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Formação profissional em saúde: necessidade de mudanças é debatida

Para pesquisadores e estudantes, é preciso ter mais contato com a comunidade durante a formação
Cátia Guimarães - EPSJV/Fiocruz | 20/10/2011 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

A educação profissional em saúde foi tema de um dos debates paralelos à Conferência Mundial de Determinantes Sociais em Saúde, que acontece esta semana no Rio de Janeiro. Num painel que compõe as atividades paralelas à Conferência, realizado ontem, participantes de diversas nações deram contribuições ao avaliar a formação em nível superior em seus países de origem, e a ideia de que é preciso haver uma formação mais voltada para a saúde pública permeou a sessão. Embora o painel propusesse a discussão sobre educação profissional em saúde, não houve qualquer referência à formação de técnicos.

A painelista Sabina Rashid, da Escola de Saúde Pública James Grant, da Universidade BRAC, em Bangladesh, disse que algumas universidades indianas têm trabalhado juntas para modificar o currículo de profissionais de saúde. De acordo com ela, o principal desafio é fazer com que a formação “faça mais sentido” para os estudantes, estando orientada para as necessidades reais da comunidade onde eles atuarão. Ela disse que, hoje, percebe-se que os currículos não estão voltados para a comunidade e ignoram a sua realidade social, econômica, cultural e demográfica.

Sabina também chamou a atenção para o fato de que o setor privado está se expandindo muito e sem nenhuma regulação nem mecanismos para verificar a qualidade das novas escolas. Segundo a professora, hoje, há 61 escolas de medicina em Bangladesh, sendo 43 privadas.

Na plateia, um estudante chileno de Medicina comentou a situação em seu país . Ele citou uma pesquisa realizada com estudantes que mostra dados curiosos: quando questionados sobre suas expectativas em relação à Medicina no primeiro ano da faculdade, 70% dos alunos dizem que esperam ajudar as pessoas; no último ano, apenas 10% apresentam essa resposta. “Acredito que deve ter algo errado com a nossa formação para que esses valores mudem tanto em sete anos de faculdade”, disse.

Ele concordou com Sabina quanto à necessidade de se estabelecer um contato maior entre estudantes de medicina e a comunidade, para que vejam como podem ser úteis a ela. Uma médica, também do Chile, observou que fez essa mesma pesquisa 30 anos atrás e o resultado foi exatamente o mesmo. “Nossa educação é assim. As pessoas chegam querendo ajudar, e saem querendo ganhar dinheiro. Temos que mudar esse jeito de formar, que é o mesmo há 50 anos. Só que existe uma resistência muito grande à mudança. Precisamos de uma comissão global que diga que é tempo de mudanças e que faça pressão por elas”, defendeu.

Um estudante escocês disse que, se pesquisas como essas fossem feitas em escolas progressivas que já estejam mudando seus currículos e, nelas, os resultados fossem diferentes, talvez esses resultados pudessem servir para demonstrar a necessidade de mudanças. “A evidência das melhorias pode ser um método convincente para mostrar que formamos valores melhores quando trabalhamos com outra abordagem”, sugeriu. Mas o colega chileno retrucou: “Essa é uma ideia boa, mas talvez as evidências não sejam suficientes para convencer as universidades. É preciso unir evidencias e forte pressão social”.

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