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Trabalho remoto: prejuízos aos trabalhadores?

Ampliação do trabalho remoto pode ser herança da pandemia
André Antunes - EPSJV/Fiocruz | 30/07/2020 13h04 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

A adoção de medidas de distanciamento social e biossegurança nos locais de trabalho não será o único legado da pandemia de Covid-19. Um efeito da pandemia que já é dado como certo por estudiosos do mundo do trabalho é a aceleração de um processo de implementação, pelas empresas, do trabalho remoto, ou home office. A modalidade ganhou adeptos no contexto da pandemia. Grandes empresas de diversos setores, como Facebook, Santander e a brasileira Petrobras, já anunciaram que pretendem expandir o trabalho remoto após a pandemia.

Se a perspectiva de trabalhar de casa é vista com otimismo por alguns, para outros, como o sociólogo do trabalho Ricardo Antunes, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ampliação dessa modalidade tende a significar muito mais prejuízos do que vantagens para os trabalhadores. Para Antunes, a pandemia impulsionará a expansão do que ele, assim como outros pesquisadores da área no Brasil e no mundo, vem chamando de ‘uberização’ do trabalho. “Inteligência artificial, internet das coisas, Big Data, internet 5G, impressão 3D, robotização: todo esse complexo informacional digital vem se desenvolvendo paralelamente a um trabalho marcado pela flexibilidade, informalidade, intermitência. De tal modo que temos hoje uma miríade de trabalhadores que só conseguem arrumar trabalho se se assumirem como prestadores de serviços ao invés de assalariados”, avalia o professor, para quem a combinação de informalidade e mundo informacional tem hoje um enorme potencial de expansão para áreas como a medicina e o trabalho docente. “É nesse contexto que aparece o home office, o teletrabalho, o trabalho remoto, que intensificam uma tendência de isolamento e individualização do trabalho, que tira o trabalhador do espaço de sociabilidade que o trabalho traz”, alerta o professor da Unicamp. Para Antunes, são muitas as desvantagens. “Mesmo o trabalho, por exemplo, numa fábrica, contempla um espaço de sociabilidade que decorre do contato com os companheiros, das discussões, organizações, da brincadeira, da folga, do descontentamento, das paralisações, das greves, das reflexões, avanços, derrotas. Se você transfere tudo para a sua casa, isso se perde”, avalia. Outra consequência para os trabalhadores, segundo ele, é a perda de direitos. “A empresa, num dado momento, vai dizer ‘agora vamos cortar seus direitos. Você aceita voluntariamente ou vai ser demitido?’”. Exemplo recente foi o presidente do Santander, Sergio Rial, que em um vídeo disponível no canal do banco no Youtube afirmou que o banco estuda a “abdicação voluntária” de benefícios ou a perda de uma porcentagem do salário por parte dos seus funcionários como uma das condições para a implantação de um modelo baseado no home office.