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LGBTfobia no centro do debate

De forma inédita, Grêmio Politécnico promove roda de conversa em parceria com a Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz, com foco no respeito à diversidade sexual
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 27/05/2019 14h42 - Atualizado em 01/07/2022 09h44

Em uma parceria inédita, o Grêmio Estudantil da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), através do Coletivo ‘Se Joga’, e a Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz (APG) organizaram no dia 23 de maio uma roda de conversa sobre respeito à diversidade sexual e uma sociedade sem discriminação. Como parte das ‘Atividades Diversas’  da EPSJV/Fiocruz, o encontro aconteceu dias depois da data que marca a luta internacional contra a LGBTfobia, comemorada no dia 17 de maio, e um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF)  aprovar a criminalização da homofobia, equiparando as penas por ofensas a homossexuais e a transexuais às previstas na lei contra o racismo. “É uma vitória muito significativa na medida em que o nosso Congresso é muito alheio a nossa discussão em relação aos direitos humanos da população LGBTQ+ . A criminalização por si só não garante a promoção de direitos, [é necessária também] a produção de uma sociedade cada vez mais inclusiva, com práticas educativas nas quais nós entendamos o respeito e a convivência plural”, comemorou Richarlls Martins, coordenador geral da APG.

Segundo Julio Moraes, aluno do 3º ano do ensino médio, da habilitação de Biotecnologia, e integrante do Coletivo ‘Se Joga’, que organizou o debate, a iniciativa de promover um evento dos estudantes do Poli com a APG/Fiocruz foi uma forma de realizar um trabalho mais articulado entre secundaristas e pós-graduandos. “O evento surgiu a partir de uma sugestão da coordenação das Atividades Diversas para promovermos uma atividade em conjunto com a APG. Como estávamos próximos do dia 17 de maio, nós pensamos em discutir essa temática tão importante para a sociedade. Foi uma ótima forma de mostrar que podemos nos unir e lutar contra a LGBTfobia, porque juntos somos mais fortes”, afirmou o estudante.

Apesar de algumas vitórias, ainda há muito que conquistar. Para o coordenador, é preocupante que as universidades não preparem professores para trabalhar temas relacionados a gênero, raça e sexualidade em salas de aula. Ele destaca a importância de espaços de discussão em que todos possam refletir sobre os conceitos da população LGBTQ+. “A gente falar que uma mulher é lésbica e é transexual... É confuso porque esses conceitos nunca foram passados para nós. O interessante aqui é a gente desmistificar muitas dessas questões que são trazidas para nós no campo da invisilibidade. Tudo aquilo que é invisível é colocado como algo impossível de ser tocado e falado. Se tem uma coisa que é positiva é que aqui na Fiocruz a gente produz pesquisa e pode refletir sobre tudo, porque é um espaço de reflexão, não é espaço de senso comum”, apontou.

Dados alarmantes

No encontro também foi exibido o curta-metragem LGBTfobia, feito pela TV-UFAM, da Universidade Federal do Amazonas – um documentário que traz depoimentos de estudantes de ensino superior e especialistas do tema. Após o filme, os estudantes voltaram ao debate. “A cada 19 horas uma pessoa LGBTQ+ é assassinada ou comete suicídio. Entre 2016 a 2018 foram 1.208 casos denunciados oficialmente e sabemos que esses dados não apresentam a experiência de se viver no país que mais mata trans no mundo todo”, afirmou Julio. Segundo Ana Carolina Kobe, estudante do 2º ano do ensino médio, da habilitação de Análises Clínicas, cerca de 90% da população trans, principalmente as mulheres, acabam indo para a prostituição, porque não conseguem adentrar em espaços acadêmicos e não são aceitas no mercado de trabalho. “Os dados são preocupantes. A expectativa de vida da população trans é cerca de 35 anos de idade. E a cada ano, esse número diminui mais”, lamentou.

Os estudantes apontaram também a necessidade de pensar a LGBTfobia muito além da agressão física. “Agressões psicológicas muitas vezes têm mais força que a própria agressão física e podem levar ao suicídio”, atentou Julio. Ana Carolina, estudante do 2º ano do ensino médio, da habilitação de Análises Clínicas, complementou: “Precisamos pensar como isso vai ser implementado dentro da criminalização da LGBTfobia”.

Como desdobramento, Julio afirmou que o Grêmio e a APG/Fiocruz estão pensando em atividades para o mês da diversidade, que acontece junho. “Temos que pensar em ações que promovam discussões sobre questões que envolvam a comunidade dentro dos espaços da escola, da fundação e da sociedade como todo, para que possamos aumentar nossas forças e enfrentar todas as formas de discriminação”.

O coletivo LGBTQ+

A ideia de construir coletivos surgiu há alguns anos com os alunos do Grêmio Politécnico, que viram a necessidade de criar espaços em que pudessem dialogar e trazer questões polêmicas da sociedade. Atualmente são seis coletivos – além do LGBTQ+, existem o feminista, o de saúde mental, de política, negros e negras e religião. Segundo Ana Carolina, a ideia é que esses coletivos possam ir muito além dos muros da escola. “Queríamos poder discutir e agir politicamente dentro da escola para pensarmos alternativas e criarmos pontes entre os alunos e as instâncias da instituição. Nossa experiência tem sido muito proveitosa”, diz.

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