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Condições de vida podem piorar resposta do organismo infantil ao rotavírus

Uma recente pesquisa global aumentou o alerta do planeta para a ocorrência de rotavírus em crianças em países de baixa e média renda. O estudo, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que o vírus é o principal causador de diarreia grave até os cinco anos de idade nessas nações. Com dados de 28 países, coletados entre 2017 e 2019, o levantamento teve participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

O virologista José Paulo Gagliardi Leite, do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), afirma que a gravidade dos casos não está, necessariamente, ligada a uma maior periculosidade do vírus. Na realidade, as condições sociais impactam na resposta ao vírus.

Transmitido por via fecal-oral, o rotavírus pode ser passado pelo contato humano ou com objetos infectados e pela ingestão de água e alimentos contaminados. Locais com más condições sanitárias, sem tratamento de esgoto, coleta de lixo e oferta de imunização, portanto, são mais perigosos.

"Nocivo não é o termo mais correto, que seria aquele que faria uma doença mais grave. Depende das condições de saúde da criança que é infectada, da assistência médica que ela vai ter e, obviamente, do agente infeccioso, da carga que ela também tenha recebido. Temos que pensar de uma maneira holística nisso tudo. O fato de um (vírus) ser mais grave que o outro vai depender muito da saúde inicial dessa criança, do grau nutricional dessa criança e como ela vai ser acompanhada", afirma Leite.

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O pesquisador da Fiocruz explica que a ciência já desenvolveu antibióticos que controlam infecções de bactérias e protozoários. No caso dos vírus, não há medicamentos. Isso leva à necessidade de uma medida simples, a hidratação, tanto oral quanto parenteral (feita com a infusão de soro). A má qualidade da água e a falta de acesso a atendimento em saúde impactam na gravidade da infecção e no tratamento, o que pode agravar os casos.

As informações foram coletadas em países das Américas, África, Europa, Ásia e Oceania. Foram registrados mais de 200 mil óbitos por ano. O rotavírus foi responsável por 33% das internações em países que não ofertam a vacina. O índice em nações com imunização caiu pela metade. 

Embora o Brasil não esteja na lista de nações com mais casos e ofereça a vacina gratuitamente, houve aumento de registros de infeção pelo rotavírus em 2022. No ano anterior a cobertura vacinal foi de 71%. Em 2015, o índice chegou a 95% das crianças com menos de um ano de idade. José Paulo Gagliardi Leite afirma que a situação nos países com mais registros da doença é uma alerta para a sociedade brasileira.

"A importância disso é que a gente, sabendo o que está acontecendo em algum outro país, tem condições de ficar mais atento. Temos que pensar o Brasil como um país continental. Algo que esteja acontecendo na região Norte não quer dizer que vai acontecer na região Sul. Temos que saber o que está acontecendo para tomar as medidas preventivas. Não quer dizer que o que está acontecendo em um lugar, vai acontecer em outro, mas pode acontecer. O importante é termos o conhecimento e cada país tem que ter seus dados epidemiológicos.”

O rotavírus atinge pessoas de todas as idades, mas os sintomas graves são mais prevalentes em crianças com menos de cinco anos. Sem os recursos terapêuticos adequados, a doença pode levar à morte. O diagnóstico é feito por testes e o tratamento inclui reposição de líquidos e minerais para evitar a desidratação e a desnutrição. Para prevenir a infecção, além da vacina, é recomendável manter sempre a limpeza das mãos com água e sabão e higienizar superfícies. 

Edição: Thalita Pires

Por: Juliana Passos e Lara Lacerda, do Brasil de Fato

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Repórter SUS