Nas últimas semanas, o boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tem trazido alertas sobre a incidência de vírus respiratórios, especialmente entre crianças de zero a dois anos e idosos com mais de 65.
Não é incomum que o Brasil viva períodos de aumento nas infecções causadas por esses microrganismos no outono e no inverno. Uma expressão disso é o aumento nas buscas por termos como gripe e tosse na internet, observado a partir de abril.
Nas redes sociais se acumulam relatos sobre sintomas que demoram a passar e sobre a sensação de que o número de pessoas doentes é maior. A boa notícia é que já se começa a notar tendência de estabilização em algumas regiões.
Em conversa com o podcast Repórter SUS, a pesquisadora do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz) e do InfoGripe, Tatiana Portella, confirma que a época do ano costuma apresentar mais casos e reforça a atenção para as populações mais vulneráveis.
"Alguns vírus têm comportamento mais sazonal, como o sincicial respiratório (VSR) e influenza. Eles começam a ter maior atividade entre março, abril e começamos a ver uma diminuição acentuada em julho e agosto, a depender da região. Mas o que tem nos preocupado este ano é uma incidência muito alta e alguns vírus respiratórios nas crianças pequenas."
Segundo a especialista, sintomas que perduram podem indicar outras infecções, facilitadas pelo enfraquecimento do sistema imunológico devido à contaminação viral.
"Se o sintoma não passa, é importante buscar atendimento médico. Espera-se que os sintomas de uma gripe ou de um resfriado passem em uma semana ou um pouco mais do que isso. Uma das possibilidades para o prolongamento dos sintomas é outra infecção seja por um vírus diferente ou uma bactéria oportunista", explica Portella.
É importante ter atenção também a sinais que indicam quadros mais graves, como febre persistente e dificuldade de respirar. Eles são indicativos de que é preciso buscar atendimento.
Medidas como vacinação, isolamento de quem está doente e uso de máscara no transporte público, em locais fechados e em aglomerações são importantes para diminuir os riscos de infecção e propagação.
Vulneráveis
Uma das preocupações diz respeito à expressiva circulação do vírus sincicial respiratório (VSR), principal causa de infecções respiratórias em bebês.
Ele pode levar a quadros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) nas crianças pequenas. O rinovírus, que causa resfriados, também é um ponto de atenção para a incidência de SRAG nessa faixa etária.
Na população idosa, os riscos maiores estão relacionados aos vírus da gripe, influenza A e covid-19. O coronavírus tem sido a principal causa de internação por SRAG entre os idosos do Amazonas, Ceará e Piauí nas últimas semanas e alguns estados nas regiões norte e nordeste apresentam ligeiro aumento de ocorrências
Controle sobre a covid-19 ainda é instável no país após quatro anos do 1º caso
"Reforçamos a necessidade da vacinação contra a covid-19. Se tivermos uma nova onda, é importante essa população mais vulnerável, como idosos e crianças estejam com o sistema imunológico preparado para se defender em caso de infecção pelo vírus", ressalta Tatiana Portella.
Já é possível observar estabilização ou interrupção do crescimento de infecções respiratórias em algumas regiões. O movimento começou no centro-sul do país. No entanto, estados do norte e do sudeste ainda apresentam tendência de alta.
*O Repórter SUS é uma parceria entre o Brasil de Fato e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz)
Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil
Edição: Martina Medina
Por: Juliana Passos e Nara Lacerda