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As nações e os povos 20 anos depois

Dificuldades para avançar na negociação de temas complexos marca conferência oficial. Sociedade civil reunida na Cúpula dos Povos decidiu que é tempo de união de agendas contra a financeirização da natureza.
Maíra Mathias - EPSJV/Fiocruz | 27/07/2012 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

Dos mais de cem chefes de Estado que participaram da Rio+20, pelo menos quatro chamaram atenção por expor posições marcadas por alguma personalidade – fato raro em meio ao tipo de fala protocolar que imperou no Riocentro. A Poli selecionou os principais argumentos defendidos pelos presidentes da Bolívia, Equador, Uruguai e Irã, confira abaixo:

Bolívia 

Crítico da economia verde, o presidente Evo Morales fez um dos pronunciamentos mais aguardados da conferência. "De acordo com os sentimentos de agentes sociais do mundo inteiro, principalmente dos povos indígenas, o que exatamente entendemos por economia verde? Será que é a nova cor para subjugarmos nossos povos ao sistema capitalista?", cravou. Segundo ele, a economia verde deve ser encarada como um novo colonialismo imposto pelos países desenvolvidos que atualmente concentram seus esforços "na destruição comercial do meio ambiente". Morales também criticou a visão de curto prazo que transforma a fonte de vida de muitas gerações em um ativo privado. "O ambientalismo mercantilista transforma cada planta, árvore e gota de água em algo a ser vendido, sujeito à ditadura do mercado", disse, completando: "A vida não é direito, apenas mais um negócio para o capitalismo".

Equador 

A ênfase do pronunciamento do presidente Rafael Correa foi dada na defesa do princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. "Vinte por cento dos países mais ricos geram 60% das emissões de CO2, enquanto os 20% mais pobres geram apenas 0,72%. A relação é de 83 para um". O presidente equatoriano também argumentou que nações desenvolvidas historicamente consomem bens ambientais os quais não produzem e por isso devem pagar sua dívida ecológica. Correa tornou a apresentar a bandeira do "Petróleo debaixo da terra", que no caso equatoriano consiste em deixar intactas reservas de petróleo do Parque Nacional de Yasuní, região com a maior biodiversidade do planeta. "Deixaríamos de produzir 846 milhões de barris de petróleo, o que impediria a emissão de 407 milhões de toneladas de dióxido de carbono, provenientes da queima de combustíveis fósseis". Ele contabiliza que o país deixaria de ganhar US$ 14 bilhões com a exploração e defendeu a criação de um fundo que destine recursos para que o Equador não explore a reserva. "Limpar é equivalente a não sujar", finalizou.

Uruguai

O presidente José Mujica fez um discurso afinado à bandeira do decrescimento, conceito que prega que os países devem adotar políticas de diminuição da produção e do consumo para patamares compatíveis com a preservação do meio ambiente e da justiça social. "A tarde inteira se falou em desenvolvimento sustentável, em tirar milhões de pessoas da pobreza. Estamos pensando no atual modelo de produção e consumo das sociedades ricas? O que aconteceria com esse planeta se os hindus tivessem a mesma proporção de automóveis por família que os alemães?” questionou. Mujica defendeu que a crise ambiental deve ser encarada, antes de tudo, como uma crise política, na medida em que sua causa é o atual modelo de civilização.  "Se se paralisa o consumo, a economia estagna e aparece o fantasma da recessão. O hiperconsumo está agredindo o planeta, as coisas são produzidas para durar pouco porque as empresas têm que vender muito. Esses são problemas de caráter político que demonstram a necessidade de lutar por outra cultura. Não se trata de retornar ao homem das cavernas, nem erigir um monumento do atraso, mas não podemos mais continuar a governar para o mercado e, sim, governar o mercado".

Irã 

Durante coletiva de imprensa convocada pela embaixada iraniana, o presidente Mahmoud Ahmadinejad criticou a atual ordem mundial. “Uma minoria impõe dominação ao restante dos países. Basta olhar para a América Latina para verificar que tipos de crimes foram praticados contra a população dessa região ao longo da história. A presença de regimes ditatoriais apoiados por governos externos desrespeitaram os direitos dos povos e tiraram sua liberdade. Hoje, bilhões de pessoas vivem na pobreza no mundo. Quer dizer que existe insuficiência nessa população para gozar de uma vida normal? Ou a causa é a minoria que domina os centros de poder?”, argumentou. Ahmadinejad mais uma vez centrou suas críticas nos Estados Unidos: “Enquanto dizem publicamente que estão ao lado da liberdade de informação, permitem a si mesmos escravizar povos do mundo todo. Um dos pilares da dominação é o uso da imprensa. Querem demonstrar que o motivo da pobreza na África e na América Latina são as nações, quando o verdadeiro motivo da pobreza é o colonialismo, as intervenções e ocupações, como a do Iraque, que atrasou o país em 50 anos e vitimou mais de um milhão de iraquianos. Mas foram eles que criaram o Saddam”. 

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