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Crack já é usado por 1 em cada 3 consumidores de drogas das capitais

Um em cada três (35%) consumidores de drogas ilícitas nas capitais do País usa crack,conforme pesquisa inédita da Fundação Oswaldo Cruz. O trabalho, encomendado pela Secretariade de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça, indica que a maior parte dos usuários está na Região Nordeste.

Dos 370 mil consumidores regulares de crack ou similares (merla, pasta base e oxi), 148 mil encontram-sena região. Estima-se que 43% da população que usa regularmente drogas ilícitas nas capitais do Nordeste consome crack. Nesse levantamento entra Felipe da Silva, de 23 anos, que desde que conheceu e se viciou no crack no Recife, há oito anos, traficou, assaltou, se meteu com agiotas, feriu com faca e tiro, perdeu emprego e até a mulher, com quem tem uma filha de 2 anos.

Ele chegou há dez dias a um centro de acolhimento levado pela mãe – no intuito de salvá-lo de ser assassinado por causa de dívidas. Segundo Silva, só dois colegas mudaram de vida, porque viraram “crentes”. “Eu tentei, mas a Igreja não me segurou.”

Outro exemplo,em Salvador,é Carlos Souza. “Eu não tinha ideia de que me viciaria na primeira pedra”, diz. Nem mesmo a morte da mulher por overdose e a perda de um filho, assassinadopor traficantes, detiveram seu ímpeto.

Depois do Nordeste, em números absolutos,o maior número de usuários de crack está nas capitais do Sudeste. A região reúne 113 mil consumidores regulares. Porcentualmente, porém, o problema é mais grave no Sul: 52% das 72 mil pessoas que usam regularmente drogas ilícitas consomem crack.

O trabalho foi feito com base em dados coletados em 2012 com 25 mil residentes nas capitais. De acordo com a Fiocruz, trata-se do maior e mais completo levantamento do mundo.

O estudo indica ainda que 14% dos usuários são menores de idade. Isso equivale a 50 mil crianças e adolescentes. Também nesse caso a pior situação é no Nordeste. Nas capitais da região, cerca de 28 mil crianças e adolescentes consomem regularmente crack e similares.

Explicação. O secretário nacional de Política sobre Drogas,Vitore Maximiniano, observa que o uso do crack está relacionado a situações de extrema vulnerabilidade. Algo que poderia explicar, em parte, a maior prevalência no Nordeste. “Os indicadores de desenvolvimento humano, como educação e renda, são menores ali”, observou. A lógica, no entanto, não se estende ao Sul, região que igualmente preocupa pelo porcentual de usuários. “São situações distintas. A região historicamente apresenta índices mais elevados de uso.”

Entre as mulheres, 10% relataram estar grávidas

Embora sejam minoria nas cenas de uso de crack, mulheres despertam grande preocupação das autoridades. No estudo, 44,5% relataram já ter sofrido violência sexual alguma vez na vida. No momento da visita, 10% informaram estar grávidas. Além disso, mais da metade disse já ter engravidado pelo menos uma vez desde que usa drogas.

No Recife, Mariana Barbosa da Silva, de 23 anos, grávida de 4 meses, soube ontem por meio de uma ultrassonografia que a barriga da criança só está desenvolvendo de um lado. “Talvez precise operar assim que nascer”, afirmou, certa da causa da má-formação: o crack. “Mexeu comigo.”

Mariana é usuária há cinco anos. Foi apresentada ao crack por um caminhoneiro em um posto de gasolina na BR-101, onde fazia programas. Quis experimentar e não largou mais.

Essa é outra preocupação: as mulheres consomem a droga por menos tempo – 72,8 meses, ante 83,9 meses da média masculina. Mas consomem mais pedras por dia – 21, enquanto homens indicaram usar até 13. Para os pesquisadores, a concentração de uso já reflete a discriminação a que são submetidas.