A mesa ‘Movimentos Sociais e os Fóruns de Saúde', contou com a participação do professor emérito da Universidade de Santa Catarina Marco Aurélio da Ros para trazer o histórico da Reforma Sanitária enquanto movimento social; de Jussara Basso dos Santos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), e de Gislei Siqueira, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para mostrar suas bandeiras e articulações com a saúde.
O professor Marco Aurélio falou sobre as origens da Reforma Sanitária, que era a articulação de diversos movimentos do setor da saúde dentro de um contexto da luta da sociedade como um todo. Segundo ele, este movimento foi reprimido durante a ditadura militar e veio a ganhar força somente no ano de 1976, com o nascimento do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), o financiamento do Programa de Ações e Saneamento (PIASS), a origem da residência médica comunitária, entre outros, culminando assim, ao longo de uma década, na 8ª Conferência Nacional de Saúde. "O SUS é criação do movimento popular organizado. Se o movimento não tivesse sonhado, não teria existido. Por isso, pautamos o sonho como fundamental. Ainda continuamos pautando o SUS que a gente sonha: integral, universal e público", enfatizou.
Ros apontou para a retomada do controle dos conselhos municipais para que se transformem em verdadeiros espaços democráticos. Segundo o professor, grande parte dos conselhos hoje são instrumentos de manobras e manipulações de gestores. "O que não podemos descolar é que o SUS era apenas uma parte do movimento que tinha uma luta anticapitalista. Os modelos apresentados hoje na saúde pública como as organizações sociais e mais especificamente a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) estão indo contra esta luta anticapitalista", analisa.
Gislei Siqueira. do MST endossou as palavras de Marco Aurélio dizendo que o horizonte dos movimentos sociais é o mesmo, que é o de transformação social. "É possível que movimentos diferentes construam sonhos comuns. A nossa grande bandeira é a luta pela reforma agrária, mas o caminho é a luta contra o capital. É importante que reconheçamos isso, porque a gente acaba fragilizando as lutas, ao setorizá-las", defendeu.
A representante do MST aponta lutas convergentes com a saúde como a do agronegócio, que, de acordo com ela, traz a destruição da saúde da terra e das pessoas com o uso dos agrotóxicos, além da violência nas relações trabalhistas do campo. "Onde o capital precisa avançar ele vai destruindo. Ele leva todas as mazelas possíveis. Precisamos mudar o significado da saúde nos centros de formação, nos meios de comunicação e nos serviços", compreende. Gislei ainda defendeu que os trabalhadores da saúde precisam juntar os movimentos de forma horizontal e indica: "Uma coisa é muito clara para o MST: onde tiver um movimento de luta contra o capital, estaremos juntos, independente do setor. Nós precisamos fazer luta de inclusão do sujeito com participação democrática", informou. No campo, o MST tem avançado nas alianças. Atualmente, explanou a professora, são 11 movimentos do campo aliados à Via Campesina com presença em todos os continentes. "Temos uma cultura de achar que a nossa bandeira é melhor ou maior do que a dos outros. Mas temos que pensar sempre em como contribuir com a luta como um todo contra o capital", lembra.
A representante dos Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto, Jussara Basso dos Santos, iniciou a conversa agradecendo a participação dos usuários do Sistema Único de Saúde para em conjunto debater a construção de uma saúde decente para a população. Além disso, ela lembrou de como o movimento tem avançado nas pautas conjuntas com o Fórum Popular da Saúde. "Em São Paulo, conseguimos um aliado estratégico na luta da privatização da saúde. No ano passado, no dia 7 de setembro, fizemos uma ocupação simbólica de um prédio destinado à construção de um hospital que estava abandonado. No dia 23 de maio deste ano, fizemos um ato em frente à secretaria de saúde de São Paulo", exemplificou.
Jussara informou ainda que o MTST tem atividades articuladas com outros movimentos como a Periferia Ativa, que conta com a participação de 180 associações de moradores das periferias e a Resistência Urbana , que já está presente em três estados do Brasil. "A gente entende que a luta do trabalhador é a de dignidade, que abrange saúde, educação, moradia, transporte. Ou seja, tudo aquilo que o trabalhador precisa e merece para viver. A Resistência Urbana, por exemplo, é uma frente combativa por uma nova era, na qual a classe trabalhadora vai ter os mesmos direitos que apenas poucas pessoas têm hoje", informou.