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Observatório na Mídia

29/05/2013 00h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47

Análise

por: Marcela Pronko, professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz

Treinar para reduzir salários

Leia comentário de matéria do The Wall Street Journal: no interior de Minas Gerais, mineradora norte-americana treina trabalhadores, que aceitam ganhar metade do salário pago em outras regiões do país.

A matéria apresenta um problema — o aumento do salário das mineradoras —que tem duas soluções articuladas. O problema é um problema salarial. Como eles fazem para diminuir esse salário? Recorrem a uma força de trabalho cativa que terá de ser treinada. A primeira solução diz respeito à força de trabalho cativa, que tem a ver com essa questão de manter os trabalhadores fixos à terra. Isso significa que, no momento contemporâneo do capitalismo, quando capital e mercadoria circulam pelo mundo, só o que não pode circular é a força de trabalho. Porque da sua fixação depende a capacidade de uma superexploração. Isso aparece claramente nessa matéria: a mineradora vai para um local atraída pelo que ele tem de riqueza natural — ricas reservas de minério de ferro — e se depara com um contexto difícil para a sua instalação. Reparem que a dificuldade não é só a força de trabalho, mas também a inflação, e o  que eles chamam de “dificuldades logísticas”. Mas o único lugar em que eles podem reduzir custos é na contratação da força de trabalho.

E aqui vem a segunda solução articulada: diante dessa situação, a forma de cortar custos é utilizar força de trabalho que tem um déficit de formação e, portanto, suprir essa formação com um treinamento que, pela descrição da matéria — um curso de nove meses, com painéis de simulação — é superaligeirado, feito para que os trabalhadores cumpram a função técnica que têm que cumprir. Com isso, eles ainda conseguem que a força de trabalho aceite ganhar metade do que eles pagariam em outro lugar e obtêm a redução de custos que estão querendo fazer.

Anglo American treina mão de obra no Brasil para economizar

Uma solução para o aumento dos salários que atormenta as mineradoras é encontrar uma força de trabalho cativa que está disposta a ser treinada, como a de uma cidade remota, onde o número de vacas é quase o dobro do de habitantes.

Augusto Alonso Silva, de 19 anos, está ansioso por ganhar US$ 600 (cerca de R$ 1.200) por mês como mecânico industrial da mineradora Anglo American nessa pequena cidade de Minas Gerais. O pagamento equivale a quase metade do salário que as mineradoras oferecem em qualquer outro lugar do Brasil, mas Silva diz que é quase o dobro do que sonhava ganhar como soldado. "Agora tenho um sonho diferente", disse no intervalo de uma aula de engenharia básica.

John W. Miller, The Wall Street Journal, 20/05/2013
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