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Trabalho, Educação e Saúde: Escola Politécnica lança o terceiro número do ano

Revista, que trata da relação entre formação e trabalho em saúde, permite o acesso livre ao seu conteúdo no site.


 A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), lança o terceiro número de 2009 do periódico Trabalho, Educação e Saúde (vol. 7, n.º 3).



A relação entre a formação e o trabalho em saúde alcança visibilidade com base em estudos que focalizam diferentes profissões e segmentos de trabalhadores. Os espaços de formação em pauta também nos levam a distintos cenários, ora nos aproximando do contexto dos serviços de saúde, ora nos trazendo as questões que emergem de experiências de instituições formais de ensino.



O artigo de Juliano Teixeira Moraes e Eliane Teixeira Lopes,  A formação de profissionais de saúde em instituições de ensino superior de Divinópolis, Minas Gerais, trata da discussão sobre  formação e suas transformações a partir do entrelace  de políticas de educação, representadas pelos parâmetros curriculares, da legislação e das políticas de saúde enfatizadas naquele município. Ao dialogar diretamente com docentes de cursos de saúde, os autores nos mostram que o empenho em desenvolver novos projetos político-pedagógicos não os exime de grandes dificuldades para implementar currículos, nos quais a multidisciplinaridade seja adequadamente contemplada. O artigo de Luiz Carlos Fadel de Vasconcellos, Carmen Verônica de Almeida e Dimitri Taurino Guedes, Vigilância em saúde do trabalhador: passos para uma pedagogia, constitui-se a partir de uma crítica quanto à limitada aplicação das práticas de vigilância à saúde do trabalhador. Ao entender que é possível atribuir parte desta lacuna  à falta de capacitação  profissional de agentes públicos, apresentam uma reflexão em torno de uma proposta metodológica de capacitação em saúde do trabalhador, pautada na problematização freireana  e nutrida por 15 anos de  experiências de qualificação, tendo como espaço os serviços de saúde. No artigo de Marilene de Melo, Luiz Carlos Brant, Lucas de Oliveira e Alessandra Patrícia Santos, Qualificação de agentes comunitários de saúde: instrumento de inclusão social, a dimensão social da qualificação, sobretudo, é posta em análise no contexto das relações que permeiam o trabalho e a formação de agentes comunitários de saúde. Os autores buscam compreender como esses trabalhadores estabelecem conexões e significados entre sua qualificação como agentes comunitários de saúde e as mudanças que vivenciam no próprio exercício da cidadania. No artigo Residência multiprofissional em saúde e pós-graduação lato sensu no Brasil: apontamentos históricos, de Soraya Diniz Rosa e Roseli Esquerdo Lopes, as autoras partem de uma pesquisa sócio-histórica para criar tensão em torno do argumento que situa a formação em Residência como uma resposta às necessidades de transformação do modelo assistencial biomédico, ainda hegemônico. Ao caracterizar e discutir problemas desses cursos de formação, convocam à reflexão sobre os compromissos que precisam se efetivar para que sejam alcançados os propósitos que tornam essa pós-graduação relevante para o Sistema Único de Saúde.



O debate sobre as transformações no mundo do trabalho contemporâneo tem encontrado nos estudos que relacionam gênero e trabalho conteúdos importantes não apenas para entender, mas para empreender mudanças que se orientam pelo sentido de equidade em diversos níveis.  Em torno dessas referências, Tania Steren dos Santos desenvolve a pesquisa cujos resultados são discutidos no artigo Discriminações, estímulos e obstáculos no campo profissional da medicina: um olhar de gênero e gerações. O texto nos permite refletir sobre a relação mundo simbólico e objetividade, bem como sobre a formação de estereótipos e indica que um horizonte mais igualitário para homens e mulheres requer, também, a implementação de políticas públicas com este objetivo.



No artigo Relaciones intergubernamentales y política sanitaria en Argentina en el contexto de la crisis 2001/3, de Magdalena Chiara, o foco  volta-se para a dinâmica de composição da agenda do setor saúde na  Argentina  e de relegitimação do Estado, no contexto da crise recente. Chiara privilegia a análise de um espaço de coordenação intergovernamental, o Conselho Federal de Saúde, entendido como arena de expressão de lógicas e projetos em intensa disputa.  Sinaliza que a fragilização do papel de condução do governo central, frente às províncias, coloca-se como questão para o setor, cujas políticas preservam as marcas de uma fragmentação histórica.



O ensaio de Marcos Barbosa de Oliveira apresenta uma crítica contundente aos procedimentos de gestão que, associados à difusão das práticas de avaliação, incorporam a remuneração adicional, vinculando-a  à produtividade.  No texto intitulado A estratégia dos bônus: três pressupostos e uma consequência, o autor propõe uma reflexão sobre a lógica da  mercantilização, sustentada pela ética capitalista, que vem se estabelecendo  como base das  relações de trabalho nas mais diversas instituições. Oliveira nos situa ante alguns desdobramentos desta prática nas instituições de pesquisa, tal como a interferência na seleção de problemas e métodos de estudo.



A seção Debate estrutura-se a partir do diálogo com o texto de Valquíria Padilha, intitulado Qualidade de vida no trabalho num cenário de precarização: a panaceia delirante, no qual a autora retoma a discussão sobre fatores que se combinam para configurar a situação de precariedade do trabalho, sob a ordem do capital, e  questiona as práticas de qualidade de vida no trabalho (QVT) como meios para aumentar a produtividade e ocultar problemas de ordem estrutural. Francisco Lacaz, no texto Qualidade de vida n(d)o trabalho: um conceito político e polissêmico, propõe reconstruir a historicidade do conceito de QVT, acompanhando suas modificações desde os anos 1950, passando pelas particularidades dos anos 1960 e 1970, até sua reconfiguração no contexto da globalização. Lacaz chama atenção para os vários significados assumidos pela expressão, enfatizando a capacidade do termo ‘qualidade’ abrigar sentidos que expressam interesses de classe, inclusive em oposição, e reafirma a importância de repensar a relação ‘saúde e trabalho’ em direção a uma QVT contra-hegemônica. Assumindo a continuidade de seus argumentos frente aos apresentados por Padilha, José Newton Garcia, no artigo Qualidade de vida no trabalho: controle e escondimento do mal-estar do trabalhador, nos oferece reflexões que partem da incapacidade de conciliar  qualidade de vida do trabalhador e capitalismo. Com base em  Castoriadis, incita-nos a questionar a racionalidade do capitalismo, além de retomar a atualidade do pensamento de Marx para este debate. Rosemeire Scopinho,  no texto Qualidade de vida versus condições de vida: um binômio dissociado, recorda que as ações de QVT incluem-se  no escopo das práticas gerenciais que ampliam o poder de controle dos gestores para os planos do conhecimento e sentimentos dos trabalhadores a fim de reduzir os riscos de prejuízo à produtividade. Em contraposição à QVT, a autora sugere a adoção da noção de condições de vida, que integra a dimensão material  e subjetiva, e agrega ao texto o registro de  desafios metodológicos, decorrentes desta opção, para as pesquisas que pretendem discutir a relação trabalho-condição de vida.  Milton Athayde e Jussara Brito, sem abdicar de uma abordagem materialista e histórica, trazem no texto Vida, saúde e trabalho: dialogando sobre qualidade de vida no trabalho em um cenário de precarização um questionamento quanto às possibilidades de reconhecer, no movimento do real, indicadores de mudanças que apontem para novas formas societárias e relacionais. Do ponto de vista teórico, recuperam a perspectiva da ergologia e o conceito de atividade, propondo-os como suportes para investigações e análises de  situações concretas de trabalho.



O relato deste número, Formação técnica do agente comunitário de saúde: desafios e conquistas da Escola Técnica de Saúde do Tocantins, de Clemilson Silva et al., apresenta a experiência de  formação em nível técnico de agentes comunitários de saúde desenvolvida pela Escola Técnica do Tocantins, que concluiu a formação de 2.219 alunos-servidores desse estado.



A entrevista deste fascículo, conduzida pela professora Brena Paula Fernandez, traz a visão de Hugh Lacey sobre temas do campo da filosofia da ciência, discutindo questões como a interação entre valores sociais e cognitivos e as  práticas científicas; a relação entre o desenvolvimento da tecnociência e a democracia; e o papel dos movimentos sociais na composição das agendas de pesquisa.



Trabalho, Educação e Saúde publica ainda duas resenhas: a primeira, de  Cézar Henrique Maranhão, sobre o obra A crise estrutural do capital, de István Mészáros; e a segunda, de Gracia Gondim, sobre o livro  Territórios e identidades: questões e olhares contemporâneos, organizado por Frederico Guilherme de Araújo e Rogério Haesbaerth.