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O que o Brasil pode aprender com a vacinação em massa contra a dengue em Dourados (MS)

Uma pesquisa em andamento no município de Dourados (MS) pode responder perguntas importantes sobre a Qdenga, vacina japonesa contra a dengue, que será disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de fevereiro. O imunizante já tem eficácia comprovada. Agora, a vacinação em massa vai possibilitar dados mais específicos sobre a redução de casos, hospitalizações e óbitos. Com isso, o poder público terá informações mais concretas para adequação de políticas e ações, preparo da rede de saúde e alertas à população.

Em conversa com o Repórter SUS, Julio Croda, coordenador do estudo, infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que os resultados serão comparados e que serão feitas avaliações de efetividade. A cidade sulmatogrossense vai vacinar 150 mil pessoas entre 4 e 60 anos.

"É sempre um comparativo com as pessoas que não foram vacinadas, pessoas de 0 a 4 anos e maiores de 60 anos e, também, com a cidade de Ponta Porã, que apresenta o mesmo cenário de dengue – durante um ano, ocorrem picos epidêmicos no mesmo período que Dourados. Outra avaliação é de efetividade, são os estudos de vida real. Utilizando a individual da vacinação com os dados de dengue, vamos analisar a efetividade da vacina para os diferentes sorotipos que circularem em Dourados e para as diferentes faixas etárias."

Administrada em duas doses injetáveis, com intervalo de três meses entre as aplicações, a vacina tem grau de eficiência diferenciado para cada subtipo da doença. Para os tipos 1 e 2 os resultados foram de cerca de 69% e 95%, respectivamente. Mas para o tipo 3, o índice ficou em 49%.

Julio Corda afirma que, ainda assim, a proteção oferecida pela vacina é considerável, especialmente para hospitalizações e óbitos, principais objetivos da imunização. Ele lembra a experiência recente com a covid-19, em que os números de mortes e internações despencaram com a vacinação.

"Entendemos que qualquer proteção acima de 50% – e essa proteção é ainda maior quando falamos de hospitalização, que é acima de 60% para o sorotipo 3 – é uma proteção extremamente elevada quando comparada com qualquer outra medida de saúde pública para controle da doença. Sabemos que o controle vetorial, com mobilização da comunidade, chega no máximo a 30% de eficiência. Qualquer coisa acima disso ou combinado com isso, pode gerar um impacto enorme em termos de saúde pública."

A população de Dourados que faz parte do público alvo da vacinação já começou a receber as doses iniciais. A segunda etapa da imunização ocorrerá três meses após a primeira. No ano passado, o município registrou mais de 1,5 mil mortes, o que não acontecia desde 2019.

Os gráficos da série histórica dos surtos de dengue mostram que a região costuma viver períodos mais críticos a cada dois anos. Nos últimos cinco anos, no entanto, o número de casos aumentou mesmo nas épocas em que foi registrada menor circulação do vírus. A vacinação deve atingir de 60% a 80% da população entre 4 a 60 anos.

No SUS
A vacina contra a dengue foi incorporada ao Plano Nacional de Imunização (PNI) e será distribuída gratuitamente a partir de fevereiro. Como as doses oferecidas inicialmente pela farmacêutica que produz o imunizante são limitadas, a campanha vai priorizar grupos e regiões mais vulneráveis. O processo de imunização em 2024 vai contar com cerca de 6 milhões de doses.

Segundo o Ministério da Saúde, o foco inicial serão crianças e adolescentes de 6 a 16 anos. Mas a pasta ainda vai definir subgrupos dentro desse público. No total, cerca de 3 milhões de pessoas serão vacinadas em 2024. O número pequeno frente ao total da população amplia ainda mais a importância de pesquisa realizada em Dourados.

O imunizante é composto por quatro sorotipos do vírus da doença. Ele foi aprovado para comercialização no Brasil em março pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer a vacina gratuitamente por meio do sistema público de saúde.

Edição: Nicolau Soares

Foto: Rodrigo Pirola/Prefeitura de Dourados

Por: Juliana Passos e Nara Lacerda, do Brasil de Fato

Categoria(s):

Repórter SUS