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SUS é modelo internacional de sucesso, mas universalizá-lo é desafio político e orçamentário

“O SUS [Sistema Único de Saúde] já é um modelo internacional de sucesso. Claro que tem seus problemas, até porque é algo gigantesco. Mas é um modelo de democracia extraordinário, com cobertura universal. Seria o desejo nosso de que todos os países tivessem um SUS para chamar de seu. Só que isso é algo quase impossível, não apenas no Sul Global, mas também no Norte Global.” A avaliação é de Lourdes Oliveira, vice-presidenta de Saúde Global e Relações Internacionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em entrevista ao Repórter SUS, da Rádio Brasil de Fato.

Oliveira explicou que a dificuldade de universalizar um sistema como o SUS está ligada a fatores políticos e orçamentários. Para ela, mesmo países do Norte Global, como França, Alemanha e Inglaterra, contam com sistemas públicos fortes, mas estruturados de forma diferente e em territórios menores e menos desiguais. O sistema inglês, por exemplo, é “muito bacana, muito completo”, avaliou, mas não enfrenta o desafio de garantir saúde gratuita a uma população continental como a brasileira. Já nos Estados Unidos, lembrou, a saúde é privatizada e “nunca vão adotar um SUS”, mesmo depois de tentativas de reforma como o Obamacare.

A fala foi feita após a primeira conferência dos Institutos Nacionais de Saúde Pública do Brics, realizada de 15 a 17 de setembro, no Rio de Janeiro. O encontro reuniu representantes de 13 dos 16 países do bloco para debater prioridades conjuntas para a saúde no Sul Global, como vigilância epidemiológica, resposta a emergências, fortalecimento dos sistemas nacionais de saúde, combate à fome e pobreza, mudanças climáticas e doenças negligenciadas.

Para a vice-presidenta, o sistema brasileiro é singular e também uma referência de cooperação internacional. “Patógenos não conhecem fronteiras, é muito importante que tenhamos uma preparação envolvendo diversos países, não só de fronteiras, mas que tenhamos cooperações multilaterais nesse contexto”, defendeu.

Ela ressaltou que, apesar dos desafios, o Brasil está na vanguarda em áreas como vigilância em saúde e desenvolvimento de vacinas. Entre as possibilidades de cooperação, destacou a chance de os Brics desenvolverem vacinas conjuntas a partir das redes de pesquisa já em andamento. “Imagina se nós conseguimos, por exemplo, realmente sair com a produção de uma vacina conjunta. Isso é algo absolutamente inédito, e é um esforço extraordinário”, observou.

Segundo Oliveira, esse tipo de articulação internacional também reforça a preparação para futuras pandemias e o cumprimento do tratado pandêmico, acordo internacional aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em maio deste ano. “O fato de realmente termos os Brics envolvidos e trabalhando no âmbito dessa rede dos institutos nacionais de saúde pública é fundamental”, ressaltou.

A dirigente acredita que o SUS é não apenas um sistema de saúde, mas uma expressão democrática construída pela sociedade brasileira desde a Constituição de 1988. “O SUS é uma joia do Estado brasileiro. É um modelo único e extraordinário, que fala muito sobre o nosso processo de volta à democracia. Problemas fazem parte, mas estão aí para serem resolvidos e aprimorados”, apontou.

O Repórter SUS é uma parceria entre o Brasil de Fato e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz. Novos programas são lançados toda semana. Ouça aqui os episódios anteriores.

Editado por: Rafael Targino

Por: Adele Robichez, Letycia Holanda e Nara Lacerda

Categoria(s):

Repórter SUS