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Alunos da EPSJV produzem capas de jornais e revistas sobre morte de estudante

Morte de Marcus Vinicius da Silva foi tema de trabalho da oficina de leitura e produção textual
Portal EPSJV - EPSJV/Fiocruz | 16/08/2018 14h02 - Atualizado em 01/07/2022 09h44

No dia 20 de junho de 2018, enquanto os alunos do 1º ano do Ensino Médio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) estavam em sala de aula na oficina de leitura e produção textual, o estudante Marcus Vinicius da Silva, de 14 anos, foi morto atingido por uma bala, durante uma operação no Complexo da Maré, comunidade localizada nos arredores da Fiocruz, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, o assassinato do menino foi capa de apenas dois jornais: O Dia e Meia Hora. Indignados com a situação, os professores-pesquisadores da EPSJV, Carolina Dantas e Jonathan Moura, sugeriram que os alunos da Escola Politécnica recriassem capas de jornais ou revistas com a morte de Marcus Vinicius.

Antes de produzir as capas, os estudantes discutiram, além dos dois jornais, a capa de uma edição da revista norte-americana ‘Time’, que trazia o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a questão da separação de filhos de pais que atravessaram a fronteira ilegalmente. Em seguida, professores e alunos leram juntos a crônica ‘Morreu um estudante, e se fosse um filho seu?’, da escritora Ivone Maggie, cujo título faz uma analogia à frase que estampou os jornais quando o estudante Edson Luís foi morto em 1968 – “Mataram um estudante. Podia ser seu filho”.. “Por meio dos jornais e revistas, podemos debater diferentes temas, como a intervenção federal no Rio de Janeiro, a violência, a imigração e o que o silêncio significa no texto verbal e não verbal”, destaca Carolina, que questiona: “Por que essa frase na época mobilizou e despertou empatia da população e por que hoje cada vez mais ‘Marias Eduardas’ e ‘Vinícius’ estão morrendo e isso sequer vira notícia? Que contexto é esse que a gente vive de intervenção e violência que faz com que isso não tenha mais significado?”.

Para Jonathan, os temas trabalhados perpassam sempre a violência do Estado: “Tanto nos Estados Unidos quanto aqui no Brasil, o Estado tem essa característica de não ter preocupação com o outro, pessoas de camadas mais populares são silenciadas pelas armas, pela separação das famílias”.

Matheus Machado, aluno do 1º ano da habilitação de Biotecnologia, simulou a notícia como capa da revista ‘Veja’. Ele conta que usou as cores de fundo para mostrar esperança, o Cristo Redentor “sangrando” com a violência e o menino fugindo para a favela, tentando se proteger. “O trabalho de refazer as capas foi muito bom porque nos fez enxergar a realidade e aproximar da favela quem não tem essa vivência”, ressalta. Ana Carolina Coby, aluna do 1º ano de Análises Clínicas, criou uma capa de revista com um fundo na cor preta e uma bandeira hasteada com o uniforme escolar da rede pública. “O fundo preto representa o nosso luto pelos jovens pretos e pobres que morrem diariamente tão próximo de nós”, explica Ana Carolina.

“De um modo geral, percebemos nossos alunos com uma ideia muito crítica dos espaços que certos grupos sociais, classes e raças ocupam nos veículos da grande mídia. Acredito que os alunos conseguiram entender, nessas capas, o silêncio que encobre a morte da população preta, favelada e pobre pelo Estado”, afirma Carolina.