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Agroecologia em debate

Lançamento do filme ‘O veneno está na mesa 2’ e feira agroecológica marcam a comemoração da Semana do Meio Ambiente na Fiocruz
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 10/06/2014 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47

As possibilidades de produção de alimentos sem agredir o meio ambiente e sem o uso de agrotóxicos são o tema do novo filme de Silvio Tendler, ‘O veneno está na mesa 2’ , que foi lançado na quarta-feira, dia 4 de junho, na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). O evento fez parte das comemorações da Semana do Meio Ambiente, organizada pela EPSJV em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz) e o Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz (Asfoc-SN).



‘O veneno está na mesa 2’ mostra as alternativas agroecológicas ao uso de agrotóxicos no Brasil, que é o maior consumidor mundial desses produtos.  O novo filme amplia o debate iniciado com ‘O veneno está na mesa’ , lançado em 2011, sobre o modelo agrícola brasileiro. As duas produções tiveram o apoio e a consultoria técnica da EPSJV e fazem parte da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida . ‘O veneno está na mesa 2’ mostra as consequências do uso de agrotóxicos para a saúde pública e apresenta experiências agroecológicas desenvolvidas em diversas regiões do país, mostrando que é possível produzir alimentos saudáveis, respeitando a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. “Existem possibilidades de produzir alimentos sem agredir o meio ambiente. O filme mostra os impactos dos agrotóxicos na saúde pública e as alternativas que são construídas, mas esbarram no mundo do capital”, observou o membro do GT Agrotóxicos da Fiocruz, Luiz Claudio Meirelles, que participou da mesa-redonda ‘‘Impacto dos agrotóxicos, agricultura e produção de alimentos no Brasil’, realizada após a exibição do filme.



Flávia Londres, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que também participou do debate, ressaltou que a agroecologia é um modelo viável de produção no campo e que tem plenas condições de alimentar a população com alimentos saudáveis e de qualidade. “Não é verdade que precisamos produzir soja e milho em larga escala, que acabam indo alimentar o gado de outros países. Não nos alimentamos em larga escala, 70% do que comemos vem da agricultura familiar”, afirmou ela, que ainda fez um contraponto entre a agroecologia e o agronegócio: “A agroecologia tem um componente de territorialidade e resgate dos saberes tradicionais, enquanto o agronegócio tira tudo da terra e depois vai embora. A agroecologia promove um modo de vida digno, justo, com participação comunitária e a produção de alimentos saudáveis. O agronegócio impacta a população como um todo, com injustiças, mortes e contaminações, como diz Raquel Rigotto (pesquisadora da Fiocruz) no filme. O documentário também mostra que os dois modelos não podem conviver pacificamente porque um modelo inviabiliza o outro. A pulverização de agrotóxicos, ao lado de uma área de produção agroecológica, contamina a produção saudável, como mostram alguns exemplos do filme”.



Luiz Claudio lembrou ainda que o Brasil, além de ser o maior consumidor mundial de agrotóxicos, ainda permite o uso de muitas substâncias que já foram proibidas em outros países. “É nosso papel lutar e denunciar esse tipo de situação e cobrar dos órgãos públicos que cumpram seu papel”, disse ele, acrescentando que outro ponto a ser destacado no filme são os impactos das intoxicações agudas e crônicas causadas pelo uso de agrotóxicos e a falta de estrutura dos serviços de saúde para fazer o controle desses casos.



Os debatedores lembraram que uma conquista importante dos últimos anos para a agroecologia foi a aprovação da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, que foi construída com a participação de diversas organizações da sociedade civil. “Ainda tem problemas: a Reforma Agrária, por exemplo, não aparece na política, mas é um começo e uma conquista importante”, destacou Flávia.



Silvio Tendler, que também participou do debate, lembrou que o atual modelo agrícola brasileiro foi implantado pela ditadura empresarial-militar, a partir de 1964, quando o agronegócio, com a mecanização e a exploração da terra, foi substituindo a produção familiar. “Tá na hora de discutirmos que modelo de desenvolvimento econômico nós queremos. Saúde e alimentação atingem a todos. Tá na hora da gente saber em quem a gente vota”, disse Silvio, lembrando que neste ano teremos eleições no país. “Os três principais candidatos à presidência que estão colocados hoje defendem o modelo do agronegócio. Ainda não conseguimos furar a barreira que nos separa da política. Temos que construir outro projeto de desenvolvimento econômico, que respeite os saberes tradicionais”.



Divulgação



Silvio Tendler destacou que a divulgação também é importante para conscientizar a sociedade sobre as consequências do uso de agrotóxicos para a produção de alimentos. O cineasta lembrou que os dois filmes estão disponíveis gratuitamente na internet para que todos possam fazer cópias, distribuir e debater o assunto. ‘O veneno está na mesa’ teve mais de um milhão de espectadores somente na internet, além do público das diversas exibições pelo país. ‘O veneno está na mesa 2’, que está disponível na internet há cerca de um mês, tem alcançado uma média de 1.500 espectadores por dia. “É mais público que em qualquer documentário. Além de discutir o modelo de agricultura brasileiro, também queremos dar o exemplo da disseminação da informação. Como muitos filmes são feitos com recursos públicos, porque não distribuí-los para a população?”, disse Silvio.



‘O veneno está na mesa 2’ está sendo lançado em diversas cidades do país. Acompanhe a agenda na página do filme .



Feira agroecológica



 Além da exibição do filme, a programação da Semana do Meio Ambiente também contou com a Feira Agroecológica de Saberes e Sabores, que foi realizada no pátio da ENSP, nos dias 4 e 5 de junho, com a comercialização de alimentos saudáveis e produtos da roça e da agricultura urbana, além da troca de saberes sobre agricultura agroecológica e orgânica.



A feira teve a participação do Projeto Terrapia, da Associação Agroecológica de Teresópolis, de assentamentos da Reforma Agrária organizados pelo MST: Roseli Nunes (Piraí), Campo Alegre (Queimados) e Terra Prometida (Duque de Caxias) e de pequenos agricultores organizados do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que trouxeram produtos de diferentes regiões do estado do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

 

Também participaram o Naturalmente Orgânico, Agroprata e a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, que trouxe material de divulgação da campanha para a feira.