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Remoções: desenvolvimento pra quem?

Assunto foi debatido pelo deputado estadual Flávio Serafini com os alunos da Educação de Jovens e Adultos da EPSJV nas comemorações de aniversário da Escola
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 25/08/2015 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

 "Remoções: desenvolvimento pra quem?" foi o tema da mesa-redonda realizada na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) no dia 19 de agosto, no segundo dia de comemorações do aniversário de 30 anos da EPSJV. O assunto foi debatido pelo sociólogo, deputado estadual (PSOL-RJ) e professor-pesquisador da EPSJV, Flávio Serafini. A mesa teve grande participação dos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da EPSJV, muitos deles moradores de Manguinhos e que passaram ou tiveram familiares que passaram pelas remoções que vem acontecendo em várias regiões da cidade do Rio de Janeiro.

Antes de iniciar a palestra, Flávio exibiu um vídeo sobre o tema com o depoimento de várias pessoas que tiveram suas moradias removidas pelo poder público no Rio de Janeiro. Em sua fala, Flávio destacou que, em nome da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o Rio de Janeiro, nos últimos anos, passou por uma série de intervenções urbanísticas que redesenharam diversas partes da cidade. “Será que essas transformações foram feitas para o bem comum ou será que grande parte delas foram feitas por uma lógica de transformar a cidade numa mercadoria? Um espaço onde poucos ganhariam dinheiro e muitos perderiam”, questionou Flávio, acrescentando que a cidade do Rio de Janeiro é uma das que mais encareceram no mundo nos últimos anos, mas que isso não foi um processo natural, foi estimulado pelo poder público por meio das intervenções urbanas, para atender interesses financeiros. “As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) são um exemplo disso. Elas não estão nas áreas mais violentas, começaram pela Zona Sul, Centro e algumas áreas da Zona Norte. O mapa das UPPs não é o mapa da violência na cidade do Rio de Janeiro, as UPPs serviram para aquecer o mercado imobiliário em diversas regiões da cidade”.

Outro exemplo citado por Flávio é a Operação Choque de Ordem, realizada pela Prefeitura do Rio de Janeiro como parte do Plano Municipal de Ordem Pública, que, segundo ele, tinha como uma das metas disciplinar o espaço urbano para fazer com que a tendência de desvalorização de imóveis verificada nas últimas décadas no Rio de Janeiro fosse revertida. “Tiram o camelô, o mendigo, removem dali e mandam para a periferia. Isso não resolve o problema de gente que não tem onde morar, mas valoriza uma determinada região da cidade, que se vê sem a presença dos sintomas da pobreza em uma das sociedades mais desiguais do mundo”, observou o deputado.

Segundo Flávio, para fazer esse redesenho da cidade do Rio de Janeiro, a Prefeitura e o Governo do Estado transformaram a cidade em um espaço onde o direito à moradia passou a ser constantemente violado. “Durante o governo Eduardo Paes, mais de 20 mil residências foram removidas no Rio de Janeiro, totalizando cerca de 100 mil pessoas que perderam suas casas em nome das obras para as Olímpiadas”, disse o deputado, acrescentando que um dos locais que se tornou símbolo das remoções no Rio Janeiro é a Vila Autódromo, comunidade localizada ao lado de onde está sendo construído o Parque Olímpico, na Barra da Tijuca. “O governo nunca deixou claro porque aquela comunidade precisava ser removida. Um grupo de urbanistas fez um projeto para reurbanizar o lugar, que seria 20 vezes mais barato que as remoções, mas a prefeitura não aceitou. Agora estão construindo dois hotéis de luxo ao lado da Vila Autódromo”, destacou.

 De acordo com um estudo citado por Flávio, das pessoas que tiveram suas residências removidas, quanto menor a renda, mais longe elas são assentadas. “Quem ganha menos sempre vai para mais longe, mais longe de onde estavam e também do Centro da cidade, onde estão os empregos e a melhor infraestrutura urbana. Isso faz uma cidade segregada, onde algumas regiões são moradia de quem tem mais dinheiro, e ali se diminui a presença dos pobres ou se controla os pobres, com a UPP e o Choque de Ordem. A UPP não está, prioritariamente, nas regiões onde mais morrem pobres porque seu papel prioritário não é garantir segurança e vida para os mais pobres, mas sim, vigiar os mais pobres onde eles estão incomodando o circuito da riqueza”.

Flávio concluiu lembrando que as mudanças que estão sendo feitas na cidade do Rio de Janeiro em nome das Olímpiadas não são mudanças para todos, como dizem os governantes, mas são mudanças que tornam o Rio de Janeiro uma cidade mais segregada. “Tem gente que está ganhando muito dinheiro com a transformação da cidade cada vez mais em uma mercadoria e contra isso nos cabe combater, discutir, nos organizar e lutar”, encerrou o professor.

Após a mesa-redonda, foi realizada uma confraternização em comemoração aos 30 anos da EPSJV, completados no dia 19 de agosto, com bolo e parabéns. O evento comemorativo de 30 anos da EPSJV foi realizado como atividade de greve dos trabalhadores da Fiocruz, que estão paralisados desde o dia 16 de julho.