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Julho Amarelo: Brasil corre contra o tempo para eliminar hepatites virais

Até 2030, o Brasil tem o compromisso de cumprir uma série de metas que podem mudar drasticamente o cenário de propagação das hepatites em território nacional. A infecção está na lista de doenças negligenciadas que a Organização Mundial da Saúde quer controlar nos próximos cinco anos.

A meta é de redução de 90% nas novas infecções e de 65% das mortes causadas pelas hepatites. No entanto, os índices atuais de diagnóstico e tratamento no país ainda estão muito aquém do necessário para alcançar esses objetivos, o que torna o desafio ainda maior.

Segundo o Relatório global sobre hepatite 2024 da OMS, o Brasil é uma das 38 nações focais para a resposta à hepatite viral. Juntos, esses países concentram cerca de 80% das infecções e mortes globais por hepatite B e C.

Com 0,5% do total de casos do planeta, o país tem cobertura de diagnóstico de 34,2% e de tratamento de 3,6% para hepatite tipo B. Já para o tipo C da doença, a cobertura de diagnóstico é de 36% e de tratamento de 24%.

Em entrevista ao podcast do Brasil de Fato Repórter SUS, a pesquisadora Livia Melo Villar, chefe do Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), ressalta que a doença é um mal muitas vezes invisível, com sintomas que só aparecem já na fase grave, o que dificulta o controle. Além disso, a prevalência é grande, mas as informações sobre o tema não alcançam o público de maneira efetiva.

“As hepatites são inflamações do fígado que podem ser causadas por diversos fatores e um dos fatores mais relevantes são os virais. Este mês de julho foi elencado como um período de combate, principalmente às hepatites virais, porque realmente são doenças que têm uma distribuição mundial, com muitos casos, e que muitas pessoas desconhecem. Temos uma uma alta distribuição com pouco conhecimento sobre o assunto.”

A OMS considera as hepatites virais um dos maiores desafios da saúde pública global, com milhões de pessoas vivendo com a doença sem saber. A falta de conhecimento contribui para a subnotificação e o avanço da infecção para estágios mais graves, como cirrose e câncer de fígado.

A hepatite pode ser causada por cinco tipos de vírus (A, B, C, D e E), com diferentes formas de transmissão e gravidade. Em casos mais graves pode causar sintomas como pele e olhos amarelados (icterícia), urina escura e fezes claras.

O Sistema Único de Saúde (SUS) desempenha um papel fundamental no combate às hepatites e oferece diagnóstico e tratamento gratuitos. Mas o avanço do controle esbarra em questões como a falta de adesão ao tratamento e o tamanho do território nacional.

“Nosso país tem dimensões e temos regiões no Brasil que são regiões de difícil acesso, seja por questões de violência ou localização. Isso muitas vezes acaba impedindo primeiro o acesso ao diagnóstico, porque não conseguimos saber quem tem a doença, quem está positivo e, consequentemente, não se fornece o tratamento. Então hoje em dia, um dos nossos grandes objetivos é realmente tentar aumentar esse acesso ao diagnóstico para facilitar o tratamento.”

Uma das principais ferramentas de prevenção são as vacinas. Para o tipo A estão disponíveis imunizantes para crianças. Já a prevenção contra a hepatite B é voltada para todas as idades. A hepatite C ainda não tem vacina, mas o tratamento disponível no SUS apresenta taxas de cura acima de 95%.

Na conversa com o Repórter SUS, Lívia Melo Villar aponta a importância da atenção primária no processo de combate às hepatites. “Um dos projetos que coordenamos agora avalia a qualidade de vida de pacientes com hepatite C, que são atendidos em ambulatórios de hepatologia e também a taxa de adesão ao tratamento. É uma estratégia muito importante, a partir da atenção primária observar a adesão. Essa conexão entre atenção primária e os demais níveis de atenção do SUS é super importante para o controle da doença.”

Editado por: Nicolau Soares

Por: Juliana Passos e Nara Lacerda

Categoria(s):

Repórter SUS