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Farmácia viva fornece plantas medicinais para usuários do SUS em Paraty

Iniciativa foi uma das experiências visitadas pelos participantes do Encontro Diálogos e Convergências ‘Saúde e Agroecologia’, que aconteceu entre os dias 21 e 24 de novembro
André Antunes - EPSJV/Fiocruz | 27/11/2018 15h19 - Atualizado em 01/07/2022 09h44
Foto: André Antunes

Imagine ir ao posto de saúde com um problema respiratório e a médica lhe receitar um chá de manjericão para ajudar a lidar com as crises. Ou então receber a prescrição de uma compressa com folhas de babosa – também conhecida como aloe-vera – para tratar as dores causadas por uma úlcera gástrica. Se isso parece estranho, saiba que situações como essas são corriqueiras para os usuários de uma Unidade Básica de Saúde do bairro do Pantanal, na cidade de Paraty (RJ). Manjericão, babosa, saião, lavanda, alecrim, erva-cidreira, hortelã, poejo e boldo são apenas algumas das cerca de 50 plantas medicinas a que os moradores têm acesso através do SUS. Nos fundos da unidade, onde antes só havia mato, está instalada a primeira farmácia viva de Paraty. Mantida com a ajuda dos próprios usuários e dos trabalhadores da unidade, com apoio da Secretaria Municipal de Saúde, ela hoje serve como um repositório de remédios naturais que auxiliam no tratamento dos mais variados males, desde a dor de estômago até a depressão, passando por entorses, contusões, pressão alta e enxaqueca. A farmácia viva foi uma das dez experiências do território da Serra da Bocaina através das quais os participantes do Encontro Diálogos e Convergências ‘Saúde e Agroecologia’ puderam vivenciar a relação entre promoção da saúde e agroecologia, que tem na valorização do saber popular sobre as plantas medicinais um de seus pilares fundamentais. O encontro foi realizado em Paraty entre 21 e 24 de novembro, numa parceria entre Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra, Paraty e Ubatuba (FCT).

André Antunes

A iniciativa foi idealizada pela pediatra Cláudia Toledo, diretora do Hospital Municipal São Pedro de Alcântara em Paraty. Ao Portal EPSJV/Fiocruz, que visitou a unidade durante o encontro, ela explicou que a farmácia viva foi implantada em agosto deste ano por meio de um mutirão que contou a ajuda de voluntários da região e de trabalhadores da unidade, com apoio da Secretaria Municipal de Saúde. “A ideia é que as pessoas possam passar em uma unidade de saúde e ter acesso direto a um remédio mais natural, orgânico”, diz Claudia, que lembra que o modelo está previsto pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares de 2006 e pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica, de 2004. “Nossa intenção é trazer a comunidade para dentro do posto de saúde, que ela veja nessa farmácia um manancial de cura para eles e quem sabe mais para frente a gente possa ter espaço para secar as ervas, para fazer tinturas, e para fazer estoque também”, diz Cláudia. Um terceiro mutirão está marcado para acontecer no primeiro sábado de dezembro deste ano. Segundo ela, esse é um momento para, além de chamar a população para ajudar na manutenção da farmácia viva, trocar experiências e conhecimento sobre plantas medicinais. “Tem muitas pessoas que sabem mais do que a gente. São pessoas que têm um avô, um tio, alguém mais velho que sabe disso. Então a ideia também é resgatar essa ancestralidade, ou seja, que esse saber popular seja validado, para que a gente possa entrar com a pesquisa, com as normas sobre o que já foi autorizado pelo SUS”, explica.

André Antunes

A médica da unidade, Joana de Queiroz, conta que desde a implantação da farmácia viva, em agosto, tem aprendido mais sobre as plantas medicinais com moradores e usuários da unidade durante os mutirões. Gaúcha formada em medicina em Cuba, Joana explica que foi trabalhar em Paraty depois de revalidar o diploma no Brasil e ser aprovada pelo programa Mais Médicos em 2013. “Lá em Cuba o curso de Medicina traz a medicina tradicional e as práticas integrativas comunitárias de uma maneira mais forte”, revela. Em Paraty, ela conta que ainda tem um pouco de dificuldade em convencer alguns pacientes a usarem as plantas medicinais. “Para algumas pessoas é só alopático, alopático, alopático. É difícil, porque hoje em dia as pessoas querem pílula para tudo: para dormir, para acordar, para resolver todos os problemas”, conta Joana. “E também porque o efeito do remédio alopático é mais rápido, e muita gente não tem paciência. Mas tem muita gente que adora as plantas medicinais”, revela. Joana lista algumas das que mais costuma prescrever, como a melissa, indicada para combater a ansiedade e a insônia; o saião, na forma de chá ou xarope, para problemas respiratórios; a lavanda, para combater sintomas da depressão e a tanchagem, de efeito anti-inflamatório.