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SUS pode enfrentar extremos climáticos, mas inovações devem chegar ao povo

Nas próximas semanas, o Brasil pode viver mais um período de intensificação extrema das queimadas e da fumaça tóxica, a exemplo do que aconteceu em uma parte considerável do território nacional no final de agosto.

Isso porque as condições meteorológicas do início do mês de setembro tendem a ser extremas. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou diversos alertas para seca excessiva e ondas de calor, que valem para milhares de municípios brasileiros. 

Em agosto, os focos de incêndio superaram 68 mil notificações,  de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Este número representa mais que o dobro do registrado no mesmo período do ano anterior e coloca o mês como o quinto pior agosto desde o início das medições em 1998. A Amazônia e o Cerrado foram os biomas mais afetados, concentrando mais de 80% dos focos detectados.

A situação ficou mais grave diante da seca extrema registrada em 200 municípios do país em agosto pelo Índice Integrado de Seca (IIS3) do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), com impactos severos no abastecimento de água.

Para a saúde da população, essas condições podem gerar consequências graves, de problemas pulmonares – devido à exposição à fumaça de queimadas – ao comprometimento renal, por causa da desidratação, por exemplo.   

O assunto é tema de edição especial do podcast Repórter SUS, que entrevistou o cientista e médico, Paulo Saldiva, membro da Academia Brasileira de Ciências. Professor da USP desde a década de 1960 e pesquisador nas áreas de fisiopatologia pulmonar e poluição atmosférica. 

Na conversa, Saldiva falou sobre as potencialidades do Brasil frente à emergência climática. Na avaliação dele, o país tem total condição de responder aos extremos, diminuir as queimadas e proteger a saúde da população.

"Se tem um sistema de saúde que pode fazer frente a isso, é o brasileiro. Pelo menos abaixo do Equador, é o que melhor tem condição", enfatizou o professor. No entanto, ele pontuou que, para isso, é preciso garantir que as inovações cheguem à população.

Ele também falou sobre a necessidade de ampliação dos sistemas de monitoramento. "O monitoramento fixo com estações de superfície é muito ruim. Você tem em torno de 2% das cidades a partir de um certo tamanho que deveriam ter monitoramento, e não têm. Quando têm, às vezes, ele é operado pela indústria poluidora, como o termo de ajustamento de conduta."

Colocar as soluções em prática

Saldiva ressaltou ainda que a ciência brasileira já tem soluções e inovações para atender a essa demanda. Algumas delas são, inclusive, usadas pelo agronegócio. Ele defendeu que as informações coletadas por esses sistemas sejam usadas como alerta público e prevenção das queimadas.

"A revolução científica não é a coleta e a obtenção dos dados. Isso nós já temos. O que precisamos é de uma revolução de valores, de princípios e de aplicação. A ciência tem que fazer duas coisas. Uma é descobrir como as coisas funcionam e a segunda é como fazer as coisas funcionarem [para a sociedade]."

A crise do clima é responsável por danos que não se limitam à saúde individual, mas atingem também a coletividade. O relatório A Anatomia de uma Crise Silenciosa, do Fórum Humanitário Global, mostra que as alterações climáticas causam mais de 300 mil mortes por ano, 99% delas nos países em desenvolvimento. 


Edição: Martina Medina

Por: Juliana Passos e Nara Lacerda

Categoria(s):

Repórter SUS