Trabalho, educação e saúde. Estas são as principais temáticas sobre as quais a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), por meio de seus professores-pesquisadores e alunos, desenvolve pesquisas e trabalhos científicos. Mas a comemoração de 27 anos da escola, realizada no dia 17 de outubro, mostrou que nela cabem muitos outros temas e muitas outras pessoas. A escola nasceu no meio da reforma sanitária e é com esse viés, de assegurar e discutir a saúde pública de qualidade e ampla, que segue para mais outras décadas de comemoração. O diretor da EPSJV, Mauro Gomes, relembrou a história da escola, que iniciou as atividades com oito trabalhadores e hoje conta com mais de 300 profissionais. "É importante ressaltar que esse não é um crescimento apenas quantitativo, mas qualitativo. Nascemos na reforma sanitária e a nossa grande preocupação continua sendo levar à população brasileira o que ela merece. Estamos sempre em defesa dos direitos da população e das políticas públicas", ressaltou.
Com uma programação diversificada, o aniversário da escola iniciou com a mesa 'Privatizações e precarizações nas políticas sociais no Brasil contemporâneo', composta pela professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutora em educação, Eveline Algebaile; a professora da Faculdade de Serviço Social da Uerj e pós-doutora em Serviço Social, Maria Inês Bravo; e o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Uerj, Carlos Eduardo Martins.
Eveline abriu a mesa apresentando dois movimentos atuais na educação que denomina como 'contenção da expansão' e 'expansão degradada'. O primeiro , segundo ela, se define pela perda do que não existiu por completo, e o segundo, é o crescimento daquilo que não agrega, pelo menos, o mínimo necessário para uma educação de qualidade. "É difícil inventariar o que estamos perdendo na educação, uma vez que ainda não a atingimos a completude dela . Por outro lado, já se convencionou que o mínimo já não é mais necessário", explicou. Ela usou como exemplo desta segunda teoria a questão dos anexos, unidades escolares que não tinham sequer banheiro ou refeitório, mas constavam nas estatísticas como geração de mais vagas para alunos de determinadas regiões.
Maria Inês ressaltou que fenômeno parecido vem acontecendo na saúde. Segundo ela, o modelo de privatização passa por diversas políticas públicas. "Houve privilégio para desenvolver o setor privado nestes últimos tempos. O Estado financia, por exemplo, a construção de hospitais privados e depois ainda paga para que usuários utilizem os serviços deste setor", ressaltou. Ela relembrou de forma cronológica as transformações da área de saúde como a reforma sanitária nos anos 1980 e, mais atualmente, a partir da década de 1990, a reforma do Estado e das políticas de saúde que já apontavam o desfinanciamento e descentralização da saúde, dando origem, inclusive, aos novos modelos organizacionais como as Organizações Sociais (OSs) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips). "A reforma sanitária foi criada em articulação com os movimentos sociais, e a saúde não deve perder esta perspectiva. Hoje, o que vemos é a ruptura com a lógica da seguridade social e com uma inserção significativa de políticas compensatórias como, por exemplo, o Bolsa Família", analisou.
Já Carlos Eduardo Martins lembrou a questão da dívida externa crescente do Brasil e enfatizou que o país é um dos campeões do mundo em educação privada, além de questionar o modelo de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). "Atualmente, muitos pesquisadores já não se preocupam com a pesquisa e sim com o seu curriculum Lattes e a bolsa que podem ganhar. Muitos professores preferem orientar mestrandos e doutorandos a alunos da graduação e alegam que isso é produtividade. Dar prioridade para dois ou três estudantes no lugar de uma turma de 60 alunos é produtividade?", indaga.
Homenagem
Além da reflexão da primeira mesa, a emoção também fazia parte do evento. Em homenagem ao ex-diretor da escola e um dos fundadores da EPSJV, Antenor Amâncio Filho, que morreu em agosto deste ano, foi exibido um filme sobre a história profissional e características marcantes do 'sempre bem humorado' Antenor, como mostrou a maioria dos depoimentos de trabalhadores que conviveram com ele na escola. A família de Antenor também participou da homenagem prestada pela EPSJV.
Novos servidores e lançamentos editoriais
Durante a comemoração de aniversário da EPSJV, também foi realizada a recepção aos novos servidores da escola, que contou com a participação do presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha."Esta escola tem suas particularidades. Aqui temos um clima e uma visão que unem afeto a compromisso. A escola tem um papel especial porque lida com a vida e a educação. É importante que hoje temos a história e a renovação. Aos novos servidores apenas peço que pensem, se engajem e ajudem a construir este coletivo", comentou Gadelha.
O aniversário foi encerrado com uma apresentação musical dos alunos em comemoração também ao Dia do Professor (15 de outubro) e o lançamento dos livros ‘Iniciação Científica' na Educação Profissional em Saúde: articulando trabalho, ciência e cultura' (vol. 7), organizado por Andre Dantas e Marco Antonio Carvalho Santos; o Hipertexto do Dicionário da Educação do Campo, organizado por Roseli Caldart, Paulo Alentejano, Isabel Brasil e Gaudêncio Frigotto; e o relançamento do livro ‘Poetas de Manguinhos III' organizado por Antenor Amâncio Filho e Luiz Fernando Ferreira.