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A Arte no currículo da EPSJV

Implantada em 1988, a educação artística proporciona novos olhares aos alunos da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), contribuindo para a promoção da expressão e da reflexão sobre os vários conhecimentos
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 02/08/2019 11h18 - Atualizado em 01/07/2022 09h43

Em 2016, a aprovação da lei 13.278 fez com que as práticas de teatro, artes visuais e dança fossem incorporadas ao currículo do ensino básico brasileiro. Mas antes mesmo de a legislação existir, em 1988, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) implementou o ensino de música e artes cênicas em seu currículo. Dois anos depois, as artes plásticas e visuais se juntaram ao time da Educação Artística. E, mais recentemente, em 2008, o audiovisual também foi formalizado como disciplina.

A presença desse campo nos currículos escolares se justifica pela necessidade de proporcionar  novos olhares aos jovens. É o que revela a professora-pesquisadora da EPSJV e responsável pela disciplina de música na instituição, Jeanine Bogaerts. “É trazer a Arte não somente como entretenimento, mas também como área de conhecimento. Além disso, é oferecer aos alunos mais um canal de expressão e de reflexão, onde eles podem demonstrar o que sentem, o que veem, o que incomoda e o que alegra. É na escola pública que você democratiza o acesso aos conhecimentos. E por que não trazer o conhecimento sobre a Arte?”, questiona, ressaltando que essa inserção leva também os alunos do ensino médio a pensarem na Arte como uma possibilidade de profissão.

Segundo a professora-pesquisadora Helena Vieira, que dá as aulas de artes cênicas, a formação segue a ideia de “fazer, observar e apreciar”, uma metodologia intitulada ‘abordagem triangular’, formulada pela educadora brasileira Ana Mae Barbosa. A intenção é melhorar o ensino de Arte, promovendo o fazer artístico, a leitura ou a análise de obras de arte junto com o desenvolvimento crítico, reflexivo e dialógico do estudante em uma dinâmica que leva em consideração o contexto sociocultural. “Quanto mais os educandos frequentarem espaços culturais, melhor. É repositório para a aula, para a vida”, garante Helena.A professora-pesquisadora de artes plásticas e visuais, Verônica Soares, completa: “É a concretização de um direito: entrar em contato com aquilo que, antes, eles se sentiam excluídos. A maioria dos alunos de escola pública não se sentiam no direito de entrar nesses espaços. Hoje isso está mudando”.

A ideia de apreciar e frequentar espaços artísticos é comum a essas disciplinas. Durante os três anos, os estudantes têm a oportunidade de conhecer ou revisitar museus, teatros e cinemas.

Assim que entram na instituição, no primeiro ano do ensino médio, os alunos passam por um “rodízio” das quatro disciplinas de educação artística, tendo aulas uma vez na semana durante um bimestre com cada uma delas. Já no segundo ano, quando os estudantes já têm uma maior noção do aprendizado, eles optam pela disciplina  da sua preferência e a cursam até o fim do terceiro ano do ensino médio.

Também de forma integrada, todos os conhecimentos adquiridos nas disciplinas culminam em eventos realizados ao longo do ano, como a ‘Mostra Audiovisual’, o ‘Arte e Saúde’ e o ‘Som e Cena’. Neste último que, em 2019 foi realizado em julho, os alunos apresentaram cenas de peças, inspiradas no dramaturgo alemão Bertold Brecht, e cantaram diversas canções com instrumentos musicais tocados por eles mesmos. O evento também contou com a participação dos alunos de teatro do Colégio Pedro II.

Educação Artística

A disciplina de artes cênicas explora, através de exercícios em aula, a união do gesto, do ritmo e sua expressão plástica com situações do dia-a-dia, fazendo com que o aluno  desenvolva a forma artística em diálogo com sua memória afetiva. O segundo ano é dedicado ao estudo de autores teatrais e historiadores, a leituras dramatizadas e à discussão de formas para a construção de uma peça teatral. Ao final, os próprios alunos elaboram um texto teatral e apresentam.

Em relação à música, de acordo com o Projeto Político Pedagógico da EPSJV/Fiocruz, é desenvolvendo essas atividades na escola que “o aluno amplia sua compreensão de si mesmo e da totalidade social, num processo capaz de contribuir na construção de sujeitos mais livres e mais conscientes, de cidadãos solidários e participativos”. Pensando nisso, no primeiro ano da disciplina, os alunos aprendem noções de parâmetros do som – altura, timbre, duração, intensidade; os elementos básicos da música, como ritmo, melodia e harmonia, e ainda as práticas musicais e a análise de canções e obras instrumentais. No segundo ano, aprendem a tocar flauta doce e refletem sobre música e sociedade e elementos de notação musical, além dos processos de criação de melodias e canções. Também analisam  canções e obras instrumentais.  No terceiro e último ano, eles discutem temas como música e história, processos de criação de melodias e arranjos simples, e analisam obras musicais de diferentes períodos. “Mais do que qualquer teoria, o que eu tento privilegiar nas aulas de música é 'fazer música'. As reflexões partem sempre do fazer musical, que vem a partir de questões e demandas dos próprios alunos”, resume Jeanine.

Nas aulas de artes plásticas e visuais, os alunos trabalham com leitura de imagens, quadros, fotografias, cartazes e telas de artistas de várias épocas. “Estamos em um mundo ligado à questão da imagem. É importante conhecer e discutir esses elementos”, afirma Verônica. A professora relembra que o ‘fazer’ também é muito presente nos encontros, mas que depende da demanda dos alunos. “Já realizamos trabalhos com xilogravura, cerâmica... Mas hoje os alunos não têm mais tanta paciência para tanto tempo de elaboração. Eles querem um resultado mais imediato. Em um desenho, eles querem representar a realidade. Desconstruir uma cópia do fiel é difícil e a gente trabalha isso junto nessas aulas”.

Audiovisual também é uma opção

No primeiro ano de curso do ensino médio, nas aulas de audiovisual, é realizado um cineclube, batizado de Cinenuted. Com o objetivo principal de criar um “estranhamento” nos alunos, são escolhidos filmes produzidos numa linguagem cinematográfica diferente da usada nos chamados blockbusters, produtos com grande apelo comercial. Após cada exibição, acontece um debate que busca destacar aspectos importantes da produção cinematográfica.

O segundo ano da disciplina é organizado em três módulos que visam discutir sobre “realidade” e “imaginário e sociedade”. O módulo introdutório é composto de elementos que possibilitam ao aluno a primeira experiência com a linguagem cinematográfica. São abordadas a fotografia, a história do cinema, a análise fílmica e elementos técnicos. No segundo, são discutidos elementos da linguagem cinematográfica e suas relações com a construção da realidade fílmica, tais como roteiro, som, luz e montagem. Para cada um desses elementos, as aulas abordam tanto a história, como o uso e a técnica. No terceiro módulo, são apresentadas as diferentes visões de como é feito o cinema no Brasil e no mundo.

O terceiro ano da disciplina é divido em dois módulos: “imaginário e sociedade II” e “produção audiovisual”. No primeiro, é discutido o papel e as formas com que as imagens são usadas nas relações sociais, o uso das novas mídias na produção audiovisual e a diferença entre a mera reprodução e a criação artística, além de exemplos de produção contemporânea do cinema mundial. Já no segundo, os estudantes produzem um curta metragem.