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Pesquisadores da Escola Politécnica participam da Reunião Geral da Rede PMA-APS

No encontro, foram apresentados resultados de pesquisas sobre Atenção Primária à Saúde, Saúde Indígena e Vigilância em Saúde
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 05/05/2023 10h35 - Atualizado em 05/05/2023 10h35

Professores-pesquisadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) apresentaram seus projetos de pesquisa, nos dias 25 e 26 de abril, na 7ª Reunião Geral da Rede PMA-APS. O evento foi promovido pelo Programa de Políticas Públicas e Modelos de Atenção e Gestão à Saúde (PMA), ligado à Vice-presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) da Fiocruz.

De acordo com a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV/Fiocruz, Mônica Vieira, a Escola tem uma longa relação com o PMA, desde a época em que era denominado Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública (PDTSP). “Sempre foi uma proposta muito próxima das atividades de investigação que a EPSJV realiza. Os editais do PMA são sempre estratégicos para as nossas áreas de atuação, a exemplo dos quatro projetos em andamento que se associam a temáticas centrais: precarização do trabalho em saúde na atenção básica; abordagem integrada saúde-ambiente e integração da vigilância em saúde e territorialização de informações no âmbito da APS”, aponta.

Além disso, Mônica ressalta que a equipe de gestão da pesquisa da Escola se aproximou da Coordenação do PMA para a construção de propostas de disseminação do conhecimento científico e colaboração na organização do edital de Fomento ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Educação Profissional em Saúde da EPSJV. “A coordenação do PMA também vai participar da avaliação dos nossos projetos submetidos no edital de fomento. Ou seja, queremos uma parceria permanente entre a gestão da pesquisa da escola e a equipe que conduz o PMA na Fiocruz, para promoção da articulação no campo trabalho, educação e saúde na perspectiva da saúde coletiva e das ciências humanas e sociais”, destaca.

Desafios na Atenção Primária à Saúde (APS)

Coordenada pelas professoras-pesquisadoras Márcia Valéria Morosini, da EPSJV/Fiocruz, e Marcia Teixeira, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), a pesquisa "Desafios do Trabalho na Atenção Primária à Saúde na Perspectiva dos Trabalhadores" teve início em 2020 e é desenvolvida por uma equipe múltipla e interinstitucional, composta de pesquisadores dos municípios de Palmas (TO), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA). A equipe da pesquisa também conta com outros professores-pesquisadores da EPSJV - Angélica Fonseca, Anna Violeta Durão, Carla Cabral, Filippina Chinelli, Ialê Falleiros, Gregório Albuquerque, Hugo Marins, Isabella Koster, José Victor Regadas e Renata Reis.

A ideia do estudo é conhecer e analisar as mudanças produzidas na APS a partir da publicação da Política Nacional de Educação Básica (PNAB) de 2017 e os efeitos da pandemia de Covid-19 para a situação do trabalho de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde. "Nós queremos conhecer como estão as condições e as relações de trabalho na Estratégia Saúde da Família [ESF], enfocando nos trabalhadores da composição mínima dessas equipes, por meio da pesquisa de bancos de dados públicos e por meio de entrevistas, que são feitas a partir de um roteiro semiestruturado com trabalhadores desses municípios", conta Márcia Valéria.

Uma característica dessa pesquisa, segundo a professora-pesquisadora, é o compromisso com a disseminação do conhecimento produzido. E, com isso, tem sido criados diversos produtos. “A produção de uma websérie com episódios pensados a partir das situações que temos encontrado nas entrevistas; de boletins; além de mapas interativos, nos quais a pessoa pode clicar e ter acesso a informações sobre força de trabalho, condições e relações de trabalho e como a atenção básica está organizada”, diz Márcia. 

Márcia Valéria acrescenta que está sendo desenvolvido ainda um glossário sobre a realidade do trabalho na atenção básica, com termos importantes para que os trabalhadores tenham ferramentas e meios de conhecer e analisar a situação que estão vivendo. “Por exemplo, precarização é um dos verbetes. É um fenômeno que tem se expandido na ESF por meio da terceirização e de outras formas de contratação não estáveis dos trabalhadores. Então, criamos um verbete explicando o que é, de forma simples, mas sem perder a complexidade do termo”, explica.

Precarização da APS

Com a coordenação das professoras-pesquisadoras da Escola, Alda Lacerda e Camila Borges, o projeto “Precarização da Atenção Primária à Saúde: Repercussões nos modelos de atenção e as estratégias de resistência dos trabalhadores” tem o objetivo de reconhecer e dar visibilidade aos processos de precarização e ações de resistência nas equipes da Estratégia Saúde da Família dos municípios do Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), João Pessoa (PB) e São Paulo (SP). A equipe da pesquisa conta ainda com a professora-pesquisadora Cynthia Dias.

Um dos produtos será uma plataforma digital da APS, uma tecnologia social de acesso aberto a trabalhadores, usuários e gestores, com recursos de acessibilidade, que permitirá o acesso a outros produtos como painéis visuais e dinâmicos com informações extraídas do banco de dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde; além de uma série de vídeos e um jogo colaborativo. “Nosso objetivo é sistematizar informações, contribuindo para a qualificação dos trabalhadores da APS; além de fornecer instrumentos para a realização de um trabalho de educação em saúde na Estratégia Saúde da Família e ampliar o debate crítico sobre a importância de uma atenção primária forte e robusta e de um sistema de saúde público e universal”, explica Alda.

Saúde Indígena

A pesquisa “Impacto do Mercúrio na Saúde dos Indígenas Munduruku: Uma Abordagem Integrada Pesquisa-Serviço-Educação” é coordenada pela professora-pesquisadora da EPSJV, Ana Claudia Vasconcellos, e pelo pesquisador da ENSP/Fiocruz, Paulo Basta. O projeto visa contribuir com a melhoria das condições de vida e saúde dos indígenas Munduruku e promover o aperfeiçoamento do trabalho desempenhado pelas equipes da APS que atuam no Distrito Sanitário Especial Indígena do Rio-Tapajós (DSEI-Rio Tapajós), no Pará, em relação à contaminação humana por mercúrio. 

Como desdobramentos da pesquisa, foram ofertadas quatro turmas do Curso de Atualização Profissional em Vigilância e Monitoramento de Populações Expostas ao Mercúrio no Brasil, oferecido a profissionais da equipe multidisciplinar de saúde indígena do DSEI-Rio Tapajós. 

Ana Claudia destaca que, além do curso, está em produção o material didático “Mercúrio na Amazônia: Consequências na Saúde e no Ambiente”, escrito em português e em Munduruku. “Os territórios indígenas têm sido atingidos por garimpeiros nas últimas décadas e, de forma mais intensa, nos últimos quatro anos. Pensando nisso, produzimos o livro em conjunto com professores indígenas. Essa publicação vai possibilitar que os professores do povo Munduruku possam debater esse tema em sala de aula, com estudantes do 6º ao 9º anos, explicando como o mercúrio entra no corpo das pessoas, formas de prevenir e minimizar essa contaminação, entre outros temas”, conta Ana Claudia, acrescentando que também está em produção um outro livro que será lançado em breve - “O grito ancestral”, escrito em Sawé e português, pela liderança indígena Daniel Munduruku.

Vigilância em Saúde e a territorialização

Outro projeto apresentado - “Vigilância em Saúde (VS) e a territorialização: modelo de atenção reorientador de práticas e saberes na Atenção Primária à Saúde (APS)” - tem a coordenação geral dos professores-pesquisadores da EPSJV, Gracia Gondim e Maurício Monken. Também participam da equipe da pesquisa os professores-pesquisadores: Bárbara Valente, Elenice Cunha, Felipe Bagatoli, Gladys Miyashiro, Joana Azevedo, Juliana Valentin, Lásaro Linhares e Maria Amelia Costa.

Segundo Gracia, o projeto foi estruturado em três domínios de conhecimentos - teórico conceitual, que ela coordena; metodológico, que Maurício está à frente; e pedagógico, coordenado pela professora-pesquisadora Edilene Pereira, da EPSJV. “Fizemos uma revisão do conceito de Vigilância em Saúde. No domínio teórico conceitual, o produto vai ser uma história em quadrinhos contando como foi constituída a Vigilância em Saúde no Brasil”, diz Gracia. No domínio metodológico, a equipe construiu um projeto de iconografias do território, com um resgate de todo o trabalho de formação em Vigilância em Saúde que a EPSJV produziu ao longo dos anos; além de um e-book.

Por fim, no domínio pedagógico foi feito um levantamento de todos os cursos da área da Vigilância em Saúde oferecidos pela EPSJV, desde 1995. “Foram 36 cursos e mais de 40 mil alunos, contando com o Profomar [Programa de Formação de Agentes Locais de Vigilância em Saúde], que formou profissionais em todo o país Todas essas informações estarão em um site que está em construção e que será um canal de diálogo com os territórios da pesquisa - Mangueira, Maré e Alemão (localidades do município do Rio de Janeiro) - para divulgarmos experiências de vigilância e de territorialização”, diz Gracia.

Além disso, foi agregado nesse estudo um outro projeto sobre Redes Educativas de Vigilância em Saúde nos territórios da Mangueira, Maré e Alemão (localidades do município do Rio de Janeiro). “A ideia desse projeto anterior era mapear as redes comunitárias desses territórios para que elas viessem a se constituir em redes de educação territorializadas em vigilância em saúde e, em seguida, seria criado, em cada um desses territórios, um núcleo de agentes locais de vigilância em saúde para que eles pudessem se articular com as redes formais do SUS, ou seja, com as Clínicas da Família", afirma.