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Moradores de Manguinhos discutem Saneamento Básico e Educação de Jovens e Adultos

Atividades, promovidas pela EPSJV em parceria com organizações sociais locais, retomam programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 11/12/2009 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


“Os ricos recebem mais atenção e os pobres não”. Foi assim que as crianças, alunas do Espaço Casa Viva, em Manguinhos, responderam ao questionamento sobre se percebem diferença entre o saneamento básico nos diversos locais da cidade do Rio de Janeiro. O objetivo da conversa era discutir o filme ‘Saneamento Básico’, de Jorge Furtado, que elas haviam acabado de assistir. Como debatedoras, estavam presentes Virginia Fontes, professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense, e Maria José Salles, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). Relacionando o que se passou na tela com a sua própria realidade, as crianças descreveram o filme como a história de uma comunidade que se uniu para melhorar o local onde vivem e disseram que, assim como no filme, elas também vivem próximas de rios poluídos, como o Faria Timbó e o Jacaré. “Na Europa, onde há escassez de água, a água que resulta do esgoto tratado é reaproveitada para irrigar plantações, por exemplo. No Brasil, o esgoto não tratado corre a céu aberto e causa doenças”, comparou Maria José, explicando que o esgoto que sai das casas deveria ir para uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), mas que, no Brasil, o que acontece em muitos casos é que os resíduos são jogados em rios e mares.



Partindo das associações que as crianças fizeram, Virgínia Fontes lembrou que as diferenças entre ricos e pobres acontecem não só na questão do saneamento, mas em diversos aspectos da sociedade. A pesquisadora ressaltou que os espaços para ricos e pobres são desiguais e que há muita terra pertencendo a poucas pessoas. “As pessoas saem do campo e vêm para a cidade procurar trabalho porque não têm terra. Mas, na cidade, juntam dinheiro para voltar para o campo ou para ir morar em um lugar de rico”, resumiu.



A relação entre saneamento e desigualdade social foi também a linha seguida pela fala de José Victor Luiz, professor-pesquisador da EPSJV, no debate sobre o mesmo filme que aconteceu na Escola Municipal Oswaldo Cruz. “É comum vermos regiões mais ricas e urbanizadas e regiões mais pobres e sem infraestrutura”, disse, lembrando que 90% das áreas urbanas têm saneamento básico e, nas áreas rurais, esse número é de 12%. Ele destacou que o filme mostra com ironia o contraste entre o descaso da prefeitura e a organização dos moradores.



Naíse Quadros, professora da Escola Oswaldo Cruz que debateu com João Vitor, observou que o filme possibilita o debate de vários temas, que surgem ao longo da narrativa, e que o saneamento é o reflexo da condição social da população. “O governo tem responsabilidade, mas é omisso. No filme, assim como acontece na realidade, só apareceu para a fotografia”, disse, referindo-se à cena em que o prefeito da cidade vai até o local da obra só para ser fotografado pela imprensa.



O público mirim do Espaço Casa Viva também chamou atenção para o fato de o objetivo inicial dos moradores ter se perdido ao longo do filme. No final, analisaram as crianças, eles fizeram o filme ‘educativo’, mas a obra da fossa não concluída. Com isso, os personagens se ‘deram bem’ individualmente, mas o benefício para a comunidade, que era a fossa, não aconteceu.



Essa foi mais uma das atividades que a  EPSJV, em parceria com instituições de Manguinhos, realizou nas últimas semanas como retomada da programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). Os eventos estavam agendados para a segunda quinzena de outubro, mas foram adiados devido à ocupação do território de Manguinhos pela Polícia Militar. Segundo André Dantas, assessor da Vice-direção de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV que coordenou as atividades da SNCT, a parceria com essas instituições terá continuidade em 2010, com a realização de eventos mais frequentes organizados para e junto com a comunidade de Manguinhos.



Mais atividades



A retomada das atividades da SNCT foi iniciada no dia 24 de novembro, no CIEP JK, com um cine-clube. Foram exibidos os filmes ‘Ilha das Flores’ e ‘Agonia da Bacia do Rio Roncador’, seguidos de um debate com o pesquisador da EPSJV, Márcio Sacramento, e a professora do CIEP JK, Céa Pastore.



No mesmo dia, foi realizada a Roda de Conversa ‘Educação de Jovens e Adultos: desafios do mundo do trabalho e de um mundo a ser trabalhado’, na Rede CCAP, em Manguinhos. Participaram do debate, a pesquisadora da EPSJV, Anakeila Stauffer; o coordenador do Pólo 1/PEJA Manguinhos, Felipe Eugênio; e o professor da UNIRIO, Miguel Farah Neto.