O estudo de viabilidade para a concessão do Maracanã causou polêmica também por defender a elitização do público do estádio: no estudo, a IMX desenhou um modelo de negócios em que 61% da receita bruta do concessionário viria dos assentos para clientes VIPs, dos camarotes e da venda de assentos para uma temporada inteira. A IMX aponta ainda que “a mudança do perfil do público” e o aumento do preço dos ingressos deve beneficiar os clubes cariocas.
A elitização do futebol brasileiro é uma tendência atualmente, como aponta estudo da Pluri Consultoria: segundo a pesquisa, o preço médio dos ingressos mais baratos no Campeonato Brasileiro aumentou 300% em dez anos, enquanto a inflação no período foi de 90%. Segundo a consultoria, de uma média de R$ 9,5 em 2003, os ingressos mais baratos passaram a custar em média R$ 38, o que, de acordo com a empresa, tornou o ingresso de futebol no Brasil o mais caro do mundo, levando em conta a renda per capita nos países. p;
Segundo a Pluri, o aumento contrasta com o tamanho do público nos estádios: outro estudo da consultoria apontou que o Brasil ocupa hoje o 18° lugar no ranking mundial de públicos nos estádios de futebol, com uma média de 12.983 torcedores por jogo em 2012. O Brasil fica atrás dos Estados Unidos, Japão, China e da 2ª divisão da Inglaterra e Alemanha. “Como economista, fico intrigado com a lógica por trás desta tendência, que dá as costas a uma análise mais profunda da estrutura socioeconômica do país e tenta impor um desejo imperativo de fechar contas que não são sustentáveis, contando com a ‘obrigação’ do torcedor em corresponder a esse desejo. É um desafio à lei da oferta e demanda, que fica evidente na relação direta entre o aumento de preços e a queda de público nos estádios ao longo dos últimos anos”, avalia, em nota, Fernando Ferreira, diretor da consultoria. Segundo ele, o ideal seria vender uma parcela de ingressos mais caros “para quem pode pagar” com ingressos a preços populares, para que o estádio encha e se tenham “ganhos de escala”.
Sandra Quintela, do PACS, critica o processo de exclusão dos torcedores mais pobres dos estádios, que segundo ela se expressa claramente no caso do Maracanã. “Um estádio em que cabiam 200 mil pessoas, hoje não cabem 70 mil e não enche mais, pelos valores absurdos cobrados por um ingresso para uma partida de futebol. Não dá mais para ir ao Maracanã no domingo pagando o equivalente a R$ 10. Esse é o símbolo maior desta elitização, que atinge algo que tem muito a ver com a cultura do brasileiro que é o futebol”, avalia.