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Observatório na Mídia

01/08/2013 00h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47

Análise

por: Flavio Serafini, professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz

A voz dos mercados

Manifestações sociais fazem mal à  economia brasileira: essa é a conclusão de um relatório divulgado pelo Itaú Unibanco. Professor-pesquisador da EPSJV comenta matéria sobre o assunto.

Reportagem do jornal ‘Folha de São Paulo’ de 25 de julho de 2013 aponta que relatório recentemente divulgado pelo Itaú Unibanco destaca que “manifestações acentuam incerteza e inibem investimento” no Brasil. Segundo a reportagem, pesquisas realizadas no mês de julho demonstrariam perda de confiança no cenário econômico tanto entre o empresariado quanto entre os consumidores. Esta perda de confiança seria o indício do esfriamento da atividade econômica e refletiria também os prejuízos causados pelas manifestações, que levaram ao fechamento do comércio e à interrupção do fluxo de matérias primas. O banco já estaria revendo a previsão de crescimento do PIB em 2013, atualmente em 2,3%. É o grito dos mercados que buscam garantir seus interesses!

Nos últimos anos, sob o mito do neodesenvolvimentismo, o governo brasileiro tem cada vez mais se tornado fiador do grande capital. Além de destinar cerca de 42% do orçamento público para o setor financeiro através do pagamento da dívida pública, o Governo Federal, principalmente através do BNDES, passou cada vez mais a atuar no sentido de “gerar condições” para o investimento privado. Da retomada de uma agenda de privatizações na área de infraestrutura, em especial portuária e aeroportuária, a reformas e construção de estádios “Padrão Fifa” para a realização da Copa do Mundo de 2014, a receita é a mesma: investimento público buscando criar condições para o investimento privado, ou seja, garantir uma vantajosa taxa de lucros para o capital. Enquanto isso, os serviços públicos continuam precarizados.

Os protestos de junho de 2013 foram muito claros ao questionar este modelo. O governo subsidia o setor de transportes e mesmo assim as tarifas seguem aumentando acima da inflação. Nos últimos 12 anos, o valor das passagens no transporte coletivo subiu muito mais que a inflação acumulada no mesmo período. Segundo estudo do IPEA, entre 2000 e 2012, o índice oficial de inflação (IPCA) atingiu 125% e a tarifa dos ônibus aumentou 192%. Por isso, mesmo após a vitória das ruas com o cancelamento do aumento das tarifas em diversas cidades brasileiras, os protestos continuaram (e ainda continuam). Não é só pelos 20 centavos! É por “Educação e Saúde padrão Fifa”! É contra um modelo que beneficia o privado em detrimento do público. Questiona um modelo que sustenta o crescimento econômico no trabalho precarizado, e por isso 94% dos empregos gerados nos últimos dez anos pagam no máximo 1,5 salários mínimos.

A voz das ruas tem sido clara, apesar de toda a dificuldade dos principais meios de comunicação em traduzi-la. O governo disse que está ouvindo, mas até agora não conseguiu dar respostas efetivas, ao contrário, ao afirmar a manutenção do ajuste fiscal como prioridade (nos últimos dez anos em patamares maiores que nos oito anos anteriores), pareceu pouco disposto a promover mudanças de fundo. Mesmo assim os setores do mercado também estão soltando a sua voz, eles não são bobos. Ao que parece, a grande mídia tem sido muito mais competente em traduzi-la.

Onda de protestos pode ter efeito duradouro na economia, diz banco

As manifestações sociais perderam fôlego, mas poderão ter efeito negativo prolongado sobre a economia.

Relatório divulgado ontem pelo Itaú Unibanco afirma que os protestos, somados ao cenário externo menos favorável ao Brasil, terão "consequências econômicas além do plano imediato"

Érica Fraga, Mariana Carneiro e Clara Roman, Folha de São Paulo 25/07/2013
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