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Eco-92: como o evento realizado há 30 anos ditou os rumos do debate sobre justiça ambiental?

Há 30 anos, encerrava-se a primeira Conferência da União das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, conhecida como Eco-92. Segundo Marcelo Firpo, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz, (Ensp/Fiocruz), o evento relacionou “pela primeira vez a sustentabilidade ambiental às questões sociais de classe, raça, gênero e etnia”, estabelecendo os marcos para a noção de “justiça ambiental”.

“Nos Estados Unidos”, por exemplo “uma série de problemas de saúde relacionados à poluição começam a emergir e aos poucos vêm à tona por força dos movimentos por direitos civis antirracistas, ecológicos e da contracultura. Isso é muito interessante porque se percebe que os efeitos da poluição química e os problemas ambientais em geral têm cor, têm etnia e muitas vezes têm gênero [porque se agravam em locais de menor infraestrutura urbana]”, argumenta.

Em outras palavras, a ideia de justiça ambiental está relacionada, por sua vez, à noção de racismo ambiental: é a constatação de que populações em condições de vulnerabilidade são as mais afetadas pelas mudanças climáticas. Por exemplo, nas áreas de risco moram as justamente populações mais pobres e excluídas do planejamento das cidades. 

Alessandra Nava, pesquisadora do Instituto Leônidas e Maria Deane da Fiocruz Amazônia (ILMD), afirma que “o mais injusto é que as pessoas geralmente mais afetadas pelas mudanças climáticas são as que menos contribuem para o aquecimento global” justamente por não estarem nos espaços de decisão nem nos lugares de consumo exacerbado.

Impactos na saúde humana

As mudanças atingem as populações de diversas formas. “Primeiramente, as mudanças climáticas aumentam os eventos de desastres naturais que causam impactos muito fortes na saúde humana. Se a gente tem mudanças climáticas de longo termo que estão ocorrendo há um tempo, a mudança de temperatura vai estar relacionada a doenças a mortalidade, ao aumento de doenças por vetores, doenças respiratórias e também alérgicas, comprometimento fetal, desenvolvimento da infância, entre outros impactos”, afirma Nava.

Segundo Nava, um dos impactos mais importantes são as doenças infecciosas. Devido ao aumento de temperatura, por exemplo, animais hospedeiros e vetores mudam de comportamento e se deslocam para outras regiões. “Em alguns países onde não havia casos de dengue ou as ocorrências eram baixíssimas têm um aumento no número de casos da doença, por exemplo. Essa expansão de doenças vetoriais e que têm como roedores como reservatórios é prevista”, afirma a pesquisadora.

Um outro aspecto são as ameaças hídrica e alimentar causadas pelas mudanças climáticas. No ano passado, os brasileiros viram os preços dos alimentos subirem depois das estiagens que atingiram as lavouras, em parte do Centro-Sul. Os prejuízos somaram cerca de R$ 70 bilhões no país, de acordo com dados de entidades e órgãos governamentais dos estados mais afetados.

“Mudanças climáticas afetam também todos os aspectos do sistema de saúde. O aquecimento global vai impedir o acesso a serviços de saúde básicos, como também vai afetar a qualidade desses serviços, exacerbando todas as iniquidades de saúde e cuidados do sistema. As mudanças climáticas e a poluição pioram a saúde de milhões de pessoas cada ano, por exemplo. E isso também sobrecarrega os cursos do sistema de saúde”, diz a pesquisadora.

O último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC ou Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, em português) informa “que a saúde mental tem de ter uma grande prioridade nesse momento, porque a tendência é muito grande de as pessoas desenvolverem ansiedade, ter pensamentos suicidas e afins. Então, no painel, também tem esse alerta para o cuidado da saúde mental, como também uma ação de prioridade em saúde pela questão de mudanças climáticas”, destaca Nava. 

“E o que podemos fazer para evitar isso?”, questiona a pesquisadora. “Parafraseando o Thomas Lovejoy, ‘regreening’, ou seja, plantar floresta, recuperar florestas, conter o desmatamento, mudar a necessidade por combustíveis fósseis, mudar os nossos padrões de consumo. Um conjunto de ações que devemos tomar para realmente conseguir algum resultado realmente produtivo nessa questão de tentar limitar o aumento na temperatura global”, responde.

Edição: Vivian Virissimo

Por: Caroline Oliveira e Erika Farias

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Repórter SUS