Serviços 
O conteúdo desse portal pode ser acessível em Libras usando o VLibras

Ciências Sociais e Humanas na reconstrução crítica da Saúde Coletiva

Mais de dois mil congressistas participaram do 9º Abrasquinho apresentando quase 1500 trabalhos
Larissa Guedes - EPSJV/Fiocruz | 07/11/2023 16h09 - Atualizado em 07/11/2023 16h52

Com o tema “Emancipação e Saúde: decolonialidade, reparação e reconstrução crítica”, foi realizado, de 01 a 03 de novembro de 2023, o 9º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, o Abrasquinho, em Recife (PE). O evento foi promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco).

Considerando as atividades do Pré-Congresso, que começaram no dia 30 de outubro, foram cinco dias de intensos debates, oficinas, painéis, mesas redondas, apresentações de trabalhos, trocas de vivências, saberes e muito conhecimento compartilhado. Ao todo, esta edição do Congresso contou com 2328 congressistas, 2353 trabalhos submetidos, 1777 aprovados e selecionados, sendo 1415 apresentados, segundo dados da Abrasco. Além das atividades acadêmicas, o 9º CSHS buscou trazer uma série de programações culturais integradas com as manifestações das músicas, danças, cores e vibrações populares de Pernambuco.

Dezenas de professores-pesquisadores da Escola Politécnica participaram do Congresso, apresentando a produção científica realizada na EPSJV e contribuindo com as reflexões propostas sobre a importância do papel das Ciências Sociais e Humanas para a construção da saúde no Brasil. Para a vice-diretora de Ensino e Informação da Escola, Ingrid D’avilla, a participação no Abrasquinho permitiu uma troca mais intensa e a continuidade da reflexão sobre alguns temas que já vinham sendo discutidos desde o 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão, realizado em novembro de 2022, em Salvador (BA).

“As reflexões trazidas são fundamentais e, ao mesmo tempo, inovadoras, na medida em que as desigualdades sociais e os marcadores sociais das diferenças têm sido colocados com ênfase em todos os debates sobre a saúde e as políticas públicas”, considerou Ingrid. “Há uma ampla sinergia entre os movimentos reflexivos e indutivos da Abrasco, com os atuais caminhos e necessidades da EPSJV, sobretudo, para a materialização do biênio da educação politécnica e antirracista”, completou ela.

Já a professora-pesquisadora da EPSJV, Cláudia Andrade, contou que chegou ao final do Congresso com novas perspectivas agregadas, novas frentes de trabalho conjunto e com uma ampliação do leque de leituras e referências para o desenvolvimento de suas pesquisas. “O que levo de aprendizado no processo é a identificação de grupos de pesquisa, discussões e trabalhos em rede que utilizam as categorias da Economia Política da Saúde no debate acerca do SUS, bem como a necessidade de fortalecimento da integração de distintos grupos de pesquisa para a organização de uma luta de classes internacionalista e regional na América Latina para a garantia de sistemas universais de saúde”, explicou Cláudia.

Na cerimônia de encerramento do Congresso, houve um momento de reconhecimento dos trabalhos de destaque com o Prêmio Cecília Minayo, nomeado em homenagem à pesquisadora emérita da Fiocruz, Maria Cecília de Souza Minayo, além do reconhecimento de outros trabalhos com uma menção honrosa. Dentre esses, estava o trabalho “Experiências de trabalhadoras na Covid-19: manifestações da branquitude”, de autoria das professoras-pesquisadoras da EPSJV, Anna Violeta Durão e Renata Reis, com a pesquisadora do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Flávia de Assis. “A questão da branquitude é fundamental para compreendermos as relações de trabalho no campo da Saúde”, comentou Renata Reis, uma das autoras. “Esse trabalho é parte de um projeto coletivo que a gente espera que esteja cada vez mais presente nas discussões do campo da Saúde Coletiva e das Ciências Sociais”, completou ela.

Ministra da Saúde 

A ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, participou da Conferência de Abertura do 9º CSHS, no dia 1 de novembro. Na palestra intitulada “A relevância das ciências sociais e humanas na reconstrução crítica da saúde brasileira”, que lotou de congressistas a Concha Acústica Paulo Freire, dentro do campus da UFPE, a ministra pontuou como é fundamental o papel das Ciências Sociais e Humanas para o enfrentamento das desigualdades sociais e raciais no Brasil e que, por isso, essas áreas não podem estar à margem.

Para uma plateia plural e diversa, Nísia, que é socióloga com longo tempo de atuação no campo da saúde, reconheceu que este processo de reconstrução é um desafio democrático. “Sabemos o quanto de iniquidades existem e o quanto queremos avançar”, ressaltou ela.

A ministra lembrou que o orçamento do Ministério da Saúde foi recomposto com a chamada PEC da Transição e destacou que essa medida foi importante para a agenda da pasta de retomada de programas e políticas públicas que são prioridades do Governo Federal neste momento. Com isso, segundo Nísia, será possível promover mudanças definidas a partir das premissas éticas no esforço de reconstrução crítica da Saúde, como a ampliação e o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde, do Complexo Industrial da Saúde, a expansão e fortalecimento da Atenção Especializada, da Saúde Digital, entre outras. “É papel das ciências sociais e humanas em saúde contribuírem para um processo narrativo diferente com perspectiva crítica e com participação ativa da saúde. Que seja uma contribuição para uma sociedade mais democrática e mais inclusiva”, concluiu Nísia.