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Observatório na Mídia

15/12/2016 11h47 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

Análise

por: Silvio Valle,professor-pesquisador da EPSJV/Fiocruz e coordenador do grupo Biossegurança Bioética e Biotérios no Facebook

Transgênicos: o que a grande imprensa não aborda

A divulgação na grande imprensa sobre a liberação de sementes transgênicas no Brasil utilizando dados de uma consultoria ligada ao agronegócio não é novidade. Segundo informações recentemente veiculadas, a área plantada com sementes transgênicas alcançou 49,1 milhões de hectares na safra 2016/17 entre soja, milho e algodão. A extensão corresponde a 93,4% da área total plantada com essas culturas no país e supera os 45,7 milhões de hectares com transgênicos no ciclo 2015/16. Segundo a própria consultoria "Essa tecnologia (transgenia) tenderá a ser, cada vez mais, dominante dentre as culturas atuais". Infelizmente sem uma Vigilância adequada.

Atualmente são 58 eventos de transgenia aprovados para comercialização: oito resistentes a insetos, 19 tolerantes a herbicidas, 27 com genes combinados, um resistente a doenças, um relacionado a aumento de produtividade, um para aumento de rendimento industrial e um tolerante ao estresse hídrico. O que a matéria não aborda é que o Brasil passou a ser também o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, segundo dados da coordenação de agrotóxicos do Ministério da Agricultura. O aumento de área plantada em si não seria problema, o grave é a falta de rigor científico da CTNBio [Comissão Técnica Nacional de Biossegurança]  na avaliação de riscos ambientais e para a saúde pública dos diversos eventos transgênicos.

O que torna o quadro ainda mais preocupante é a falta de uma política e um programa de controle pós-comercialização (fiscalização), situação herdada de governos anteriores e continuada pelo atual. Legalmente essa atividade deveria ser feita pelos órgãos de Vigilância Sanitária do Ministério da Agricultura e do Ministério da Saúde. É lamentável, mas as autoridades brasileiras não possuem dados oficiais confiáveis de área plantada, não regulamentam e nem fiscalizam adequadamente a rotulagem de alimento contendo transgênico, como determina o Decreto Federal sobre o assunto. Tudo isso associado ao dado alarmante do aumento do consumo de alimentos contendo elevadas concentrações de substâncias carcinogênicas, no caso, os agrotóxicos, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer.

No campo da produção científica, temos no país uma grande competência e muito conhecimento da biotecnologia transgênica e dos agrotóxicos, mas na prática esse conhecimento não é incorporado como politica pública para garantir uma biossegurança para a população.  O uso de sementes transgênicas e seus resultados são feitos de maneira parcial, por parte dos interessados no agronegócio, somente com dados relacionados à produtividade agrícola sem considerar os impactos na sustentabilidade ambiental e na Saúde Pública. A situação poderá se agravar num futuro breve, caso também se delegue à CTNBio o poder de avaliar o risco biológico das sementes desenvolvidas por edição genética. Trata-se da nova técnica CRISPR/Cas9, que consiste em editar o genoma das espécies e sobre a qual ainda não estão estabelecidos padrões éticos e de biossegurança.

Cresce a área plantada com transgênicos na safra atual

A área semeada com grãos geneticamente modificados (transgênicos) no Brasil alcançou 49,1 milhões de hectares na safra 2016/17 entre soja, milho e algodão, de acordo com o segundo levantamento da consultoria Céleres, divulgado na sextafeira. A extensão corresponde a 93,4% da área total plantada com essas culturas no país e supera os 45,7 milhões de hectares com transgênicos no ciclo 2015/16.

A análise das tecnologias demonstra a liderança dos eventos com genes combinados (resistente a insetos e tolerante a herbicidas), que somarão 32 milhões de hectares, ou 65,1% do total semeado com tecnologia geneticamente modificada, permanecendo os números citados no levantamento anterior. "Essa tecnologia tenderá a ser, cada vez mais, dominante dentre as culturas atuais", diz a consultoria.

Conforme a Céleres, o número de tecnologias aprovadas com genes combinados chegou a 27 (46,5% do total), sendo uma para a cultura da soja, 22 para a cultura do milho e 12 para o algodoeiro. No total, são 58 eventos aprovados para comercialização (oito resistentes a insetos, 19 tolerantes a herbicidas, 27 com genes combinados, um resistente a doenças, um para aumento de produtividade, um para aumento de rendimento industrial e um tolerante ao estresse hídrico). Vale lembrar que em outubro, a CTNBio, pela primeira vez, aprovou para fins de importação (e não cultivo) três eventos de milho geneticamente modificado Tais eventos foram aprovados em caráter de exceção, para suprir a demanda do cereal neste ano.

Valor/12/12/2016
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