - EPSJV/Fiocruz | 20/10/2022 15h04 - Atualizado em 21/10/2022 14h59

Foi lançado no fim de setembro o relatório 'Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados, Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação'. O documento, que reúne dados inéditos e impactantes sobre água e luz nas favelas, foi produzido como parte das atividades do curso “Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, uma iniciativa do Painel Unificador das Favelas e da Rede Favela Sustentável, no âmbito da Comunidades Catalisadoras (ComCat), com apoio de diversas instituições, dentre elas, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).

O relatório contou com a participação de 45 alunos do curso, moradores de 15 favelas de cinco municípios do Rio de Janeiro, que realizaram entrevistas nas residências de 1156 famílias (4164 pessoas), entre maio e junho de 2022. “O diálogo de saberes da formação permitiu a construção de um questionário para realização da pesquisa que foi feita pelos moradores participantes do curso”, destaca o professor-pesquisador da EPSJV, Alexandre Pessoa, que foi um dos palestrantes em uma aula sobre Justiça Energética e Hídrica no curso.

Para a diretora executiva da ComCat, Theresa Williamson, o mais valioso do curso e da pesquisa gerada foi o processo de construção coletiva. “É preciso destacar a importância de a favela estar na frente da coleta e controle de seus próprios dados, de ser um processo de dentro pela própria facilidade de abertura no diálogo com moradores e de análise dos indicadores, além do conhecimento mais próximo da realidade”, ressalta.

Dados alarmantes

Em relação à energia elétrica, a pesquisa apontou que 56,8% dos moradores entrevistados vivem em situação de pobreza energética em nível moderado a grave. E quase 70% gastariam mais com alimentos caso suas contas de luz fossem reduzidas, o que expõe a grave crise de insegurança alimentar que a população vem enfrentando. 

Sobre alagamentos e saneamento, 74,5% dizem ser comum ver os canos das ruas de sua comunidade apresentando vazamento, 51,5% das famílias são afetadas por alagamentos quando chove e 80,1% afirmam que o alagamento piorou nos últimos anos.

Já em relação ao acesso à água, a pesquisa revelou que 16,9% têm falta de água pelo menos duas vezes por semana e 31,34% usam água de bica não filtrada. Além disso, quase metade (48,2%) dos entrevistados depende de bombas para ter acesso à água, gerando um custo adicional nas contas de luz. Alexandre afirma que os dados elucidaram que as populações vulnerabilizadas das favelas, fruto dessa desigualdade socioambiental, apresentam uma insegurança hídrica grave. "Seja no seu aspecto quantitativo com o não fornecimento de água contínua, seja no seu aspecto qualitativo, no que diz respeito a identificação de cor e cheiro na água que chega nas residências. Falar de justiça hidrica é falar de direitos humanos à água, ao saneamento e a própria saúde pública”, acrescenta.

Sobre a pandemia da Covid-19, 42,5% dos entrevistados responderam que sofreram para fazer a higiene básica devido à falta de água. “A gente sabe que houve uma crise hídrica no período mais acirrado da pandemia, as favelas receberam menos água. É uma necropolítica não garantir água para as pessoas. O direito a água não está sendo garantido”, ressalta Theresa.